O filme “Harold and Maude” (“Ensina-me a Viver”), de 1971, dirigido por Hal Ashby, é um dos grandes clássicos dos filmes sobre idosos de todos os tempos. Na trama, um jovem desajustado Harold (Bud Cort) vive encenando cenas de suicídios em decorrência de conflitos de relação com sua mãe malvada, e acaba encontrando na idosa Maude (Ruth Gordon), uma singela senhora de 80 anos meio amalucada, que vive a vida do seu jeito sem se preocupar com ninguém ao seu redor, uma nova inspiração para viver. Acabam criando um forte laço de amizade, que o ajuda a libertar-se das amarras que o prendiam à solidão, possibilitando interagir com o mundo, vivendo experiências nunca sentidas. Um grande filme de comédia romântica atípica, atemporal, com trilha sonora espetacular de Cat Stevens, que determinou a indicação dos dois atores aos prêmios Oscar do Ano. Apresentou diversas encenações teatrais ao longo do mundo, e no Brasil, teve famosas versões com Glória Menezes em 2011 e agora, uma nova atualização com Nívea Maria está prestes a estrear no eixo Rio-São Paulo.
“Etarismo invertido: pouca paciência para a juventude”
O etarismo ou ageísmo é a discriminação contra pessoas pertencentes à determinada faixa etária, e tem sido muito relacionada aos preconceitos que o idoso sofre no mercado de trabalho e em diversas esferas sociais, boicotando comportamentos, vestimentas e direitos que são nitidamente ligados aos mais jovens. Se a luta contra o etarismo é algo fundamental no território da gerontologia, também é preciso cuidado em não ocorrer ao longo do processo de envelhecimento, um desdém progressivo aos jovens de hoje e à juventude contemporânea. Engana-se que este etarismo invertido, onde idosos têm preconceitos contra os jovens seja decorrente de inveja pela juventude perdida ou pelas impossibilidades da decrepitude. Ele é muito mais fundamentado em comparações nostálgicas das próprias juventudes, dos valores de suas gerações, e de saudades de valores e pessoas que não mais existem. Não se reconhecem mais nos jovens de hoje, não apenas pelas mudanças físicas ou estéticas, mas principalmente pela valoração diferenciada quanto a princípios e convicções. É natural que quando envelhecemos façamos instintivamente um filtro interno que limpa os problemas e desajustes do passado, e deixa apenas um filtrado límpido, imaginário, idealizado de recordações mágicas e maravilhosas. Tudo parecia mais perfeito e verdadeiramente melhor (e segundo os conceitos individuais, realmente seja), no entanto, esquecem que tanto os jovens de outrora, como os de hoje, vivem suas próprias lutas, conquistas, e adquirem seu brilho no olhar pelo que está em volta. Provavelmente estes jovens de hoje, muitas vezes não compreendidos e não aplaudidos pelos envelhecentes, também terão seus saudosismos futuros de muitos destes aspectos que parecem tortos aos olhares mais clássicos. E é necessário dizer que este jovem de hoje não brotou magicamente, mas sim é resultado das ações e conquistas das gerações anteriores que foram graduais ao longo das décadas e hoje parecem tão díspares. Jovem encrespar com velho, e vice versa, faz parte das relações humanas. É preciso por suavidade, doçura, compreensão e empatia nos dois extremos.
Dica da Semana
Livros
“Nicette Bruno – Mãe de Todos”:
Biografia autorizada da atriz recentemente falecida, escrita pelo ator e dramaturgo, Cacau Hygino. Editora Letramento. Traz depoimentos de familiares e amigos, e uma minuciosa sinopse da carreira da grande atriz de teatro e TV, tendo estreado aos 4 anos de idade na Rádio Guanabara, e sua incrível história de amor com o também ator Paulo Goulart. E destaque para suas incríveis participações em novelas da TV, como “Éramos Seis” (77), “Rainha da Sucata” (90), “A Próxima Vítima” (95), “Alma Gêmea” (2005), entre tantas outras.