Assisti essa semana o filme “Já era a hora”, uma comédia dramática de produção italiana que estreou no Festival de Cinema de Roma em 2022. Muito oportuno e providencial para nossos tempos atuais e dia a dia com mecanicismos. Na realidade, um chamado e uma reflexão para um pensar sobre como estamos lidando com cada experiência e vivências nossas em cada dia, hora, minutos e segundos.
Estamos construindo realmente, um repertório de registros perceptivos que permanecerão em nossa memória? O que será necessário para que possamos realmente aprender com a experiência emocional? E o que seria uma experiência emocional?
O filme trata-se de um homem que trabalha demais (workaholic) e vive apressado. Os anos passam e quando desperta, passaram-se muitas experiências em que não esteve presente mentalmente e emocionalmente. Ele não percebeu, tampouco usufruiu de experiências emocionais durante a escolha do nome da filha, seu nascimento, festas de aniversário, etc. Tudo muito confuso e desesperador porque ele dorme e acorda um ano na frente, sempre na data de seu aniversário. Vale a pena assisti-lo. Há detalhes muito importantes e de extrema sensibilidade da ordem da estética, levando o espectador mais perceptivo, em direção ao simbólico. A esposa, artista plástica, oferece um presente bem significativo, que ela mesmo pinta, mas ele não observa. O início do filme já chama muito atenção, ele faz confusão com a namorada num Pub. Para ele tanto faz, se for verde ou vermelho, é tudo igual.
Em nossos consultórios psicanalíticos, em decorrência de uma falta de autoconhecimento, subjetividade e de um Eu (ego) verdadeiro, levando a um falso self, podem provocar com-fusão, simbiose, indiferenciações com o outro. Assim sendo, o relacionamento passa a configurar em “identificações adesivas” onde um não existe e vive devido a com-fusão no e com o outro. Não há a diferenciação do Eu-Não-Eu. E o relacionamento acaba em falência, pois a vampirização afetiva e emocional leva a relação ao esgotamento.
Sigmund Freud em seu belo artigo, chamado “Transitoriedade” (1914), valoriza o tempo dizendo que “O valor da transitoriedade é o valor da escassez no tempo. A limitação da possibilidade de uma fruição eleva o valor dessa fruição”. Se deixarmos de contemplar a beleza de uma flor, que no dia seguinte, perderá sua beleza, deixamos de usufruir do belo. Podemos na realidade, eternizar momentos, sem pensar no futuro. Tudo é transitório e devemos sim, não economizar (qualitativo) momentos com nossos filhos, mães, pais, irmãos, esposas, esposos, enfim, com tudo aquilo que amamos. A transitoriedade implica devoção e devemos usufruir bem da qualidade desse tempo, mesmo que seja de minutos. Assistam o filme, irão gostar.