Sempre reformando

OPINIÃO - Durval Neto

Data 26/10/2021
Horário 05:00

O início do século XVI foi marcado por um movimento que mudaria o rumo da história: a Reforma Protestante. Este não foi apenas um movimento religioso, foi também um movimento político e social.
Ainda que lembrada pelo dia 31 de outubro, quando Martinho Lutero convidou religiosos ao debate teológico, a Reforma só foi possível devido ao apoio dos príncipes e à invenção da imprensa de Gutenberg.
Os príncipes confiscaram as terras da igreja, diminuindo seu poder, até que igreja e Estado ficassem totalmente separados, como deve ser. Este marco político não pode ser esquecido.
Com o surgimento da imprensa, abundante literatura pôde ser impressa e distribuída na língua do povo. Lembrando que, até então, o latim era a língua da erudição no mundo. Conteúdo relevante, inteligível, promove crescimento e libertação intelectual. Esta continua sendo a missão da imprensa. Este marco social também não pode ser esquecido.
Um dos vários lemas da Reforma é a continuidade do processo de crescimento e transformação da sociedade através do serviço cristão: Igreja Reformada Sempre Reformando.
Por que reafirmar a Reforma atualmente? Porque o que já está reformado é identidade. Por que continuar reformando? Porque o que precisa ser reformado interfere no âmbito da relevância.
O filósofo e prosador grego Plutarco (Academia de Platão), contemporâneo do apóstolo Paulo, usava uma parábola interessante ao ensinar sobre identidade e relevância: O Navio de Theseus.
O Navio de Theseus era um navio de guerra da esquadra ateniense, dos de 30 remos, que voltara intacto de inúmeras batalhas no Mar Egeu. Foi mantido no cais para servir de inspiração aos marinheiros que embarcassem para a guerra. Um símbolo.
Com o passar do tempo, a maresia e a ação do clima apodreceram seu madeiramento e remos, que foram trocados por novos. E assim durante vários ciclos.
Alguns filósofos que passavam pelo cais e admiravam o lendário Navio de Theseus afirmavam: é o mesmo navio. Outros, devido às constantes reformas, diziam: já é outro navio.
Plutarco reflete que, de fato, as constantes reformas atualizaram o navio para que não perdesse sua relevância, mas suas vitórias o haviam conferido uma identidade que jamais seria esquecida.
Um olhar crítico do cristianismo nas sociedades ocidentais mostrará dois extremos destruidores da relevância.
Na Europa, as igrejas cristãs reformadas estão quase desaparecendo.
Não sem razão as taxas de suicídio no velho continente são estarrecedoras. A última pesquisa realizada pela OMS (Organização Mundial da Saúde), em 2015, mostrou que na Europa essa taxa foi de 14,1 por 100 mil habitantes, enquanto no mediterrâneo, por exemplo, foi de 3,8 por 100 mil.
A fé não pode ser abandonada, com prejuízos incalculáveis à própria vida em sociedade.
Por outro lado, a politização da fé tem sido uma marca do cristianismo em algumas sociedades americanas, como é o caso do Brasil.
A propaganda tem levado grandes multidões a procurarem igrejas evangélicas, porém não com a aspiração de servir, mas de aderir a um projeto de poder.
Assim, arrisca-se a fé cristã a deixar de ser uma fé transformadora, porém com igrejas abarrotadas ao invés de esvaziadas, como na Europa.
Reformar-se sempre para continuar trazendo transformação à sociedade, sem esquecer-se de sua identidade. O desafio está lançado!
 

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