Se não todos, ao menos uma parte dos adolescentes teve aquela fase de ser apaixonado por uma banda, um seriado e até mesmo ter aquele time do coração. Alguns pais classificam essa paixão como “uma fase”, porém, nem sempre é assim. Às vezes, esses jovens se tornam adultos e a idade muda, mas a admiração não. Esse é o caso de Isabela de Souza Silva, 19 anos. “São-paulina de berço”, nascida em lar de amantes do futebol, para ela, ter um time de coração é mais que um hobby, “é história”.
Por viver contextos assim, tem gente que vira jogador de futebol, escolhe a profissão baseada na paixão e tem até aqueles que pegam o exemplo dos pais. Isso é normal, conforme a psicóloga Luciana de Paula Alves, porém, existem limites. De acordo com ela, quando se fala em torcer se fala em amar, todavia, a linha é tênue para que esse sentimento se torne fanatismo. “A partir do momento em que não se pode questionar ou opinar sobre o time e a pessoa começa a não aceitar o diálogo, isso se torna uma problema, um passo inicial para a intolerância e até mesmo violências, que vão desde agressão ao diferente a vandalismo”, expõe. Atitude essas fundamentadas, principalmente, na divergência de ideologias, preconceitos e gostos. “É saudável torcer, mas é importante saber até onde isso pode ir, tudo em excesso não faz bem”, observa.
Isabela tem consciência disso. Ela explica que, embora seja “uma louca apaixonada”, entende limites e respeita o espaço do outro. Essa percepção, conforme revela, se potencializa ainda mais por ser mulher, já que, para ela, o meio esportivo é machista e desrespeitoso com o gênero feminino. “Evoluímos em algumas questões, mas em outras só retrocedemos, e isso vale para mulheres que só querem torcer e para aquelas que gostariam de trabalhar com isso, como é o meu caso”, explana.
Cursando Jornalismo a fim de trabalhar como repórter esportiva, a estudante conta que nunca passou por situações desagradáveis nesse aspecto. No entanto, é constante a sensação de vulnerabilidade. “Cada vez que vejo uma mulher sofrendo por gostar desse esporte, me dá forças para aprender cada vez mais, pesquisar e entender sobre o assunto. Não quero que sejamos fragilizadas, eu amo o esporte e sou mulher, não estou em posição de desrespeitar ninguém, então, quero respeito”, enfatiza.
EM FAMÍLIA
Respeito. A palavra já está inserida na vida de Gustavo Timóteo Silva há 20 anos. O jovem conta que, além do amor incondicional pelo Santos Futebol Clube, herdou do pai valores. E, com eles, o “principal”, paixão. Hoje, estudante de Educação Física, não vê fim para esse sentimento e, embora nunca tenha tentado carreira profissional, espera trabalhar nos bastidores. “Após a faculdade, pretendo começar como preparador físico, conseguir reconhecimento e, quem sabe, me tornar técnico de um clube”, idealiza.
Enquanto o tempo não chega, Gustavo tira parte de seus dias para sentar no sofá ao lado do pai e ver os jogadores nos famosos gramados. “O futebol está em todas as minhas lembranças, agora não acompanho só o Santos, assisto ligas da Europa, já é rotina, todo dia nós temos que assistir pelo menos um jogo, senão, não é um dia normal”, diz.
Para o pai, Jair Aparecido da Silva, é “um baita orgulho” ter um filho que compartilhe da mesma paixão. Sem outros filhos, Jair espera ansioso que Gustavo construa uma família e passe o “escudo para outras gerações”. “É como dizem, Santos é de pai para filho, foi assim com a gente, é assim que espero que continue “, ressalta.
IDENTIDADE COLETIVA
De geração em geração, em longo prazo, a sociedade vai se tornando apaixonada em conjunto e se dividindo em pequenos grupos. Isso é o que afirma o sociólogo Luiz Antônio Sobreiro Cabrera. De acordo com ele, amar um time se encaixa no que é chamado de cultura de massa, isso significa que o individualismo fica de lado e a pessoa assume atitudes e características iguais a de um nicho de pessoas. “Se torna uma junção de indivíduos que acreditam, defendem e pensam em prol dos mesmos ideais. Muitas vezes, a pessoa acaba se transformando e realizando certas coisas que não faria se não estivesse envolta nesse grupo”, pontua.
Essa transformação, no ponto de vista do sociólogo, tem um lado bom e um ruim. “Tudo vai depender do propósito desse nicho”. Se o objetivo for lutar por uma causa, fortalecer vínculos sociais e trazer mudanças pautadas na justiça e na consciência, ele explica que estar inserido só trará benefícios. Entretanto, se o grupo tiver como base única a imposição de ideais e a disseminação da intolerância, fazer parte só trará prejuízos para a construção cidadã e para o convívio coletivo. “O principal perigo são as chamadas torcidas organizadas, complexas e perigosas, mas, no geral, acreditar em algo e defender isso é bom, desde que não interfira em outras vidas”, pontua.
PERFIL
O Imparcial: Como surgiu a sua ligação com o esporte? Houve alguma influência?
Antônio: Meu pai sempre gostou muito de futebol e, desde que eu me lembro, eu também. Ele me diz que no meu aniversário de um ano eu já ficava tentando chutar bola, então, acredito que essa paixão já nasceu comigo. Comecei a crescer e o amor por esse esporte também, sempre gostei muito de jogar na escola. Com oito anos entrei na escolinha de futebol do PPFC (Presidente Prudente Futebol Clube) e a partir disso percebi que o futebol se tornou algo a mais na minha vida, não apenas um hobby. Foi então que com 13 anos comecei a jogar no campeonato paulista pelo time.
