“Preconceitos com autistas ainda são muitos”, diz mãe

REGIÃO - OSLAINE SILVA

Data 02/04/2024
Horário 06:05
Foto: Cedida
Vinicius, que tem TEA, e sua mãe Alessandra
Vinicius, que tem TEA, e sua mãe Alessandra

Para que todos possam entender pelo menos um pouquinho do dia a dia da mãe de um autista, a reportagem conversou com duas das muitas que têm seus filhos acolhidos pela Lumen et Fides e pelo projeto CER (Centro Especializado de Reabilitação), em Presidente Prudente. “Os preconceitos com autistas ainda são muitos no dia a dia. Muitos mesmo!”, exclama uma delas, a psicóloga Alessandra Ferreira Balsani, 45 anos, mamãe do Vinícius (grau moderado/grave), que faz 14 anos no dia 6 próximo. 

Segundo Alessandra, o preconceito já começa pelos olhares diferentes e expressões de desaprovação. Ela relata que Vinicius é muito amoroso e gosta de tocar e abraçar todo mundo. Se ele vê uma pessoa um pouco mais velha, se aproxima, quer fazer carinho, chama de “vô” e diz que gosta dela. “Tem gente que aceita muito bem, mas tem quem não também. E a gente precisa entender... O pessoal na Lumen ama ele assim. Porque ele é muito carinhoso. Mas a questão maior do preconceito é por não conhecer”, expõe Alessandra.

Entretanto, ela diz que com a abertura, o acesso que a maioria tem atualmente sobre o autismo em reportagens, internet etc., muita coisa vem mudando e uma delas é o preconceito diminuindo aos poucos. “A gente vai buscando o nosso lugar. Temos acesso à Instagram e Facebook, que falam muito sobre autismo, e entendo que isso tem sido de grande ajuda para essa melhor compreensão do que é o autismo”, expõe.

Quando mais cedo o diagnóstico, melhor

Alessandra conta que, embora percebessem alguns sinais, mesmo sabendo que existe uma lacuna no desenvolvimento, por mais sutis que fossem as percepções, viam que tinha alguma coisa diferente com o filho. E foram buscar ajuda quando ele estava com 4 anos. Mas o médico teve dificuldade em diagnosticar de imediato, o que aconteceu dois anos depois, e então começaram com as intervenções, terapias... 

“Para mim foi mais fácil aceitar por atuar na área da psicologia. Meu marido teve um pouco de resistência, justamente por pensar que não vai desenvolver, não vai falar, vai sofrer preconceito, coisas assim. Sempre tem aquele medo, até porque as pessoas aí fora não estão preparadas”, salienta a psicóloga. 

E o complicado, conforme Alessandra, é que quanto mais cedo levar a criança, melhor é para que ela tenha estímulos. “Autista nunca vai deixar de ser autista. Mas será estimulado, vai desenvolver. O processo de adaptação, família, amigos, escola será sempre um processo de diferentes adaptações. Tem coisas que meu filho pode ainda fazer e alguns dirão que é manha ou não adequado para a sua idade. Não, é dele. E não tem o que eu fazer. A gente vai tentando adequar as coisas respeitando sua idade intelectual”, acentua Alessandra, frisando que não dá para ficar fazendo diagnóstico em casa. Sempre tem que ter um profissional para fazer isso.

Fazendo valer os direitos

Assim como não se ouvia falar tanto de autismo, igualmente não se sabia sobre os direitos. E as famílias foram buscá-los. Alessandra destaca que seu esposo mesmo tinha resistência em utilizar a fila preferencial em supermercados, por exemplo. Mas ela o fez entender que quando o filho deles tem uma crise severa, por exemplo, para que tudo volte ao normal para toda a família, leva de uma a duas semanas. É exaustivo, cansativo.

“Entendam que quando digo crise, significa que ele sai totalmente fora do eixo. É um sofrimento para ele, para nós. Então, a gente precisa buscar os direitos que temos. Se tenho fila preferencial, estacionamento, preciso fazer valer”, pondera.
Algo muito bom que ela ressalta hoje é o colar de identificação do autismo, cordão de girassol ou de quebra-cabeça. “Acho muito importante usar, porque as pessoas estão conhecendo e vão entendendo o que e como é. Porque autismo, como se diz, não tem cara. Cada um tem o seu jeitinho”, denota.

Outra grande conquista exaltada por Alessandra é a questão da inclusão e da socialização dessas crianças no ambiente escolar. Vinicius estuda numa escola estadual e, quando precisa sair da sala, tem uma cuidadora que o acompanha para ir ao banheiro, por exemplo. 

Um passo para frente, dez para trás

Quanto ao futuro, Alessandra diz que só a Deus pertence. Porque por mais que façam, é um passo para frente e dez para trás.

“Quando se pensa, agora vai... retrocede. Por conta da dependência que ele tem. Tanto de se trocar, de não poder ficar sozinho nunca... Aprendizagem ele não tem por conta da deficiência intelectual. Ele sabe tudo no celular, mas porque aprendeu que tem um microfone e ele pode falar. A gente faz tudo como pai, como mãe, para que ele desenvolva. Buscamos meios. Eu acho que todas as mães de autista tão nessa luta. Temos grupos desse meio, uma ajuda a outra. É muito bonito até de ver, sabe?! Nos compadecemos com o sofrimento umas das outras. Porque não sabemos como será o dia de amanhã. De mãos dadas caminhamos. É bem isso. De mãos dadas!”, diz a psicóloga.

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