Fazendo parte de uma jornada recentemente de psicossomática, surpreendi-me. Nós, psicanalistas, vivemos intensamente em nossos atendimentos no consultório, as consequências de falhas básicas, durante as fases referentes ao pré-natal, durante e principalmente pós-natal. São falhas da ordem do sensorial. É muito importante conhecer as formas, suficientemente boas, em como recepcionar e acolher o bebê durante a cesura do nascimento para que o desenvolvimento biopsicossocial seja satisfatório.
O acolhimento, cuidado ambiental, afetivo e psicológico, atendimento ao impulso de conservação da vida irão refletir nos embalos de toda uma vida. Falhas da ordem do sensorial estão relativamente imbricadas, com as doenças psicossomáticas. E o comprometimento psicossomático está atualmente sendo constatado em diversidades de formatos. Uma verdadeira quebra de paradigmas.
Vejam vocês que, a forma de embalar o bebê, ou seja, balançá-lo ao colo, necessita ser vivida com muita entrega afetiva pela mãe. Um ato muito simples, porém, fundamental com relação ao ritmo que estabelece sensorialmente. E não deve se tornar mecânico e vazio. Às vezes, vem com um cantar ou um murmúrio da mãe e é de extrema importância. O murmúrio acompanhado de uma cantiga gera ruídos fascinantes em direção à continuidade do ser. E o mais fundamental é a sensação imaginária, de extensão sensorial do útero.
O tempo e o espaço “perdido” pós-parto é uma sensação da ordem do terror, psicologicamente falando. É necessário um cuidado microscópico. Observamos de forma clara, no atendimento psicanalítico, essas falhas da ordem do sensorial. Há adultos que, de forma imperceptível, repetem a falha básica constantemente em seu dia a dia.
E hoje observamos comportamentos autocalmantes, como por exemplo, compulsão pela modalidade de remar. O bebê não encontra acolhimento, aconchego, um pegar seguro do colo, um embalar rítmico, rotinas básicas e o resultado é a desintegração psíquica e medo do colapso. O ato de amamentar, seja pelo seio ou mamadeira, deve ser um momento muito especial. A entrega emocional da mãe é fundamental. O desmame também deve ser muito bem planejado. Observamos um movimento em direção ao mecanicismo, ao operativo e até mesmo características autísticas ou certa alexitimia em mães.
O despreparo e a pressa em livrar-se das tarefas diárias são constantes. O bebê sente. Quanto mais precoce for o comprometimento psíquico, menor a chance de integração psíquica ou mental. Nossa tarefa primordial é tentar encontrar as origens traumáticas, e em que fase da psicossexualidade encontra-se o ponto de fixação e, muitas vezes, foram ocasionadas pela precariedade relativa ao bebê recém-nascido.