A cirurgia final de separação das gêmeas siamesas de Piquerobi, Allana e Mariah, que estava prevista para este sábado, precisou ser adiada porque as meninas apresentaram estado febril, informou o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto (SP).
Segundo a instituição, no momento, a equipe médica aguarda confirmação laboratorial da suspeita de dengue. "Allana e Mariah estão bem, alimentando-se, conversando e brincando", ressalta o hospital. "A nova data da cirurgia não foi definida e deve ocorrer após o restabelecimento total da saúde das meninas", completa.
Nessa quinta-feira, as irmãs siamesas foram internadas e submetidas a exames de ressonância magnética e tomografia, necessários para que os neurocirurgiões verifiquem as condições cerebrais para a cirurgia.
Elas também passaram pela expansão final das bolsas instaladas sob a pele das cabeças, que promovem ganho de pele para a cobertura craniana que será feita após a cirurgia de separação. Com esse procedimento, as bolsas atingiram volume de 530 ml e 670 ml cada.
Até o momento, as irmãs passaram por três cirurgias. A última ocorreu em março deste ano, com duração de sete horas. A segunda havia sido em novembro do ano passado, com duração de nove horas, enquanto a primeira foi realizada em agosto do mesmo ano, com duração de 9h30.
A técnica utilizada foi desenvolvida e aprimorada pelo médico norte-americano James Goodrich. “Até os anos 1990, a cirurgia era realizada em só uma oportunidade. Com isso, os cirurgiões passavam de 24 até 36 horas no centro cirúrgico e os resultados não eram efetivos, já que fazer a separação de toda a circulação que se comunica parcialmente em uma única vez trazia um sério comprometimento cerebral para as crianças e poucas sobreviviam”, explica o chefe do setor de Neurocirurgia Pediátrica, Hélio Rubens Machado. “Assim, ele [Goodrich] desenvolveu a técnica chamada de estagiada: são quatro etapas como se fossem os pontos cardeais, completando todo o perímetro”, completa.
A equipe multidisciplinar acompanha as meninas desde 2021, quando ainda estavam na barriga da mãe.
Foto: Cedida - Allana e Mariah com os pais
A incidência de gêmeos unidos pela cabeça é extremamente rara, representando um caso em cada 2,5 milhões de nascimentos.
No Brasil, a primeira separação de siamesas craniópagas, as gêmeas Maria Ysadora e Maria Ysabelle, ocorreu em outubro de 2018 – após cinco procedimentos cirúrgicos – pela equipe do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. O caso foi acompanhado pelo próprio médico James Goodrich, referência internacional em intervenções com gêmeos siameses e que faleceu por Covid-19 em 2020.