Ação orienta mulheres sobre violência doméstica

No aniversário da Lei Maria da Penha, a Rede Mulher Prudentina realiza evento com intervenções e distribuição de informativo a fim de denunciar os feminicídios

PRUDENTE - MARCO VINICIUS ROPELLI

Data 08/08/2019
Horário 05:47
Paulo Miguel - Panfletos informam cidadãos que caminham na Praça Nove de Julho
Paulo Miguel - Panfletos informam cidadãos que caminham na Praça Nove de Julho

Quem visitava a Praça Nove de Julho, em Presidente Prudente, na manhã de ontem, deparou-se com ações diversas que visavam lembrar o aniversário de 13 anos da Lei 11340/06, a conhecida Lei Maria da Penha. No local, além de cartazes e distribuição de panfletos, uma intervenção, com figuras de corpos desenhados no chão ao lado roupas e sapatos femininos, pretendia denunciar o aumento no número de feminicídios no Brasil.

“Desde 2017 tivemos aumento de 87% nesses casos de homicídio, no Brasil. Só em janeiro e fevereiro deste ano, 200 mulheres foram assassinadas por seus companheiros, 40% com uso de arma de fogo. Em Prudente, neste ano, duas mulheres sofreram feminicídios”, expõe a coordenadora do Creas (Centro de Referência Especializada de Assistência Social) de Presidente Prudente, Simone Duran Martinez, 50 anos.

A delegada da DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) de Prudente, Daniela Roefero Marrey Sanchez, 44 anos, afirma que a data é, na verdade, uma forma de divulgação, pois faz com que as pessoas denunciem. “Com o conhecimento da lei, com as mulheres conhecendo seus direitos, se cria um empoderamento social para buscar uma delegacia, o Poder Judiciário, para ir atrás do que elas podem fazer para sair do ciclo de violência”, pontua Daniela.

Estiveram presentes, organizando o evento de conscientização, diversos órgãos públicos que fazem parte da Rede Mulher Prudente, o Creas, a 29ª Subseção da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), a Defensoria Pública, o MPE (Ministério Público do Estado), a DDM, o Hospital Regional (HR) Doutor Domingos Leonardo Cerávolo e o Hospital Estadual Doutor Odilo Antunes de Siqueira. De acordo com a coordenadora do Creas, um dos principais objetivos da ação é “alertar do perigo que é o discurso de estímulo ao armamento da população”. “Para a mulher é um risco ter uma arma de fogo dentro de casa. O discurso de ódio que também vem sendo propagado contra as minorias. O desemprego, as precarizações das condições de trabalho, tudo isso é um coquetel explosivo em relação à proteção da mulher. Nós analisamos que esses fatores estão aumentando os números da violência contra a mulher”, destaca.

A delegada da DDM acredita que ações como as que ocorreram ontem surtem efeitos na população, contribuindo, inclusive, para o aumento de denúncias. “No primeiro semestre fizemos um comparativo com o mesmo período do ano passado, e constatamos um aumento expressivo nos registros e inquéritos policiais. Tivemos um aumento de mais de 100% de pedidos. Isso é o reflexo do conhecimento e da busca pelos direitos. No meu entendimento, o que aumentou foi a notificação, e não os fatos em si,” enfatiza Daniela.

Para todos os sexos

Todos que passavam e se interessavam pela ação, independentemente do sexo, eram informados e orientados em relação à Lei Maria da Penha. O balconista Elias Daniel Lagsbergmamm, 34 anos, recebeu panfletos informativos e conversou com as organizadoras do evento, demostrando grande interesse no assunto. Ele disse viver com quatro mulheres em casa, entre esposa e filhas, e que esta convivência se torna naturalmente um grande aprendizado.

Outra pessoa que marcou presença foi a trancista e artista de rua, Lorenna Aparecida Troqueti da Silva, 20 anos. A jovem soube do evento e decidiu que iria para prestigiar e colaborar com a organização. “É importante que as pessoas vejam e percebam que talvez elas vivam isso no cotidiano e não saibam. As mulheres devem se conscientizar e entender que elas não são obrigadas a ficar onde são agredidas fisicamente, psicologicamente ou verbalmente”, afirma.

O ambiente foi o mais democrático possível, e deu voz, também, aos que prestigiavam a ação. Lorenna, inclusive, teve a oportunidade de recitar um poema de sua autoria e proferir palavras de apoio.

Saiba mais

Existe um modo, para as mulheres que não se sintam a vontade recorram a uma DDM ou Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), e denunciem casos de violência doméstica, ou ainda para quem presencie casos deste tipo. Basta discar 180, o número da Central de Atendimentos à Mulher. A denúncia pode ser anônima, é gratuita e disponível 24 horas.

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