69 anos

Persio Isaac

CRÔNICA - Persio Isaac

Data 31/10/2021
Horário 06:50

Ontem, 30 de outubro, completei 69 anos de idade. O mesmo dia que nasceu Maradona e o ator e comediante Paulo Gustavo. Quanta honra. Confesso que nem senti o tempo passar. O tempo é igual a um centroavante habilidoso, muito rápido, que mesmo o mais implacável marcador não consegue pará-lo. Chego a essa idade compreendendo mais o significado da minha existência. Tenho que ser sempre um personagem na vida e não um ator. É saudável sentir ainda o sabor da vida, como dar um beijo e abraçar minha amada neta Isabel.  
Não brinco mais com a vida como se fosse um jogo insensato. O físico tem limitações. A juventude depende do espírito de cada um. A sabedoria me traz a filosofia de entender que a vida sempre se renova. Não importa as metas, as vitórias ou as derrotas, importa o que me tornei nessa pequena jornada diante do infinito. Haverá sempre um novo sonho para sonhar, novas canções para cantar e novos desafios para enfrentar. Do passado, guardo um tempo de ouro na parede das minhas memórias. O futuro sempre será um mistério, e isso causa agonia se não vivermos o presente. 
Fui buscar o conhecimento sobre o significado do número 69. Esse número simboliza: família, lar, harmonia, idealismo, saúde e compaixão. Sinto uma energia positiva. A Mulher Maravilha, minhas filhas Luiza e Flávia, meu genro Milan, minha adorável neta Isabel, meus irmãos e irmãs, sobrinhos e sobrinhas, minha mãe com seus 100 anos de amor, meus amigos e amigas estão sempre perto de mim. Todo esse tempo de vida não foi nada em vão. Meu coração não bate mais solitário e nem acelerado como nos tempos da juventude. Meus ídolos continuam os mesmos. Não sou saudosista, mas os tempos de ouro me deram um referencial de qualidade na música, no esporte, nas artes muito alto. 
Meus 69 anos são feitos de cicatrizes tatuadas num desenho mágico de alegrias e tristezas, de perdas e ganhos, de erros e acertos, como deve ser a evolução de qualquer pessoa que passa a vida, não perguntado o que está acontecendo. Somos agentes de transformação. Nossa nobre missão é fazer acontecer. Amar e mudar as coisas, como cantou Belchior, é que dá um melhor sentido universal para a vida. Não podemos aceitar o papel de sermos um simples coadjuvante da vida. Quero ser sempre o dono do meu destino e capitão da minha alma. Não quero assobiar uma canção cansada. O mundo não sujou os meus sonhos e nem o tempo apagou minhas ilusões. Não perdi a vontade de combater o bom combate. 
Alguns caem, outros são coroados, alguns são perdidos e nunca encontrados. A vida bate forte, engolindo os fracos de espírito. O sofrimento vai ensinando aqueles que entendem que a dor é a melhor professora. Agradeço aos erros que cometi. Foram eles que me ensinaram o valor de tudo. Aos 69 anos vou levando meus sonhos sem me apegar no medo de errar. Aos 69 anos aprendi a não confundir os meus cuidados com os meus medos. 
Todos temos uma história para contar, seja ela triste ou alegre. As coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender, como cantou Paulinho da Viola no seu belo samba, “Coisas do mundo, minha nega”. Meus 69 anos chegam numa estrela cadente, num formato de um samba sincopado de melodias elaboradas e um ritmo rico em notas musicais. Nos meus 69 anos vou dizer a mim mesmo: "O bom jogador joga o jogo no campo mágico da vida". Nos meus 69 anos vou escutar Led Zepelim, Beatles, Rolling Stones, João Gilberto, Tom Jobim, Jorge Ben e Tim Maia. Nos meus 69 anos vou olhar quadros de Renoir, Amadeu Modigliani, Rembrandt, Vincent Van Gogh, Portinari e Tarsila do Amaral, e sentir que precisamos mais de humanidade. 
Quero sorrir vendo os filmes de o Gordo e o Magro e de Charles Chaplin. É mágico assistir no YouTube as partidas de xadrez de Bob Fischer.  Desse mundo só levarei as emoções e as amizades.
 

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