Índice da doença em homens é de 82%, diz estudo

PRUDENTE - GABRIEL BUOSI

Data 02/03/2018
Horário 14:30

Um mapeamento da tuberculose na região do Pontal do Paranapanema, que compreende 32 municípios, constatou que em oito anos, de 2007 a 2015, foram detectadas 2.221 notificações da doença, dado que tem índice médio de 43 casos para cada 100 mil habitantes, e supera os dados do Estado e também do país. Do total, a maior incidência se encontra nos homens, que representam 82,72% dos casos, conta 17,28% nas mulheres, sendo que a maior parte (60%) está na faixa-etária entre 20 e 39 anos. A biomédica e mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional, pela Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), autora do estudo, Anne Beatriz Bortoluci, afirma que os índices são “alarmantes”, além de apresentarem um problema de saúde pública na região.

O levantamento de dados do Sinan (Sistema Nacional de Agravos e Notificações), que avaliou o perímetro que conta com cerca de 600 mil habitantes, em nível de comparação, traz o índice médio do Estado, que é de 38, bem como o do país, de 32 casos para 100 mil habitantes, o que, para a pesquisadora, é sinônimo de preocupação, já que em 32 municípios da região, o índice médio chega a 43 casos para o mesmo contingente populacional. “O cenário apresentado mostra que estamos em uma área endêmica e de risco. Vi a necessidade de tratar do tema, quando não localizei dados regionais sobre a tuberculose, o que acredito ser muito importante”, salienta.

Por falar em região, conforme o estudo, das 14 cidades que apresentaram números crescentes da doença, no período avaliado, sete possuem presídios, local que é mais suscetível à doença em razão do ambiente, estado imunológico e tempo de exposição junto aos infectados. “Um dos principais problemas carcerários paulista, que é a superlotação, contribui decisivamente com os altos índices. O maior número de casos foi verificado em Martinópolis, Caiuá, Presidente Bernardes e Marabá Paulista, município esse em que a doença chegou ao patamar superior a 380 casos por 100 mil. O índice mais baixo foi de 2,30 por 100 mil, em Indiana”, salienta Anne.

Em nível de comparação, conforme noticiado por este diário, o HR (Hospital Regional) Dr. Domingos Leonardo Cerávolo, de Presidente Prudente, registrou 11 atendimentos realizados durante o período de janeiro a julho de 2017, sendo que em 2016 foram dez ao todo, com um total de 21 casos no município.

Sobre o acometimento maior em homens, a pesquisa salienta que o fato está relacionado ao tabagismo e consumo de bebida alcóolica, bem como a menor procura por serviços de saúde e baixa adesão ao tratamento. “Vale lembrar que são 83% de índice de cura e mais de 5% do abandono de tratamento, sendo que a OMS (Organização Mundial de Saúde) preconiza que o índice de cura deve ser superior a 85% e o de abandono inferior a 5%”, salienta a pesquisadora. Dentre as soluções, Anne salienta a necessidade de novas políticas públicas de saúde e necessidade de maiores informações à população.

 

Opinião do especialista

Para o pneumologista, Paulo Roberto Mazaro, o estudo traz dados importantes e interessantes, além de mostrar o que já era esperado, uma região “empobrecida” no Estado, que gera um cenário preocupante com relação à saúde. “Saber que estamos acima da média do país, por exemplo, é assustador. O maior foco na minha fala, com isso, deve ser o de conscientização. As pessoas precisam saber dos riscos e, principalmente, cuidados para que a doença seja evitada”, esclarece. Para tanto, Paulo lembra que ambientes como as casas precisam ser arejados, com boa corrente de vento e sol, além da alimentação do indivíduo, que deve ser saudável e balanceada. “É uma doença oportunista, e com tratamento gratuito, portanto, todo cuidado é necessário”.

Sobre o alto índice de abandono, o especialista esclarece que essa é uma realidade encontrada, “infelizmente”, já que com dois meses de tratamento, normalmente, os pacientes apresentam melhoras significativas e deixam de lado a preocupação com a saúde. “Com isso, a doença ganha resistência e torna-se ainda mais difícil de curar, por isso a importância da conscientização”, expõe.

 

O cenário apresentado mostra que estamos em uma área endêmica e de risco

Anne Bortoluci,

biomédica e mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional

 

NÚMEROS

2.221

notificações da doença em oito anos

43

é o índice médio da região para cada 100 mil habitantes

32

casos para 100 mil habitantes é o índice do país

82,72%

é a incidência da doença encontrada em homens

17,28%

dos casos acometem as mulheres

60%

da população pesquisada está entre os 20 e 39 anos

 

SAIBA MAIS

A tuberculose é uma doença infectocontagiosa e causada pelo Bacilo de Koch, uma bactéria que afeta, principalmente, os pulmões e pode levar ao óbito, conforme o pneumologista Paulo Roberto Mazaro. Dentre os principais sintomas estão a tosse persistente por mais de quatro semanas com secreção sanguinolento ou amarelado, febre, emagrecimento, cansaço e falta de ar. Caso seja notado algum desses indícios, é recomendo que a pessoa compareça ao posto mais próximo para realizar o exame do escarro. Em casos positivos, o tratamento é feito com o uso de antibióticos e possui duração mínima de seis meses, sendo que, se seguido corretamente, o índice de cura é de 90%.

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