95ª edição do Shokonsai atrai 3 mil visitantes

“O prestigio, as lembranças aos soldados falecidos de todas as nações na 2ª Guerra Mundial e o mantimento das tradições".

VARIEDADES - Estevão Salomão

Data 14/07/2015
Horário 08:04
 

Mantendo a tradição, sem chuva e com a calmaria do vento, ocorreu no último domingo, no Cemitério Japonês de Álvares Machado, a 95ª edição do Shokonsai, que significa "convite às almas para a missa". Cerca de 3 mil pessoas compareceram e prestigiaram o evento que, entre sua programação, contou com celebrações, apresentações de músicas e danças, e o esperado ritual das velas, momento em que todos os 784 túmulos ficaram iluminados.

O evento, que é uma iniciativa da Aceam (Associação Cultural, Esportiva e Agrícola Nipo-Brasileira de Álvares Machado), reuniu diversos perfis de público, desde os visitantes que pela primeira vez prestigiam a data, aos que há mais de 40 anos visitam o local. Todos acompanharam a programação, que contou com a abertura na capela do cemitério da colônia japonesa, com a palestra do monge budista Tijin Imura, do Templo Honpa Hongwanji, localizado em Presidente Prudente.

Jornal O Imparcial No total, 3 mil pessoas prestigiaram a festa, que começou às 9h

A cerimônia, que todo ano é realizada no segundo domingo de julho, continuou com atividades ligadas a cantos japoneses, comidas típicas, e a também tradicional dança, em reverência ao agradecimento da boa colheita, ocasiões que reforçam o propósito da data: "O prestigio, as lembranças aos soldados falecidos de todas as nações na 2ª Guerra Mundial e o mantimento das tradições".

De acordo com Alberto Yukio Nakada, secretário geral da Aceam, o intuito é sempre repetir o mesmo público das edições passadas, em média 3 mil pessoas, além de promover um momento único para os familiares dos que estão enterrados no cemitério, assim como para toda região, uma vez que caravanas de diversas cidades compareceram.

"Tivemos um pouco de dúvida quanto à presença da população, por razão da chuva que permaneceu constante durante a semana, mas novamente tivemos o esperado, e para os que aqui estão, este é um momento de fé e respeito aos antepassados", diz. Ainda segundo Nakada, toda verba arrecadada será destinada às obras para melhoria do local.

 

Tradição


Uma tenda, com cerca de 100 cadeiras, foi montada em frente ao palco e, entre o público que acompanhou as apresentações, Olga Lee, 70, que desde criança assiste a solenidade, contemplava através das músicas a lembrança de seus avós e tios, todos enterrados no cemitério do local. "Comparo os cânticos com as histórias de meus familiares, onde ambos se  eternizam em minha memória", declara.

Além dos japoneses e familiares, a população em geral compareceu na festa, considerada por muitos como a mais importante do Brasil, uma vez que este é o único cemitério japonês do país. Para o professor Sérgio Augusto Gouveia Junior, 36, o evento é muito importante para a manutenção do processo cultural. "Vim pela primeira vez com a família e os amigos e já considero este, como um acontecimento que favorece a homogeneização cultural", diz.

Para o agropecuário Pedro Tomio Ujie, 66, que desde o ano de 1972 acompanha a cerimônia, a data é sinônimo de reunião. "Sou de Presidente Bernardes, e toda vez que estou aqui, reencontro os amigos e familiares. Um momento único para nossa geração", diz.

 

Ritual das velas


Como encerramento da edição, às 17h30, ocorreu o momento mais esperado do evento, voluntários que se dispuseram a ajudar, tiveram a "honra" de ascenderem e distribuírem as 784 velas que totalizaram todos os túmulos do cemitério. Atividade considerada um agradecimento aos antepassados.

Sidnei Ambrósio Santos, 55, que desde 1980 se dispõe a ascender as velas, trouxe nesta edição sua neta, onde segundo ele, trata-se de uma importância quanto às gerações. "Aqui é uma paz, tranquilidade e reflexão. Trago minha neta para viver e futuramente reviver este momento", diz.

 

História


O cemitério surgiu oficialmente em fins de 1918. Como já se verificava na época, uma epidemia de febre amarela foi a principal causa das mortes, principalmente de crianças. Foram sepultados, portanto, 784 pessoas, ocasião em que foram proibidos novos sepultamentos, por ordem do então presidente Getúlio Vargas, por entender que havia uma discriminação racial. "Naquela época, não havia hospitais na região, muito menos transporte, fatores fundamentais para a saúde", relata Nakada.

Existe sepultada apenas uma pessoa não descendente de japoneses, o brasileiro Manoel, que morreu assassinado por bandidos, ao defender uma família de japoneses.

 

Fato curioso


O vento, que permaneceu constante durante todo o dia, praticamente parou durante o período das velas acesas, além de que, desde 1920, nas 94 edições, nunca choveu. "Acredito que exista uma força, uma energia que influencia nos fenômenos naturais", diz o aposentado Sussumy Osako, 71.

 
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