Estava em São Paulo com o amigo Demétrio Zacharias. Vem comigo, que você vai gostar da surpresa, me disse Demétrio. Fiquei curioso com esse convite. Chegamos ao Shopping Eldorado e fomos à Academia Fórmula, dentro do próprio shopping. Demétrio foi me mostrando a academia. Fiquei impressionado pela estrutura operacional e a diversidade de opções de modalidades que oferecia.
Sem falar nada, entrou numa sala e me disse: Está aí a surpresa que lhe falei. Que magnífica surpresa, estava diante do maior pugilista brasileiro da história e um dos maiores do mundo, o fenômeno chamado Eder Jofre, o Galo de Ouro. Demétrio me apresentou e pra variar quando se está perto de um grande ídolo, a timidez te engole sem mastigar. Eder gentilmente me cumprimentou e o Demétrio foi fazer a sua aula. Eder Jofre dava aula de boxe nessa academia e para minha sorte estava no intervalo.
Começamos a conversar e ele respondia as perguntas de um apaixonado fã. Nunca quis ser um boxeador, queria ser um jogador de futebol, mas a tradição familiar bateu mais forte e seu pai, o veterano boxeador argentino, José Aristides Jofre, insistiu, pois viu no filho um talento raro para lutar a nobre arte. Eu estava exageradamente curioso, feliz da vida e não queria perder um segundo do tempo que tinha com essa lenda do boxe. Vi um homem muito humilde, simples e atencioso.
Perguntei a ele como ele aguentou a luta mais difícil da sua carreira contra o mexicano Joe Medel. Parecia que ele tinha voltado no tempo e começou a me contar: Olha Persio, Joe Medel era um lutador mais experiente do que eu, osso duro de roer, tinha que vencê-lo para disputar o título mundial contra Eloy Sanches. Comecei bem a luta, mas no sexto assalto tomei um liver blow (espécie de gancho curto, direto no fígado), que quase desmaiei de dor. É um golpe terrível. Consegui aguentar até o sétimo assalto, mas no oitavo estava grogue, não estava aguentando mais com o nariz quebrado. Não fui à lona por incentivo do meu pai.
O que te motivou? Pensava em tudo que eu e meu pai passamos, pensava no povo brasileiro, não podia desistir. Eu ali escutando um relato histórico de uma lenda do boxe. O que você fez Eder para sair dessa situação? Eu estava sem ar, sem pernas, sem equilíbrio, só me restava a garra para superar e os incentivos do meu pai: Ele está mais cansado do que você, vamos só falta um golpe. E no décimo assalto respirei fundo e acertei um potente direto no queixo, ele beijou a lona por alguns segundos e acabei vencendo a luta mais dura e difícil que tive.
Eder Jofre nasceu para ser campeão, aguentava os duros golpes, era agressivo, batia forte tanto de esquerda como de direita e tinha muita raça, técnica e uma capacidade de superação própria dos grandes campeões. Os alunos começam a chegar e aqueles minutos para mim foram uma dádiva. Na hora de me despedir fiz uma referência me curvando a esse pequeno grande brasileiro que durante sua brilhante carreira fez o Brasil se sentir um Galo de Ouro.