A renovação da vida

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 31/12/1969
Horário 21:00

Sou tocado por uma profunda emoção nos domingos de Páscoa. Já contei para vocês algumas experiências inesquecíveis nas minhas andanças por aí. Nunca vou esquecer do ofício da meia noite de um Sábado de Aleluia quando, numa igreja anglicana da cidade britânica de Bristol, todas as velas e luzes foram apagadas para que os inúmeros fiéis aguardassem no escuro e em profundo silêncio a proclamação da ressureição do cordeiro divino. Em outra ocasião eu vi na Grécia, logo ao amanhecer de um domingo de Páscoa, um diácono espalhar folhas de louro e pétalas de flores na porta da capela ortodoxa para simbolizar a vitória da vida sobre a morte. “Christos Anesti!” (Cristo ressuscitou), dizia ele. E que belo o cantochão evocado pelos clérigos, em outra cena vivida lá na Lituânia, preenchendo o interior da abadia com um cântico de pura paz e alegria. 
De fato, a renovação do ciclo da vida é um ato de fé muito antigo. No Egito, o tradicional Sjam El Nessim ou Dia da Primavera é comemorado há mais de 3 mil anos. A comunidade local ocupa as ruas para festejar a renovação da vida com um almoço especial à base de peixes e ovos. Por sua vez, a Páscoa Judaica — denominada de Pessach, passagem — relembra a libertação do povo hebreu da escravidão no Egito. Desde o Concílio Ecumênico de Nicéia, convocado pelo Imperador Constantino no ano de 325, a Páscoa tem sido comemorada sempre nos domingos que seguem a Lua Cheia do equinócio da primavera no Oriente, ou seja, depois do dia 21 de março. Sim, por trás da data da Páscoa há muita história e também astronomia. 
A combinação da primavera com a Lua Cheia é um convite ao renascimento de nossas forças, à renovação da esperança por dias melhores, ao renascimento da nossa vontade de se reinventar. Momento certo para meditações e rituais de fortalecimento da fé. Ter fé é acreditar no intocável, no inatingível. Claro que não devemos confundir a fé com o fanatismo dos salvadores da pátria ou com a descrença na força transformadora da ciência e das mãos dos próprios seres humanos…Pelo contrário, a fé é a confiança de que a transformação do mundo está em curso e pode dar certo. A fé é apenas o começo para a reinvenção de muitas vidas.
Não é por acaso que por detrás da festa religiosa há muitas histórias de ritos de passagem e de travessias de povos nômades que viviam do pastoreio e que comemoravam a chegada da primavera. O povo hebreu associou a Páscoa com a libertação da escravidão dos egípcios e a concessão da terra para obter o alimento, morar e criar a família. Para os cristãos, o domingo de Páscoa simboliza a passagem da morte para a vida. Não há como desconsiderar o significado profundo desse tipo de comemoração, independente de religiões ou do credo de quem quer que seja, o que torna a celebração ainda mais especial, um convite ecumênico que congrega pessoas de diferentes credos ou ideologias. Salve todas as festas e congregações religiosas! Salve o Círio de Nazaré e as romarias para Trindade, Santo Expedito e Pirapora do Bom Jesus. Salve também os Batistas, os Presbiterianos, os Adventistas do Sétimo Dia, os Luteranos e Metodistas. Salve os Pentecostais e os Neopentecostais…Salve Ogum, Salve São Jorge, o guerreiro do povo brasileiro!

 

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