“Eu quero continuar no ramo da educação, que é o que sei fazer”

REGIÃO - THIAGO MORELLO

Data 30/06/2019
Horário 06:00
Arquivo - No  dia 3 de junho de 2019, Naíde decidiu se aposentar e dedicar-se a projetos pessoais e futuros
Arquivo - No dia 3 de junho de 2019, Naíde decidiu se aposentar e dedicar-se a projetos pessoais e futuros

Município de Anhumas, Fazenda Água da Mata, 27 de março de 1967. Essa foi a primeira vez que a até então professora Naide Videira Braga pisou o pé dentro de uma escola, mesmo que não aparentava ser uma, por conta das condições existentes na época. Escolinha de madeira alta, em um tempo que professores também eram responsáveis por fazer a merenda dos alunos. Naquele cenário, 1º, 2º e 3º anos do ensino fundamental recebiam, todos numa mesma sala de aula, a prudentina, que trilhava ali o começo da sua trajetória com a educação. Nessa trajetória, passaram-se 52 anos e 68 dias, marcando a data de 3 de junho de 2019, quando ela decidiu se aposentar e dedicar-se a projetos pessoais e futuros. Decisão fácil? Ela garante que não. Mas avalia que foi feliz ao ver o progresso ocorrer. Progresso esse, como dito por ela, que “com certeza continuará ocorrendo”.

O Imparcial: Onde, como e quando você começou a história com a educação aqui na região?

Naide: A primeira vez que entrei em uma escola foi na Fazenda Água da Mata, em março de 1967, no município de Anhumas. Uma escolinha de madeira alta, e naquele tempo o professor também fazia a merenda escolar para os alunos. Confesso que foi ali que aprendi a cozinhar. A cozinha era toda revestida em barro, com um fogão improvisado que fizeram, que me lembro até mesmo dos alunos me ajudando a ajeitá-lo. 1º, 2º e 3º ano todos juntos, numa sala só. Eu lecionava e também fazia a sopa.

Como foi o caminho traçado até chegar ao cargo de dirigente?

Eu tive muitas alegrias e realizações profissionais nesse tempo. E, pouco a pouco, minha carreira foi acontecendo naturalmente. Eu comecei como professora primária e percorri algumas cidades da região. (Anhumas, Euclides da Cunha Paulista, Narandiba, Presidente Prudente - distrito de Montalvão e Floresta do Sul - e Presidente Venceslau). E depois de 10 anos como professora, eu prestei concurso e trabalhei como coordenadora pedagógica. Depois, a mesma coisa, mas para ser diretora. A primeira direção veio na Escola Estadual Professora Celestina de Campos Toledo Teixeira, em Floresta do Sul, que eu mesmo escolhi. E após isso fui para Venceslau, onde fiquei um ano. E em 1991 ingressei como supervisora, já de volta em Prudente, até 2008, quando fui nomeada ao cargo de dirigente regional.

E depois desses 11 anos à frente da Diretoria de Ensino, como foi tomar essa decisão?

Com o cenário atual, eu estava pensando muito em relação à reforma da previdência, com medo da forma que ela poderia me atingir. Eu comecei a lecionar em 1967, como disse, e pensei em todos os encargos que tenho como cidadã. E assim coloquei para a coordenadora do interior, a minha intenção de se aposentar. Foi uma decisão muito difícil, porque gosto muito do que faço. Mas foi definitiva e não tem mais volta. Já fiz meu pedido de exoneração e já pedi minha aposentadoria também. Para servidores demora um pouco mais, então ainda vai mais uns três ou quatro meses. Mas já estou em casa, por conta da quantidade de licenças prêmio que tenho pra tirar. Confesso que estou bastante perdida dentro de casa (risos), depois de tanto tempo trabalhando. Mas estou levando bem. Foi uma carreira que eu construí e sou feliz. Até me surpreendi com a minha reação, e brinco que nesses dias até saudade dos problemas já tive. Mas estou bastante tranquila e fazendo projetos para o futuro.

Nesses seus planos futuros, o que de concreto você já pensa em fazer?

Por enquanto, não estou mexendo com nada, porque quero tirar esse tempo para mim. Talvez após agosto eu já comece a tomar iniciativas. Eu quero continuar no ramo da educação, que é o que sei fazer. Talvez como voluntária. É uma decisão minha e ainda vou buscar instituições, ou até mesmo escolas, ver se existem alunos com dificuldades e ver de que forma eu poderia auxiliá-los.

Após esses anos trabalhando na região, qual avaliação você faz do que foi desenvolvido no entorno e o potencial na educação que existe por aqui?

A Diretoria de Ensino tem uma dinâmica muito acelerada. Mas ao longo desse tempo, eu pude sim ver um crescimento muito grande, tanto interno quanto externo. A gente foi se adequando com isso. Tivemos altas e baixas, mas tivemos progresso também. Progresso esse que continuará ocorrendo, tenho certeza. E isso tudo foi realmente um trabalho de equipe com as escolas. E tem que ser assim. O trabalho tem de ser desenvolvido sempre trazendo as famílias para dentro das escolas, porque são os filhos delas que estão lá dentro. Então eu avalio que é uma crescente, e vai continuar crescendo, sempre buscando uma inovação tecnológica e formas de ensinar e aprender, porque os alunos exigem isso. A Diretoria cresceu muito. A educação tem uma dinâmica que não pode para um minuto.

Como foi traçar toda essa carreira e o apoio que você recebeu de todos, diante
à decisão que tomou?

No decorrer dessa carreira toda que eu tracei, eu tenho que dizer que houve por trás de tudo toda uma estrutura que me permitiu cuidar dessa carreira. Família, mãe, meu marido que ficava com filhos e me ajudou a me empenhar nisso. Foi uma fase da minha vida que eu tive bastante alegria. Eu vi escolas novas surgindo. Eu vi inauguração de prédios novos, como em Regente Feijó. Tivemos muitas conquistas. Eu falo que tivemos, pois eu nunca estive sozinha. Vimos bastante congresso e pesquisa ocorrendo por aqui. Os professores sempre colaboraram muito. São 45 escolas na Diretoria de Ensino de Presidente Prudente e, quando optei por sair, recebi muitas mensagens de apoio. Faz parte de uma escolha minha, mas todos me apoiaram. A imprensa mesmo, sempre me tratou como muito respeito. Sempre trabalhou com muito zelo, diante de notícias boas e outras muitas vezes delicadas. Eu saio feliz e sabendo que trabalhei muito.

Com a sua saída, já existe algum nome que poderá assumir o cargo?

Hoje quem responde interinamente é a Alice Maria de Aguiar Filgueiras Correa, até então dirigente-adjunta. Mas a Secretaria de Educação do Estado já iniciou um processo seletivo, com inscrição online, que envolve todo um plano de trabalho, entrevistas e tudo mais.

***

PROCESSO SELETIVO

A Secretaria Estadual da Educação esclarece que a reformulação no quadro de dirigentes também faz parte do programa “Líderes Públicos”, cujo objetivo é profissionalizar a gestão de pessoas na rede e adotar uma metodologia de avaliação baseada em competências. Depois de concluir a análise de desempenho dos 91 dirigentes regionais de Ensino, a partir de entrevistas e devolutivas com os atuais ocupantes, a pasta abriu um processo seletivo para 34 novos profissionais da rede interessados em desempenhar essa função, no qual inclui Presidente Prudente. As inscrições encerraram-se dia 28.

Publicidade

Veja também