Cotidiano

Rio teve mais de 1.000 ações policiais neste ano, mas apreendeu 150 armas

  • 09/07/2019 10:15
  • JÚLIA BARBON
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A polícia do Rio de Janeiro fez ao menos 1.148 ações nas ruas do estado no primeiro semestre deste ano, mas só apreendeu 153 armas nelas. É o que mostra um levantamento independente feito por um grupo de pesquisadores chamado Observatório da Segurança RJ. As armas, principalmente os fuzis, são consideradas um dos pesadelos do Rio de Janeiro. O Instituto Sou da Paz, por exemplo, que estuda o tema, defende que o modo mais efetivo de tirar armamentos das mãos de criminosos é a inteligência, e não as operações: descobrir onde essas armas estão sendo desviadas e então fechar o foco do desvio. O estudo, divulgado nesta terça (9), inclui tanto as operações, quando um grupo de agentes é destacado a um determinado local para cumprir um objetivo específico e pontual, quanto as ações de patrulhamento, quando um agente ou um grupo pequeno realiza ações cotidianas de ronda ou de "baseamento". A capital fluminense concentrou um terço das ações policiais neste semestre, principalmente nos bairros da zona norte Cidade de Deus (5%), Bangu (5%), Penha (4%) e Praça Seca (4%), e em Copacabana (4,5%), na zona sul. Outros municípios que foram mais visados foram Campos dos Goytacazes, Barra Mansa, São Gonçalo e Niterói. As informações foram colhidas através de um monitoramento diário de notícias, redes sociais oficiais, páginas da internet e grupos de WhatsApp e Facebook, já que as polícias não divulgam dados de operações. São analisados ainda números oficiais do Instituto de Segurança Pública (ISP). É a primeira vez que o Observatório da Segurança RJ, lançado em maio, publica esse tipo de dado. O grupo de pesquisadores foi inspirado em uma equipe montada durante a intervenção federal no Rio em 2018, dentro do centro de estudos da violência (Cesec) da Universidade Cândido Mendes, que acompanhou a atuação das Forças Armadas no período em que a segurança do estado ficou sob responsabilidade da União.  O levantamento também contabilizou um aumento de 42% no número de operações policiais realizadas na região metropolitana do Rio: foram 203 de março a junho do ano passado e 288 no mesmo período deste ano. Foi usado esse intervalo porque esse dado só começou a ser monitorado depois do início intervenção federal, em meados de fevereiro de 2018. Essas operações foram mais letais neste ano. As mortes aumentaram 46% no período de quatro meses, subindo para 91. É o que também indicam os números oficiais no geral. O estado como um todo, não só em operações, registrou 731 óbitos por intervenção policial de janeiro a maio de 2019, um aumento de 20% em relação a 2018, apesar de uma diminuição dos homicídios intencionais. Isso quer dizer que agentes públicos foram responsáveis por quase um terço das mortes violentas no Rio neste ano. Em algumas regiões, como na capital e na Grande Niterói, esse percentual chega a mais de 38%. No caso das chacinas, em que três ou mais pessoas são mortas em uma mesma situação, o número de casos continou em 37 no primeiro semestre dos dois anos, com 146 e 147 mortes, respectivamente. Mas, em 2018, 21 dos casos tinham a presença de agentes do Estado, ante 28 em 2019, segundo a plataforma colaborativa Fogo Cruzado. HELICÓPTEROS Pela primeira vez também se mediu o uso de helicópteros nas ações policiais. Das 34 vezes em que foram empregados neste ano em operações ou patrulhamentos, principalmente da Polícia Civil, em 11 eles foram usados como plataformas de tiro, ou seja, os policiais embarcados efetuaram disparos. A prática já era adotada e discutida no passado, mas ganhou mais destaque depois que o governador Wilson Witzel (PSC) declarou que queria treinar atiradores de elite para "abater" criminosos portando armas, inclusive das aeronaves. Em maio, o ex-juiz chegou a postar um vídeo em suas redes sociais que mostrava um policial disparando rajadas do helicóptero em que ele estava a bordo. Os tiros atingiram uma lona usada por peregrinos cristãos para orar em um morro de Angra dos Reis, mas ninguém estava no local no momento. Esse uso vai contra uma normativa publicada em outubro pela extinta Secretaria de Segurança Publica do RJ, que determina diretrizes para a atuação das polícias fluminenses durante operações. A regra não impede que agentes disparem das aeronaves, mas apenas quando for estritamente necessário para proteger vidas e com um tiro de cada vez, evitando rajadas e locais populosos.