Viva o papi!

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 09/08/2020
Horário 05:09

Lutei para não escrever sobre o assunto do dia: os pais. Eu perdi o meu pai há pouco mais de um mês para um terrível câncer. Fiquei apreensivo de como tratar do tema sem, naturalmente, me emocionar. Daí eu percebi que carrego dentro de mim uma voz paterna forte, que balbucia nos meus ouvidos o dever de ser prático e direto. Revolvendo a minha caixa de memórias, percebi que meu pai nunca me escreveu uma carta. Eu não tenho nenhum escrito dele. Mas isso não quer dizer que não cultivássemos cumplicidades e que ele não tenha me deixado marcas profundas. A principal delas foi a perseverança de olhar sempre lá na frente para não sermos pegos de surpresa. Que baiano teimoso... ele nunca deixou baixar a guarda e aproveitou a vida até o último suspiro!    
Perceber a presença do meu velho no dia de hoje me deixou sereno e possibilitou eu olhar para a minha condição de pai desde quando jovem. Paulinha me fez pai quando eu ainda era estudante. Eu tinha infinitos planos juvenis, muitos deles deixados de lado para assumir as responsabilidades paternas de proteger e enfrentar obstáculos. Júlia chegou fazendo bagunça, mas reforçou o ensinar e o aprender. E, cada uma à sua maneira, me fez lembrar que pai é o que dá a origem, de onde se descende o projeto do qual pouco a pouco não se tem mais controle. Pai é quem gera, mas deixa partir, delicadamente, sem fazer alarde e nem dizer adeus. 
Muitas mães ao lerem esse texto devem reivindicar que elas são pai e mãe ao mesmo tempo. Não há dúvidas quanto a isso. Mas essa questão de gênero não tira o valor simbólico que gira ao redor da figura do pai. Palavras muito próximas, nas mais diversas culturas: Bàba (mandarim), Baba (iorubá), Papà (italiano), e muitas outras, sempre numa posição masculina de destaque, aliás, utilizada na definição do dia da comemoração. 
Em países de tradição católica acentuada -  como Portugal, Espanha e Itália, a data comemorativa é 19 de março, Dia de São José (pai de Jesus). Mas em países como a Rússia, a comemoração ocorre na mesma data na qual as Forças Armadas homenageiam o defensor da pátria, 23 de fevereiro. Interessante situação porque exibe relação etimológica entre as duas palavras - pai e pátria, ambas relacionadas com o radical latino “pater”. De acordo com Houaiss, os percursos através dos quais essas palavras foram transmitidas é que são diferentes: “pátria chegou por via erudita, enquanto pai evoluiu por via popular”. Desde que seja quem ama, não importa o caminho: “pátria, mátria, frátria”... viva o papi!
 

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