"A capoeira ajuda na disciplina e transforma vidas”

Esportes - THIAGO MORELLO

Data 01/03/2017
Horário 09:27


O objetivo era se defender dos garotos da escola, porém, em pouco tempo, ele viu que a brincadeira do menino do bairro tinha se tornado uma profissão. Direto de Santo André (SP), aos 9 anos idade, ele já dava os primeiro passos na capoeira. Após seis meses, já estava competindo profissionalmente. Aos 48 anos, Nelson Hilário Carneiro, mais conhecido como mestre Nelson Muzenza, vem para 2017, ano em que completa 39 anos no esporte, com o objetivo de continuar a promover a capoeira para a terceira idade. Com experiências na Europa e no México, o capoeirista, hoje, roda o país ministrando cursos sobre a modalidade e repassando os conhecimentos e benefícios que adquiriu com a aplicação da capoeira para a terceira idade.

Jornal O Imparcial Capoeira trabalha com as potencialidades do corpo humano

 

Até o momento em que começou a dar aulas de capoeira, como foi sua trajetória?

Eu comecei na capoeira aos 9 anos, mas por motivos bem distantes de ser um profissional. Após seis meses aprendendo, eu já estava em competições. Ali eu já sabia que levava o jeito e tomei gosto pela coisa, mesmo sendo muito novo. Depois de alguns anos praticando e levando a sério, eu me mudei para Presidente Prudente, em 1986 e, daí em diante, fui crescendo. Eu dava aula no bairro mesmo, para os jovens da minha idade e fui ficando cada vez mais motivado. Até que em 1994, fui convidado para ensinar capoeira em academias. Fiquei até 2007 vivendo apenas disso. Hoje tenho muito orgulho de dizer que estruturei minha família, meu casamento, a partir dos ganhos que a modalidade me deu.

 

Como surgiu a ideia de trabalhar com a capoeira para os idosos?

Eu costumo dizer que inicialmente partiu de uma necessidade e depois virou interesse. Minha mãe teve câncer e ficou muito debilitada. Com isso, eu via aquele cenário ali e ficava no desespero, querendo ajudar. Então, eu a acompanhava na fisioterapia, para aprender o que ela precisava. Eu sempre digo que minha função era aprender a ser útil. Foi aí que eu comecei a ver as dificuldades que muitas pessoas têm com as capacidades físicas. A partir disso, procurei entender mais sobre o assunto e mesclar com a capoeira. E em 2003, eu fui convidado pelo grupo Athia, para dar treinamento físico a pessoas mais velhas. Na época, eu já era estudante de Educação Física e professor de capoeira, então minha monografia foi totalmente direcionada para o estudo dos movimentos e capacidades dos idosos.

 

Quais foram os principais ganhos com o projeto?

A partir do momento que eu comecei a dar aulas de capoeira para os idosos, no primeiro momento, eu sentia que minha função era ajudá-los a se movimentar dentro das condições de cada um. E fui fazendo isso. Depois de quatro meses de aula, eu reavaliei cada um deles, e já foi possível ver as melhorias. Na questão física, o equilíbrio é o maior ganho. Porém, as histórias que eu ouvia refletiam no produto que eu buscava, no caso, a evolução. Muitos deles chegavam até a mim e contavam relatos do cotidiano, sobre coisas que não conseguiam fazer e, após a capoeira, foram felizes na ação, como sair de casa sozinho, por exemplo, podendo se movimentar sem se sentir inseguro. É muito gratificante.

 

Sua experiência fora do Brasil contribui de que forma?


Em 2007, eu fui para Europa, convidado para dar aulas de capoeira à terceira idade. Eu fui com o pensamento de que os países de lá eram mais evoluídos e esse esporte já era bem conhecido. Me enganei. As pessoas não conheciam muito. Naquela oportunidade, eu podia resgatar todo meu conhecimento, porque eu tive que começar do zero com eles. Rodei por dois meses, entre Portugal, Espanha e Itália e até competi num campeonato em Lisboa, no qual fiquei em sexto lugar, ou seja, eu pude até competir. Com certeza a chance que tive só acrescentou no meu currículo. Depois disso ainda fui ao México, em 2015, com o mesmo objetivo. Hoje, por conta dessas experiências, além da minha pesquisa com capoeira para idosos, eu posso ir a outras cidades, por meio de convites, para mostrar tudo que aprendi.

 

O que o esporte mudou na sua vida?


A capoeira ajuda na disciplina e transforma vidas. Infelizmente ainda tem muita gente que pensa que é apenas uma luta, é agressão... Mas muito pelo contrário. A modalidade em si tem regras e que devem ser cumpridas. Antes de tudo, nós ensinamos o respeito um com o outro. A modalidade é um esporte e não uma desculpa para agredir alguém. Eu, quando entrei na capoeira, queria me defender dos meninos da escola, da violência. Hoje meu pensamento é diferente. Se eu estou com minha mulher em algum lugar e, por ventura, alguém venha mexer com ela, eu não vou sair aplicando golpes por conta disso. A capoeira ensina que a luta não é desculpa para agir com agressividade e arrogância. O meu ganho principal foi na mudança de caráter.

 

Quais os principais planos para este ano?


Eu estou terminando de escrever meu segundo livro, que fala sobre flexibilidade, a importância do aquecimento e as lesões que o excesso de treinamento pode acarretar. Em 2013, no Mundial, eu lancei o "Capoeira & Alongamento", e fui feliz ao vender 400 mil exemplares. Neste ano, quero repetir a dose no mesmo evento, nos dias 25 e 26 de agosto, em Fortaleza (CE). Além disso, a minha intenção é competir na categoria de 40 a 50 anos. Eu venho de uma lesão no joelho e pretendo superar isso até a data.

 
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