Na linha de frente contra a Covid-19: Marcos Scarselli

O martinopolense trabalha no pronto-socorro e na UTI do Hospital Samaritano, em São Paulo; ele teme a incerteza em relação à evolução da doença e se entristece com o sofrimento das famílias dos pacientes

REGIÃO - THIAGO MORELLO

Data 26/05/2020
Horário 09:15
Cedida - O martinopolense Marcos trabalha no Hospital Samaritano
Cedida - O martinopolense Marcos trabalha no Hospital Samaritano

“Você vê que a pessoa não consegue respirar, não consegue falar direito. E por menos ela pode ser entubada e não voltar mais”. É com essas palavras que o martinopolense Marcos Scarselli, enfermeiro, tenta descrever um pouco da realidade vivida por ele, em meio à pandemia do novo coronavírus. Na linha de frente de combate à doença, ele é mais um dos profissionais da região de Presidente Prudente, mas que hoje atua no local que é o pico da enfermidade no Brasil: a capital paulista. Mais especificamente, o Hospital Samaritano. E nessa luta contra a Covid-19, o que ele mais teme? O futuro.

“Medo por ver que é uma coisa que está ganhando uma repercussão muito grande. Eu não tenho medo por mim. Mas é assustador ver o que acontece no mundo. A incerteza. Já vi muita coisa boa, a melhora de pacientes, mas coisa feia também. A gente [para estar nesse ramo] aprende a lidar com a morte e com as coisas muito difíceis”, desabafa Marcos.

Mas onde trabalha, por ser a rede particular, ele vê que a situação “ainda está tranquila”, se comparada ao SUS (Sistema Único de Saúde). Sendo assim, recebe todos os equipamentos necessários para trabalhar, os EPIs (equipamentos de proteção individual), como máscaras, luvas, gorros, capacete. “Machuca muito ficar com isso o dia todo, mas é necessário”, completa. Portanto, a possível escassez dos equipamentos ainda não é uma realidade para ele.

ATUA NA UTI E

PRONTO-SOCORRO

Marcos atua no pronto-socorro, mas ajuda também na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), em vista de que “a maioria dos funcionários está afastada”. E essa é a preocupação número um. E lá, ele pôde lidar com diversas situações, principalmente as tristes. “O pessoal chega entubado. É muita gente morrendo. Recentemente, por exemplo, o paciente chegou e em 30 minutos evoluiu para a entubação e logo em seguida morreu”, detalha o enfermeiro. E essa é a preocupação número dois: a vida.

E ele não deixa de dizer que ver o sofrimento da família de perto, porque não pode ter mais contato com o ente querido, é muito triste e complicado. “Uma coisa desumana. Mas, infelizmente, é isso que ocorre”, lamenta.

Para as próximas semanas, ele não se anima em dizer o que espera: “é difícil falar”. Principalmente porque, segundo ele, muitos não estão respeitando o isolamento social. “Agora está chegando na classe C [o vírus]. Isso é um pouco complicado, porque se saturarem os hospitais, aí a bomba vai estourar”, analisa.

Marcos não esquece de compartilhar que está se cuidando, dentro e fora do hospital, mas já viu amigos que surtaram, que se afastaram, porque não têm preparo psicológico para lidar com isso. “Não está fácil. Estamos todos cansados. Porém, vamos levando. Temos que fazer a nossa parte. Todo temos”, completa

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