Segundo reportagem da Folha de São Paulo, publicada no início do mês, o Ministério da Saúde tem recebido alertas de baixo estoque de dipirona injetável em municípios e unidades hospitalares por parte do Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde) e por entidades médicas. De acordo com a matéria, a indústria farmacêutica está desistindo de produzir o remédio em decorrência da alta dos insumos. Mediante a crise de abastecimento do medicamento à nível nacional, a reportagem de O Imparcial consultou as unidades médicas em Presidente Prudente para saber como estão os estoques de dipirona injetável no município.
Por meio de nota, a prefeitura de Prudente indicou que a reserva do medicamento é suficiente para abastecer a rede municipal de saúde por pelo menos cinco meses. “Considerando os dados históricos de consumo deste medicamento no município, [o estoque de dipirona injetável] é suficiente para abastecer a rede por pelo menos cinco meses, o que é considerado um estoque satisfatório, mesmo com a crise no fornecimento que afeta todo o país”.
Já a Secretaria Estadual de Saúde informou ao O Imparcial que “o HRPP (Hospital Regional de Presidente Prudente) está com o estoque baixo, mas mantém a assistência e medicação adequada aos pacientes”. A pasta estadual ainda indica que a responsabilidade de aquisição do remédio parte do município. Por sua vez, a Prefeitura, por meio da Secom, reforçou que a “administração municipal não tem qualquer responsabilidade no fornecimento de medicamentos para o Hospital Regional, visto que o HR é administrado pelo Estado. O nosso estoque é destinado para rede municipal de saúde, que compreende as UBS [Unidades Básicas de Saúde], as unidades de ESF [Estratégia Saúde da Família] e as UPAs [Unidades de Pronto Atendimento]”.
A Santa Casa de Misericórdia pontuou que enfrentou a falta de dipirona injetável por cerca de dois meses, fato esse que gerou um grande transtorno para os pacientes que necessitavam de analgésico e antitérmico injetáveis conforme indica o hospital. “Neste caso, os médicos precisaram prescrever a opção via oral, ou outras alternativas que poderiam muitas vezes causar mais reações adversas”. A instituição relata que o estoque do medicamento foi reabastecido e não há previsão de falta em um futuro próximo.
Ao longo da semana, a reportagem de O Imparcial questionou o Ministério da Saúde sobre os motivos a que se devem a falta deste medicamento no país e, também, como a pasta atua para contornar o problema, no entanto, até o fechamento desta matéria não obteve resposta da pasta.
Riscos do desabastecimento
A presidente do Departamento de Farmácia da AMIB (Associação de Medicina Intensiva Brasileira), Erika Michelle do Nascimento Facundes, relatou a esta tribuna quais são os riscos do desabastecimento da dipirona injetável nos hospitais.
Primeiro, Erika pontua que a dipirona injetável é um medicamento analgésico e antipirético amplamente utilizado na assistência hospitalar brasileira. “Isso se deve a potência farmacológica no controle da dor e da febre, junto a expertise dos profissionais de saúde em sua utilização, e ao baixo custo do produto em detrimento de outros medicamentos para mesma finalidade”, relata a profissional, “na unidade hospitalar, a dipirona injetável é principalmente utilizada em quadros clínicos de febres elevadas de difícil controle e dor aguda, de leve a moderada, além de auxiliar no controle da dor de alta intensidade, em associação a outros analgésicos [como os opióides], possibilitando o uso de doses menores de medicamentos potencialmente perigosos”, explica.
“Considerando as proporções continentais de nosso país e as desigualdades sociais e econômicas inter e intrarregionais, que também se refletem nas instituições de saúde públicas e privadas, os riscos com o desabastecimento da dipirona serão percebidos com intensidades diferentes”, revela a presidente do Departamento de Farmácia da AMIB.
Em linhas gerais, Erika relata que os riscos envolvidos serão a dificuldade no manejo de sinais e sintomas importantes do paciente, como dor e febre. “Será necessário a utilização de outros medicamentos com propriedades analgésicas e/ou antitérmicas, como os anti-inflamatórios não esteroidais (AINES), analgésicos opioides e benzodiazepínicos”, elucida. “Além da variabilidade de efeito desses medicamentos sobre o controle álgico e febril em comparação com a dipirona, não sabemos se o aumento da demanda desses medicamentos conseguirá ser suprida pelos seus fornecedores nem o impacto econômico para as instituições de saúde, pois estamos falando de um medicamento de baixo custo e larga utilização, ou seja, milhares de dose utilizadas mensalmente por serviços hospitalares que somam mais de 6.500 unidades por todo o país”, realça a farmacêutica.
Questão de segurança
A presidente do Departamento de Farmácia da AMIB também enfatiza que outro ponto extremante relevante: a questão da segurança do uso desses medicamentos substitutos. “Estamos falando de medicamentos que a equipe de assistência [médico, enfermagem e farmacêutico], pode ter dificuldades em sua utilização por não ter prática de manejar a febre e a dor com esses fármacos”, indica Erika. Segundo a profissional, é preciso realçar que alguns desses medicamentos são considerados potencialmente perigosos, ou seja, estão frequentemente envolvidos em eventos adversos dentro do serviço de saúde. “Esses eventos podem levar a danos graves aos pacientes, tais como, depressão respiratória, depressão do sistema nervoso central e hipotensão severa, impactando em prolongação da permanência desses pacientes no hospital, necessidade do uso de antídotos, leito de UTI e até mesmo o óbito”.