“Abaporu”

A obra de Tarsila do Amaral, intitulada “Abaporu”, representa um dos maiores tesouros brasileiros. Comemoramos esse ano, o centenário da Semana da Arte Moderna. A celebração foi em 13 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, onde Oswald de Andrade foi o precursor. Ele recebeu como presente de Tarsila do Amaral a tela “Abaporu”, onde permaneceu casada com ele durante quatro anos (1926 a 1930). 
Ao observar a tela, Oswald de Andrade sonha sobre a capacidade expressionista da obra e toda sua forma provocativa, além de muita riqueza. Inspirou-se através da obra de Tarsila, e estimulado pensou um Brasil com todas as suas raízes e grandes riquezas relacionadas à arte, envolvendo música, poesia, pintura, dança, entre outros. Apesar de inspirações europeias, a proposta foi explorar a brasilidade e valorizar o território nacional como berço de inspiração cultural. 
“Abaporu” é uma junção dos vocábulos tupis aba (homem), porá (gente) e ú (comer). Sendo assim, seu significado é “homem que come” ou “homem antropófago”. Antropofagia é um conceito instigante. A pintura de Tarsila, vale a pena pesquisar, é muito representativa, pois já naquela época provoca de forma simbólica, que “nem só de pão vive o homem”. Era uma época em que o conhecimento e toda sua forma de apreensão subjetiva pertencia somente à uma classe restrita e privilegiada. O trabalho braçal, corporal e a inexistência do pensamento, onde o ser humano era tratado como “coisa”, um objeto descartável.
A pintura “Abaporu” pode ser interpretada por infinitos vértices, tudo depende da sensibilidade singular de cada um. A cabeça é desproporcional ao corpo gigante, onde as mãos e pés se sobressaem. É a simbologia da inanição em direção ao direito pelo impulso epistemológico. Simbolicamente “devoramos “sujeitos em que admiramos e identificamos. A ntropogafia significa “engolir”, digerir, comer pessoas. Só não podemos permanecer no reducionismo ou concretude da palavra. Introjetamos e projetamos em todo momento.  E assim, em sociedade, nos relacionamentos, introjetamos no dia a dia, indivíduos em que admiramos e vamos colocando “para dentro”, parte deles. Realizamos esse fenômeno com os nossos pais. 
Que possamos, no contexto atual, realizar verdadeiros banquetes em direção ao belo. Penso, nesse momento, na música dos Titãs, que diz assim: “Bebida é água. Comida é pasto. Você tem sede do quê? Você tem fome de quê? A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte. A gente não quer só comida, a gente quer a vida como a vida quer. A gente não quer só dinheiro, a gente quer dinheiro e felicidade... a gente quer inteiro e não pela metade”.
 

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