Se um dia você for embora

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 27/03/2022
Horário 05:00

A vida de professor não é nada fácil. Somos educadores, e faz parte da nossa prática refletir sobre sonhos coletivos, aspirações juvenis. Nossa atuação como professores não exige apenas o domínio conceitual, mas também o nosso posicionamento crítico diante de muitas inquietações que acompanham a vida dos nossos jovens alunos.
Eu não tenho dúvidas de que o direito à educação não passa apenas pela universalização do acesso à escola, mas também pela mudança na relação com o conhecimento. A ideia de que os estudantes devam ser protagonistas de sua própria trajetória escolar abre novas perspectivas que transcendem o ambiente escolar. Afinal, o protagonismo pode e deve se materializar na integração entre a escola e a comunidade, por exemplo, com a transformação da escola em espaços públicos de debate. Não apenas nossos jovens, mas o conjunto da sociedade brasileira tem muito a ganhar se as culturas do debate, da defesa de uma posição mediante argumentos e do respeito às posições contrárias fizerem parte de uma formação escolar aberta à comunidade, de forma que famílias, líderes comunitários e representantes do poder público nos auxiliem na construção dessa pluralidade.
Infelizmente, a interrupção abrupta das aulas presenciais lá no começo do ano letivo de 2020 provocou um impacto irreversível. Sim, havíamos apenas começado a primeira semana, quando tudo teve de ser fechado às pressas. E os dois anos que se passaram no completo isolamento social deixaram marcas profundas, cicatrizes. 
Particularmente, eu penso naqueles universitários que são os primeiros da família e de sua comunidade a cursarem o ensino superior. Isso representa uma conquista muito grande porque é um exemplo de superação, é um exemplo dedicação, é uma conquista que pode representar um ganho social muito grande. Mas eles tiveram que regressar para suas comunidades distantes e tiveram que retomar a luta pela sobrevivência. Outras prioridades emergentes foram surgindo e tiveram que abandonar o sonho de se desenvolver, se fortalecer e ocupar todos os cantos do nosso país com criatividade, com novas ideias, com senso crítico, com a força e energia necessária para as mudanças que o Brasil tanto necessita. 
Eu torço muito por vocês e prometo ficar aqui na escola esperando nos reencontrar novamente. E “se um dia você for embora, não pense em mim que eu não te quero meu... eu te quero seu. Se um dia você for embora, vá lentamente como a noite. Que amanhece sem que a gente saiba exatamente como aconteceu” (Milton Nascimento).
 

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