Psicose na adolescência

Observamos certa frequência de suicídios em adolescentes. De fato, adolescer significa mudanças e transformações repentinas, onde leva a família às muitas preocupações e sensações de um profundo desconhecimento em direção às atitudes e tomadas de decisões. Até então, a fase de latência, onde os impulsos sexuais e agressivos encontravam-se, como no conto de fadas, adormecidos, a adolescência surge, despertando desse sonho. Inicia um processo de desestabilização no ambiente familiar, meio social, no biológico, psicológico, etc.. Levando o adolescente ao isolamento social, mudanças de hábitos, reações escabrosas, recusas pela mesmice e fuga da realidade. 
E os pais desesperam-se, perdendo a bússola e permanecendo desnorteados. O sofrimento do adolescente realmente é avassalador. Parece-me adequado dizer algumas palavras sobre a psicose na adolescência. Nessa fase, por existirem ao mesmo tempo tantas exigências de um superego cruel, alguns passam a ter um funcionamento psicótico. Nesse período da vida, a ansiedade exacerbada, que é despertada pelo aumento dos impulsos sexuais e agressivos, pode por vezes, levar a um colapso no processo de desenvolvimento. 
Todas as sensações e percepções internalizadas severas, difíceis ou traumáticas, experienciadas na infância, que não foram suficientemente modificadas ou significadas, ao ocorrer o aumento da intensidade da atividade pulsional, tanto os impulsos sexuais quanto os agressivos poderão adquirir mais força, levando a um sentimento persecutório e a uma ameaça à integração do ego, que podem resultar em comportamentos de autoagressão e ao risco de suicídio. 
O funcionamento psicótico é a ruptura com a realidade sofrida por esses adolescentes. Há um colapso muito conectado com o ódio à realidade de seu corpo, à realidade de mudanças. É muito importante entender esse momento que o adolescente vive, para poder diferenciar de uma psicose crônica adulta. O mais difícil é quando são rotulados como esquizofrênicos, por exemplo. Na experiência no atendimento aos adolescentes, observei como é crucial fornecer tratamento psicanalítico nesse momento, antes que o processo psicótico se consolide e/ou o adolescente perca a esperança e se mate. 
Os delírios, muitas vezes, são essencialmente, consequência do ódio à realidade e uma construção onipotente idealizada para proteger o ego de uma ansiedade persecutória derivada de um superego destrutivo (Catalina Bronstein, psicanalista, Londres). Precisamos acolher e saber como reconhecer esse momento tão importante do adolescente, dar abrigo à sua dor, espaço para suas expressões emocionais. Cuidar da criança que existe internamente no adolescente, que ainda pugna pela existência, autoconhecimento e referências identitárias. O adolescente necessita de integração ao período em que viveu o colapso em sua fase mais rudimentar.
 

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