E depois dessa experiência no campeonato, você já tentou levar o futebol como profissão? Se sim, como foi a experiência?
Joguei em alguns campeonatos pelo PPFC, mas em 2016, quando fiz 18 anos, realizei o sonho de jogar como profissional e fiz isso pelo mesmo time. Foi incrível, porque era algo que eu sonhava desde que comecei no clube e poder realizar isso no mesmo time que eu cresci jogando é gratificante. Hoje acabei parando por não existir mais o time, mas mesmo assim joguei no sub20 do Grêmio Prudente neste ano.
O que mais você sente falta da época que estava em campo? Já pensou em tentar outros clubes fora de Prudente?
Sinto falta, principalmente, da rotina de treinos, mas também dos jogos em si, torcida, da emoção de estar em campo, tudo. Penso sim em tentar outros times, mas acredito que não agora, ano que vem, quem sabe, a expectativa é voltar a jogar assim que conseguir.
Hoje, de certa forma, você continua próximo do futebol, já que cursa Educação Física, mas, além disso, está trabalhando com algo relacionado ao esporte?
Bom, estou no terceiro ano da faculdade e a minha pretensão, se não conseguir nada relacionado a jogar de fato, é continuar trabalhando com futebol, porque é a minha verdadeira paixão, o que eu gostaria de fazer para o resto da vida. Sempre pensei nisso, continuar perto de alguma forma, mesmo que não seja dentro do campo. Nas últimas semanas, apitei um campeonato sub10 e sub12, organizado pela empresa júnior de Educação Física, foi incrível poder trabalhar com futebol apitando. Nunca tinha imaginado trabalhar nessa função, mas foi muito bom ver esse lado do esporte, agora é uma hipótese.
Como comentou, nunca tinha imaginado trabalhar com essa função, quais outras coisas o futebol trouxe para a sua vida que você nunca tinha imaginado antes?
Sempre tive excelentes treinadores que servirão como um espelho, alguém para admirar, me ensinaram valores e acredito que o futebol é isso, uma ferramenta transformadora. É a partir deles que aprendemos a respeitar aos outros, e, muitas vezes, não vemos isso na TV. Foi no PPFC que aprendi isso e muitos outros valores que levarei para a vida. Inclusive priorizar a formação cidadã antes da atleta.
Para finalizar, existe alguma memória em todos esses anos que mais te marcou? Qual e por quê?
Acredito que a melhor memória foi poder jogar a final do Campeonato Paulista sub20 da segunda divisão em 2017. Foi um pouco frustrante por não ter sido campeão, mas ter jogado as finais pelo clube que eu joguei desde criança e conseguir uma taça do campeonato foi gratificante.
DICAS DE FILMES
Para sempre Chape (2018)
Divulgação
No ano de 2016, o esporte brasileiro sofreu a perda do time da cidade de Chapecó em um acidente de avião. A Chapecoense Futebol Clube perdeu 71 pessoas ligadas ao clube no acidente aéreo que ocorreu em 28 de novembro, quando a equipe viajava até a final do campeonato sul-americano, classificação inédita para o time até então. O filme traz a história do clube, as marcas pós-tragédia e as histórias das pessoas que ficaram para a história do futebol brasileiro. Hoje, o time se reergueu e segue o legado. A trama é para fãs de futebol, mas também para fãs de histórias de superação.
Um sonho possível (2009)
Divulgação
Baseado em fatos reais, o filme traz a história de Michael Oher, um jovem negro que, por ter uma mãe viciada em drogas, se vê sem ter onde morar. Embora tenha aptidão para esportes, o jovem cresce sem oportunidades de praticar o que ama, futebol americano. Até que em um dia chuvoso, procurando um local para dormir e se proteger da chuva, conhece a família milionária de Leigh Anne Tuohy. A partir daí, recebe um convite para passar a noite e não imagina, mas a vida está prestes a sorrir para ele novamente. Isso porque a família é o suporte que Michael precisava para se tornar um astro do futebol americano.
Listras pretas e brancas: A história da Juventus (2016)
Divulgação
O tradicional clube italiano de futebol, Juventus Football Club, tem sua história retratada no filme de 2h. A história traz a vida da família Agnelli e a dedicação ao longo dos anos para que o time evolua e se torne reconhecido mundialmente. A trama traz os altos e baixos dessa conquista e os dramas que marcaram a trajetória da família, o amor ao futebol e a persistência em vencer, tanto dentro de campo quanto fora.
AGENDA
Cine Bosque - Persona
Data: Sexta-feira
Local: Bosque do Sesc Thermas
Endereço: Rua Alberto Peters, 111 - Jardim das Rosas
Telefone: 3226-0400
Horário: 20h30
Preço: Gratuito
Atividade: A história traz a história de Alma, uma enfermeira, e Elisabet Vogler, uma atriz que ficou muda de repente e que passa a ser tratada em uma pequena vila por Alma. Juntas, compartilham segredos até que, após ler uma carta, Alma se sente enganada e ambas passam a aprender a lidar com suas identidades diferentes e problemas psicológicos.
Múltiplos Sons – Carlos Café
Data: Sábado
Local: Área de Convivência do Sesc Thermas
Endereço: Rua Alberto Peters, 111 - Jardim das Rosas
Telefone: 3226-0400
Horário: 16h
Preço: Gratuito