Qual é o tempo que o tempo tem ou precisa, para com o tempo poder executar, fazer, ser, conectar, ligar, expressar, amar, finalizar, ou começar? Cada um tem o seu tempo. Hoje temos pressa. Só ouvimos: “não tenho tempo”.
Quando o bebê é concebido, demanda de tempo para o seu desenvolvimento e evolução biopsicossocial, um tempo intrauterino de nove meses para a sua maturação. Se passar, haverá complicações, poderá ser fatal. Se for prematuro, demandará cuidados que só o tempo poderá reparar. Quando o bebê nasce, nasce com o seu tempo. Sua mãe está em outro.
Para o bebê ser fusionado à mãe e a mãe ser fusionada ao bebê, seus tempos devem ocupar um espaço onde os tempos se encontram em equilíbrio. Esse tempo deve ser uma coisa só, sem diferenciação. Muitas vezes, atropelamos o tempo quando idealizamos demais, assim não respeitamos nosso tempo, tampouco o tempo do outro. Idealizamos nos nossos filhos, quando ainda são pequenos e não respeitamos o seu tempo para brincar, seu tempo lúdico. A criança fica sobrecarregada. Os pais temem estarem perdendo tempo com o filho que está brincando.
E assim sendo, ninguém vive a experiência ou permanece na vivência de cada fase. Só aprendemos com a experiência. Pais precisam harmonizar o seu tempo com o tempo dos filhos na infância. Muitas vezes eles cobram que seus filhos cresçam rápido e comportam-se o tempo todo com se fossem um estranho a si mesmo, não tendo expressões instantâneas e naturais.
Na adolescência, isso também acontece. Os tempos não se encontram. Há a falta de tempo, tempo de sobra, tempo sombrio, tempo frenético, epistêmico e psicótico. Os pais piram no tempo. Para os pais, os adolescentes demoram demais para crescerem, tornarem-se adultos, e o tempo não passa. Para os adolescentes, o tempo voa. Eles não têm pressa. Desencontro do tempo. Os tempos dos pais são um, o tempo dos filhos são outros.
O envelhecimento também é uma etapa de vida onde há uma incoerência e dissociação no encontro do tempo entre os pais e os filhos mais jovens. O tempo do idoso é um, apesar de toda a mudança demandada pela contemporaneidade, ele tira o pé do acelerador e o filho adulto encontra desenfreado. Que bom seria se em todos os encontros, independente de qual seja a relação, houvesse um respeito e dignidade ao tempo psíquico, biológico e social de cada um.