A cobra e a cachaça

Sandro Villar

O Espadachim, um cronista a favor do leite e do deleite

CRÔNICA - Sandro Villar

Data 07/09/2023
Horário 05:30

Histórias de pescador? Que tal, respeitável público: os senhores e as senhoras aceitam mais uma história de pescador? Estão dispostos a lê-la? (que língua, meu Deus!). Na verdade - e na mentira -, apenas uma historinha. Em suma: um caso ou um causo. Vamos em frente que atrás vêm os credores e, por falar nisso, valha-nos Deus, Nossa Senhora.
Mas, dizíamos, esta é mais uma história de pescador e, no caso, parece que o apanhador de peixes era um profissional tarimbado, desses que dão nó em anzol. Prova disso é que, para ele, praticamente tudo servia como isca. Aliás, como todos sabem, há iscas vivas e mortas.  
Um dia o pescador se reuniu com amigos no bar do Fulgência e, entre uma dose e outra de cachaça, comentou a sua mais recente façanha. Ele foi pescar num lago e percebeu que estava sem isca. O que fazer? Estava distante de casa, assim como a 123 Milhas está longe dos incautos clientes, se me permitem a comparação.
Era preciso encontrar algum tipo de isca, pois, do contrário, voltaria para casa sem peixe e a esposa lhe "comeria o toco", pois a senhora era uma megera de fazer inveja a Shakespeare. Foi aí que ele viu uma cobra verde (seria uma serpente palmeirense?) com uma rã na boca.
Com a aquiescência da cobra (a serpente falava e fumava), o pescador pegou a rã e a cortou em pedaços. Enfim, deu uma de Jack, o Estripador, e esquartejou o batráquio. "Fiz várias iscas", contou o exterminador de rãs. Depois, ele explicou que ficou com pena da cobra palmeirense, que dizer, cobra verde.
Como a cobra não tirava os olhos da garrafa de pinga colocada ao lado dos apetrechos de pesca, o pescador não teve dúvidas. Ele simplesmente despejou goles de cachaça na boca da serpente. Ela ficou meio zureta. Enfim, parece que gostou. "Fiz isso para recompensar a minha amiga", explicou o gajo, já demonstrando intimidade com o réptil e a prova disso é a expressão "minha amiga".
Satisfeita, a cobra foi embora, mas voltou logo depois. Uma hora depois, já com vários peixes na sacola, ele sentiu um toque na perna. Era a cobra com mais duas rãs. Em agradecimento, o sujeito "encheu" a cobra de pinga. O pescador acha que a cobra virou alcoólatra. Ficaram íntimos, como foi dito, e ele nunca mais comprou isca e nem arrancou minhoca do chão. 

DROPS

Filme da Semana no Cine Brasil: "O Malabarista", estrelando Lula e grande elenco.

Dedo em riste pode ser um risco a quem aponta.

O amor é lindo. O ódio é feio.

Onde está a honestidade?
(Noel Rosa, compositor)
 

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