"Eu soube amar"

DignaIdade

COLUNA - DignaIdade

Data 07/02/2023
Horário 07:10

Bette Davis estava no auge, tendo recebido já dois Oscar de Melhor Atriz (por “Perigosa” em 1935 e “Jezebel” em 1938), e com quatro grandes filmes neste ano de 1939, que é considerado por muitos críticos como o maior ano do cinema. Um destes é “Eu Soube Amar” (“The Old Maid”, que numa tradução literal seria “A Velha Solteirona”). Dirigida por Edmund Goulding, Bette deu um de seus melhores desempenhos e foi grande sucesso de público no papel de Charlotte contracenando com Miriam Hopkins como sua prima Delia. Na trama, Delia rompe o noivado com Clem (George Brent) para se casar com outro, e Charlotte o consola antes que ele parta para a Guerra Civil Americana. Ao vê-lo morto em combate, Charlotte descobre-se grávida e parte para outra cidade para ter a filha em segredo e não lhe manchar a reputação. A eterna rivalidade a reaproxima da prima e para garantir um melhor futuro para sua filha Tina, a menina é criada pela prima como se fosse sua mãe, e Charlotte é tratada como uma simples tia. Melodrama dos antigos com bela fotografia em preto e branco.
    
“Quem vai me levar pra passear?”

Dona Yolanda sempre foi uma mulher vaidosa e vigorosa. Mais conhecida como Yoló, ela criou os filhos sozinha de uma forma altiva e enérgica, tratando de encaminhá-los na vida. Ela já dizia: “Se não tivemos a sorte de nascer ricos, vamos buscar a fortuna com o trabalho, porque marido rico empobrece a alma”. Teve três filhos, um homem e duas mulheres, hoje todos maduros, com suas próprias famílias. Dona Yoló detestava ficar em casa aos domingos: além de ir à missa, era o dia de dar uma volta na praça, levar as crianças ao cinema, ou um simples passeio pelo centro para ver vitrines. Quando os filhos foram ficando mocinhos, Dona Yoló sempre arrumava um jeito de se encaixar nos programas: hora acompanhando-os nos passeios, outras vezes providenciando os encontros na sua própria casa. Era adorada pela juventude, por seu alto astral e por ser a única a permitir os bailinhos no fundo de quintal. Com nora, genros e netos, os almoços dominicais eram sagrados na sua casa. Ao se aposentar, já planejava um jeito de que netos passassem uma temporada com ela, para arrumar motivo para novos passeios, agora em shoppings, sorveterias ou num simples parque ao ar livre. Ela nunca esperou um convite, pois ela mesma se encarregava de fazê-los. Hoje, Dona Yoló, no alto de seus 85 anos está mais frágil, não dirige mais o seu carro, e nem consegue mais organizar os eventos em sua casa. Com a memória em dia e com força suficiente nas pernas, ela se recusa a morar na casa de um filho: não quer dar trabalho diário, mas quer continuar integrada aos passeios. Ela ainda insistia nos convites, que passaram a ser recusados uma vez ou outra, até que praticamente todo mundo estava muito ocupado com seus planos e hoje raramente aparece uma oportunidade de um convite ou há uma desculpa pronta (não tem lugar no carro, o som lá é muito alto). Cansada Dona Yoló resolveu se inscrever num grupo de terceira idade. Lá encontrou novas amigas e recheou sua vida novamente de passeios: excursões, dia de bingo, brincadeiras, palestras e pequenas viagens. Dona Yoló não esperou convite, convidou-se. Idosas como Dona Yoló não são poucas, mas também não são muitas. Já convidou a sua avó pra passear ultimamente?

Dica da Semana

Livros 

“Duas Solidões – Gabriel Garcia Márquez e Mario Vargas Llosa”:
Subtítulo: Um diálogo sobre o romance na América Latina. Tradutor Eric Nepomuceno. Editora Record. O livro é o registro de uma conversa real feita pelos dois baluartes da literatura universal e vencedores do prêmio Nobel de Literatura, o colombiano Garcia Márquez e o peruano Vargas Llosa, num encontro da Faculdade de Lima no Peru em 1967. Conversam sobre várias questões da vida e, principalmente, sobre escritores. 
 

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