"Superplá"

DignaIdade

COLUNA - DignaIdade

Data 04/07/2023
Horário 06:00

A Rede Tupi vinha de uma fase de grande sucesso no final da década de 1960, com êxitos sucessivos nas suas telenovelas: “Antônio Maria”, “Nino, o Italianinho” e “Beto Rockfeller”. No final de 1969, substituindo Beto, a emissora lançou “Superplá”, que prometia ser mais uma renovação no gênero. O autor Bráulio Pedroso contava a história de Plácido (Rodrigo Santiago) que tinha sido um garoto muito inteligente, mas cuja genialidade desapareceu após ter levado um tombo. No entanto, quando ele toma o refrigerante Superplá, ele deixa de ser um bancário apagado que lê histórias em quadrinhos para se tornar um herói inteligente que vive aventuras. A dona da fábrica de refrigerantes é a ex-vedete do teatro de revista, Joana Martini (Marília Pêra), que se casou com um velho moribundo para dar o golpe do baú, e se envolve com um gângster cafona chamado Baby Stompanato (Hélio Souto). O personagem Joana Martini era baseado na atriz Joan Crawford dona da Pepsi Cola, e Jofre Soares interpretava um personagem inspirado no Tio Patinhas, enquanto Bete Mendes fazia uma florista cega baseada no filme “Luzes da Cidade”, de Charles Chaplin. Apesar da modernidade, o sucesso não veio. Por muitos anos, Presidente Prudente teve um clube noturno com o nome da novela. 
    
“Elogios idadistas”

O idadismo ou etarismo é o preconceito em relação à idade, e surge quando a idade é usada para categorizar ou dividir as pessoas, com evidentes prejuízos, desvantagens e injustiças. Estamos tão acostumados a achar que envelhecer é uma droga, que inconscientemente, usamos elogios para agradar o ouvinte de que “apesar” da velhice a pessoa está bem. Como acreditamos que envelhecer é ruim, e ser jovem é obviamente maravilhoso, quanto mais fugimos do estereótipo da velhice, mais o receptor do elogio ficará contente: “Nossa, você parece tão jovem para a idade” – a frase reforça a ideia de que envelhecer é algo negativo e parecer jovem é desejável e, claro, um elogio. “Você tem alma de jovem” – colocando data de nascimento no espírito, carimbamos a ideia de que ser jovem é ser ativo, enérgico, vital e divertido, e ser idoso é estar no oposto disto. “Puxa, você está tão conservado!” – buscamos o efeito picles antienvelhecimento com múltiplas fórmulas, tratamentos e receitas milagrosas, que ao parecer bem e bonito, só pode ser resultado da conservação da juventude (Vocês não conhecem ninguém que era feioso enquanto jovem e se tornou um maduro bonito, não? Pois é).  “Para quem tem 50 anos...” é muito comum alguém reforçar, antes de elogiar a pessoa, a idade. Isso mostra um exemplo de etarismo, com a visão estereotipada do envelhecimento, como se houvesse uma cara específica aquela década de vida: “Para quem tem 60 anos, você está linda de biquíni e com ótimo corpo”. Outra pérola: “Nossa, você deve ter sido muito bonito quando jovem”. Dá a impressão que a pessoa está enxergando rastros arqueológicos de beleza na expressão atual, ou simplesmente que a beleza de agora nunca será comparável com à beleza que se teve quando jovem, ou pior ainda, que não é possível ver beleza na velhice. E a máxima: “Desculpa perguntar, quantos anos você tem?”. Não é ofensa envelhecer, e portanto, não é ofensa perguntar, para ter que se pedir desculpas. E também o perguntado não pode ficar ofendido com a pergunta: esconder a própria idade também é etarismo velado. 

Dica da Semana

Livros 

“Marília Soares Marzullo Pêra – Fotobiografia”: 
Editora Arte Ensaio. Produção de Victor Burton e Sandra Pêra. O livro é um projeto antigo da própria Marília, que conseguiu reunir em fotos diversos momentos de sua intimidade, vida familiar e carreira no teatro e televisão, sendo lançado dois meses antes da sua morte. 


 

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