O trem

OPINIÃO - Arlette Piai

Data 08/05/2018
Horário 08:26

Quem saqueou a Estrada de Ferro Sorocabana? A partir da solidificação do asfalto das estradas, os cofres públicos abriram-se para obras faraônicas, que se rendiam à majestade dos automóveis, caminhões para atender principalmente ao enriquecimento de corporações do sistema rodoviário; assim quanto maior fosse a decadência do sistema ferroviário, mais lucrativo para o rodoviário. A Estrada de Ferro Sorocabana, que tanto desenvolveu Prudente, foi construída com muito trabalho humano, muito empreendimento e muito gasto do dinheiro público; mas valeu à pena porque constituiu a gênese de Prudente e cidades ao derredor. Foi um meio de transporte confortável para as pessoas, e de carga para escoar os produtos da região. Entretanto, em menos de 20 anos, entrou em estado terminal com seus trilhos abandonados, demolidos, sucateados e leito coberto pelo matagal. 

O golpe fatal de óbito da nossa ferrovia foi dado com sua privatização pela ALL (América Latina Logística) ocorrida no governo de Fernando Henrique Cardoso, e aprofundada nos governos posteriores. Essa empresa, embora conte uma multa de R$ 118. 112.139,07, continua descumprido os compromissos assumidos, o que se pode chamar de verdadeiro golpe. Ainda teve o descalabro de propor à ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre) devolver a ferrovia regional e investir o valor da multa para a revitalização da malha em áreas que não a nossa. Deseja, assim, desativar, desvincular e desincorporar definitivamente a malha entre Rubião e Presidente Epitácio. Desde 2015, o MPF (Ministério Público Federal) tem reivindicado cumprimento das metas mínimas fixadas pela ANTT, como as intervenções necessárias nos trechos da região, a promoção do atendimento aos clientes com oferta de trens-tipo e locomotivas que operem de forma eficiente. Em vão!

A Europa, que iniciou a construção de ferrovias na mesma época que o Brasil, tem seus trens ainda velhos, mas conservados à serviço da população. O Museu de Transporte de Londres ajuda a entender a diferença entre um país que priorizou as ferrovias como transporte de massa e os que fizeram a opção pelo abandono como o Brasil. O museu é uma viagem no tempo pela história do transporte desde as carruagens puxadas por cavalos, os trens tradicionais e de alta velocidade.

Voltando à nossa realidade, a região oeste paulista é expressiva em votos, é expressivo para a economia do Estado de São Paulo e merece respeito. É necessário que os deputados, o prefeito e vereadores da nossa cidade, todos ajam conjuntamente em ação firme; lado a lado com a UEPP (União das Entidades de Presidente Prudente e Região), esta que tem tido um trabalho louvável pela causa que é a causa de todos nós. É importante, também, que a população prudentina fique alerta, participe, fiscalize, e cobre; porque sem pressão podemos perder, e essa perda seria irreparável ao crescimento de Prudente. Não podemos aceitar o descaso e humilhação a que fomos submetidos. A região oeste não pode continuar a ser reconhecida somente como uma entre as mais pobres do Estado e com um dos maiores redutos de penitenciárias. Afinal, nosso povo é trabalhador, dos ancestrais até a geração atual, consegue-se fazer de uma vila o que Prudente é hoje.

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