"Bonga, o vagabundo"

DignaIdade

COLUNA - DignaIdade

Data 07/06/2022
Horário 07:06

Um dos primeiros filmes de Renato Aragão, rodado em 1969 ainda em carreira solo sem os outros Trapalhões e dirigido por Victor Lima. No filme, Renato é Bonga, um morador de rua que vive de pequenos golpes e falcatruas para conseguir ter o que comer. Ele faz amizade com um playboy cujo pai exige que o filho arrume um casamento. Os dois, então, resolvem arquitetar um plano apresentando uma falsa noiva. No entanto, por algumas confusões, a noiva que é apresentada, é justamente a bela garota por quem Bonga é apaixonado e que havia conhecido nas ruas. Primeiro filme colorido do comediante com a presença de Jorge Dória, Maria Cláudia e Neila Tavares (que faleceu esta semana). Filme hoje bastante esquecido, principalmente porque o quarteto fez outro filme em 1982 de grande sucesso comercial com título parecido: “Os Vagabundos Trapalhões”, com Louise Cardoso e Edson Celulari, onde Renato retoma o personagem Bonga. 
    
“O idoso em situação de rua”

Ser morador de rua nem sempre é uma escolha: excetuando as questões das drogas, na maioria das vezes não é. É reflexo de um conjunto de dificuldades sociais, desinserção e ausência de políticas públicas de amparo e inclusão. Ser morador de rua é ruim para qualquer faixa etária, quanto mais para o idoso. De acordo com o Censo de Rua de 2019 apenas 11,1% dos moradores das ruas do país tem acima de 60 anos, e o universo de dificuldades para eles é ainda maior. A primeira grande questão é que as pessoas que moram nas ruas têm mais chances de adquirirem doenças: alimentam-se mal, estão mais sujeitos às alterações climáticas, dormem mal, compartilham espaços aglomerados sob péssimas condições de higiene e saneamento, e vivem constantemente sob forte estresse com receio de serem assaltadas e agredidas. Existe o morador de rua que envelhece nas ruas, e existe o idoso que passa a morar nas ruas depois que envelhece. Além das questões sociais e econômicas que abrangem todas as faixas etárias, a relação com drogas, o abuso do álcool e a falta de vínculos afetivos e familiares contribuem para o agigantamento desta realidade. Um idoso abandonado à própria sorte não é reflexo apenas da ação familiar, mas também da desproteção da comunidade e do Estado. A reintegração social do idoso em situação de rua barra na visão paradoxal que a sociedade tem sobre o assunto: ora são vistos como coitados, vítimas ou frágeis, ora como coisa ou lixo e estão recebendo a paga por suas vidas desregradas ou transgressoras. Estes idosos vivem um isolamento social muito antes da pandemia e já lutavam contra um vírus invisível: o ranço social da desconfiança, do desprezo e do preconceito. A grande maioria é taxada como criminosa ou merecedora daquela situação miserável. A ausência de políticas planejadas de reinserção faz com que a maioria das ações sociais desempenhadas seja de puro assistencialismo ou caridade: é a compaixão de alguns sobre a miséria alheia. As políticas aplicáveis têm sido todas emergenciais ou conjunturais, amenizando situações urgentes e imediatas. Resta-nos buscar políticas estruturantes que aumentem o alcance de direitos básicos: renda, emprego, educação e moradia. 

Dica da Semana

Livros 

“Mussum Forévis: Samba, Mé e Trapalhões”:
Autor: Juliano Barreto. Editora Leya. A biografia de Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum, um dos mais amados humoristas brasileiros de todos os tempos. A narrativa conta histórias da infância, da Aeronáutica e de sua passagem por grupos musicais como Os Originais do Samba até sua chegada aos Trapalhões. Cacildis.
 

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