Ángel

Persio Isaac

CRÔNICA - Persio Isaac

Data 23/05/2021
Horário 06:00

Miguel Ángel tinha esse nome porque seu pai era fã do craque argentino, Miguel Ángel Brindisi. Ángel é um nome comum na língua inglesa ou espanhola. É uma palavra latina derivada do grego Angelus, que significa "mensageiro dos Deuses". Seu pai sonhava que seu filho iria jogar no Boca Juniors como jogou Brindisi. Miguel Ángel sonhava os sonhos do seu pai. Moravam no Bairro de Bangu, no Rio de Janeiro. Seu pai era torcedor do Bangu e tocava tamborim na Escola de Samba Independente de Padre Miguel. 
Sentia saudades do tempo que o Bangu conquistou o título carioca em cima do poderoso Flamengo. Roberto Pinto era um craque, dizia sempre ao seu filho. Miguel Ángel começou a fazer testes no juvenil do Bangu. Quando pisou no gramado do lendário Estádio Proletário Guilherme da Silveira Filho ou Estádio de Moça Bonita, seu coração bateu forte como um surdo de marcação da bateria nota 10 de Padre Miguel. Suas pernas tremeram de emoção quando tocou pela primeira vez na bola. 
Jogava de meia-esquerda. Tinha muita habilidade. O sonho do seu pai está nos pés de Miguel Ángel. Sua mãe tinha falecido precocemente quando Miguel tinha apenas 3 anos de idade. Seu pai era um mecânico aposentado e só tinha ele como filho. Ele foi subindo de categoria e seu sonho começa a criar forma de realidade. 
Já estava nos juniores pronto para jogar no time profissional. Está no banco de reservas no jogo contra o Fluminense. O Maracanã lotado. Era a semifinal do Campeonato Carioca. Aos 20 minutos do segundo tempo, ele entra no jogo. Ergue suas mãos para o céu e agradece a Deus. Seu pai está na geral, é um Geraldino, nome dado a esses torcedores pobres que torcem no local mais democrático desse mundo. Ali sentem que a vida é bela. 
Aos 43 minutos do segundo tempo, Miguel Ángel recebe um passe quase perto da grande área, no futebol quem sabe dominar bem uma bola sai na frente alguns segundos e, nessa matada, o volante que o estava marcando ficou sem pai e sem mãe, o goleiro não esperava, mas a chapa que Ángel acertou com seu pé esquerdo entrou no ângulo e o goleiro só olhou o seu martírio passando diante de seus olhos. Gol do Bangu. 
Seu pai parecia um louco gritando e abraçando cada Geraldino que via: Gollllll do meu filho, gollll do meu filho. O poderoso bicheiro de Bangu, Jorge Bem-Bem tomou um porre de felicidade e o bairro viveu alguns instantes de pura alegria. Essa é a magia de um gol, um gol que fez Deus sorrir. O Bangu estava na final. Ángel honrou seu nome, ele é um mensageiro de Deus.
 

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