Exterior

Iranianos acusam polícia de usar munição letal contra atos

  • 13/01/2020 21:55
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Manifestantes que foram às ruas pelo terceiro dia consecutivo no Irã nesta segunda-feira (13) acusam a polícia de usar munição letal para dispersar os grupos. Os protestos criticam o governo desde a admissão de culpa pela derrubada, por engano, de um avião comercial ucraniano com 176 pessoas a bordo, e pedem a renúncia do líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei. Vídeos supostamente gravados no fim de semana e divulgados nas redes sociais mostram feridos sendo carregados e poças de sangue. É possível ouvir o som de tiros. A agência Reuters não conseguiu verificar a autenticidade dos vídeos, e é difícil obter uma imagem completa dos protestos por causa de restrições impostas pelo regime à mídia independente. Há também imagens que registram tiros contra atos na praça Azadi, em Teerã, além de agentes correndo, segurando rifles, e guardas batendo em manifestantes com porretes. Outros vídeos mostram estudantes gritando frases como "clérigos, despareçam" em universidades em Teerã e Isfahan nesta segunda. O filho de um líder do movimento opositor Verde foi preso, informou o site Sahamnews. Hossein Karoubi foi detido dois dias após seu pai, em prisão domiciliar desde 2011, pedir ao líder supremo que renunciasse, em função da queda do avião ucraniano. A polícia nega ter atirado contra os manifestantes e diz que seguiu ordens superiores para agir com comedimento. Os protestos nas ruas ocorrem após uma série de eventos que elevaram a tensão no Oriente Médio. No dia 3, os EUA mataram, no Iraque, o general Qassim Suleimani, maior autoridade militar do país. A morte gerou comoção no Irã -que, em represália, na madrugada do dia 8, atacou bases militares dos EUA no Iraque. Horas depois, o país derrubou o avião da Ukranian Airlines por acidente. O presidente Hasan Rowhani considerou a derrubada do avião um "erro desastroso", dizendo que as defesas aéreas do país foram acionadas por engano enquanto estavam em alerta. Nesta segunda, o presidente americano, Donald Trump, defendeu sua decisão de mandar o Exército dos EUA matar Suleimani. Nas redes sociais, disse que "na realidade não importa" se o general representava ou não uma ameaça. "A imprensa de fake news e seus parceiros democratas estão trabalhando duro para determinar se o futuro ataque do terrorista Suleimani era 'iminente' ou não & se meu time estava de acordo. A resposta para ambos é um firme SIM, mas isso na realidade não importa em função de seu passado horrível!", postou. Os democratas, que tentam aprovar uma resolução para conter a capacidade de Trump de decidir um conflito no Irã sem a aprovação dos parlamentares, discordaram. Desde a confirmação de que o general foi morto, oficiais do governo disseram que agiram por causa do risco iminente de ataques a diplomatas e militares americanos na região. Mas os legisladores, incluindo alguns republicanos, afirmaram que o governo falhou em mostrar evidências de que um ataque estava por ocorrer. No sábado, o jornal americano The New York Times e o britânico The Guardian relataram protestos em que manifestantes gritavam "Khamenei é assassino" e "Khamenei acabou", em referência ao líder supremo do país, assim como pessoas rasgando fotos do general Suleimani. No Twitter no domingo, Trump disse aos líderes do Irã: "não matem seus manifestantes" e "deixem os repórteres andarem livremente." Em resposta, o porta-voz do governo iraniano, Ali Rabiei, afirmou que a população local não esquecerá que Trump ordenou a morte de Suleimani e impôs sanções que prejudicaram a economia do país. Em novembro, uma onda de protestos contra o aumento do preço dos combustíveis teve atos em várias cidades do Irã. Na ocasião, também se pediu a renúncia do aiatolá. As manifestações foram duramente reprimidas, com ao menos 7.000 presos e 200 mortos, segundo a Anistia Internacional --o governo nega. Ainda nesta segunda, o premiê canadense, Justin Trudeau, disse em entrevista que as vítimas da queda do voo ucraniano "estariam agora em casa com suas famílias" se não houvesse uma escalada recente de tensões na região. Cinco países cujos cidadãos morreram no acidente se reunirão na quinta (16) para discutir possíveis ações legais, disse à Reuters o chanceler da Ucrânia, Vadym Prystaiko. O Conselho de Segurança no Transporte do Canadá informou que o Irã sinalizou que a agência poderia desempenhar um papel ativo na investigação e a convidou a analisar as caixas-pretas do avião. Dois investigadores canadenses viajaram para Teerã.