Aceam promove hoje 96ª edição do Shokonsai

Celebrações religiosas e culturais marcam o tradicional evento oriental, no único cemitério japonês do Brasil, em Machado

VARIEDADES - Oslaine Silva

Data 10/07/2016
Horário 10:01
 

Um dia de homenagens em respeito aos antepassados e a fortificação de uma descendência. Assim pode se explicar o tradicional evento oriental, Shokonsai, realizado neste domingo, no Cemitério Japonês de Álvares Machado, chegando em sua 96ª edição. A festa é uma realização da Aceam (Associação Cultural, Esportiva e Agrícola Nipo-Brasileira de Álvares Machado), que aguarda um público visitante em torno de 3 mil pessoas para prestigiarem as celebrações religiosas e culturais.

Segundo Alberto Yukio Nakada, secretário geral da associação, na programação, consta na parte espiritual, a celebração do culto budista na capela do cemitério, às 9h, presidido pelo monge budista Tijin Imura, do Templo Honpa Hongwanji, localizado em Presidente Prudente. Às 11h, reverência e oração pela paz em memória aos soldados falecidos de todas as nações na Segunda Guerra Mundial. Às 11h20, abertura oficial do palco; ao meio-dia, começam as apresentações culturais, com música, karaokê, coral, danças tradicionais e folclóricas japonesas, como taiko, dentre outras atividades, com todas as associações e entidades da região. Às 17h, se dá o encerramento com a dança típica bon odori e o tão esperado ritual das velas.

Jornal O Imparcial Ritual das Velas, com 784 são acesas: um dos momentos mais esperados do evento espiritual

Para Alberto, é sempre emocionante ver o reconhecimento das pessoas que participam do evento. Elas não são apenas os descendentes dos japoneses, mas de diversas etnias e de outras localidades. Dentre os visitantes que recebem nesse dia estão, inclusive, estudantes que o tomam como referência para teses.

"O evento, que mantém a tradição do nosso povo, tem uma repercussão muito valiosa. Estamos aqui, adaptados à sociedade brasileira, fazendo parte desta nação que tanto nos orgulha. Daqui a dois anos, comemoramos o centenário da colônia na cidade, onde está o primeiro templo budista, com 68 anos. E daqui a quatro anos, os cem anos do Shokonsai", ressalta Alberto.

 

Há 96 anos


Shokonsai, que faz em seu significado um "convite às almas para a missa", é uma cerimônia, realizada anualmente no segundo domingo de julho, marcada por ações da cultura japonesa, como comidas típicas, dança e música, além de orações, tudo em reverência e agradecimento à boa colheita, reforçando o propósito do dia.

O momento mais esperado do evento é o do ritual das velas, quando 784 velas, mesmo número de túmulos do cemitério, são acesas. Um silêncio paira no ar, até mesmo a ausência do som do vento pode ser sentida pelas pessoas no local, neste instante.

"Não nos cansamos de mencionar, que desde 1920, em cada nova edição, nunca choveu nesta data. Sem dúvida existe uma força maior, uma energia Divina... Na verdade, acredito que seja a força da fé, que nos permite esse presente. E a história, aqui, mostra isso!", exclama o secretário.

 

História


Alberto comenta que a jovem Massae Watanabe foi a primeira a ser sepultada no cemitério em 1918, quando chegaram os primeiros japoneses na região. Em janeiro de 1919, vieram as famílias Hissakiti Ito, Kurakiti Miyashita e Shiniti Takei. Este último, vítima de febre amarela, faleceu, e teve que ser sepultado no cemitério oficial mais próximo, na cidade de Veado (Presidente Prudente). Seu corpo foi levado até o local numa maca, por duas pessoas que caminharam a pé pelas margens da ferrovia, por 15 quilômetros.

Como na época já imaginavam uma epidemia da doença pela frente e, consequentemente, muitas outras vítimas de tal, começaram a pensar no quanto seria impossível transportar tantos corpos até Veado. Assim, a maioria dos membros da Colônia Japonesa decidiu que o senhor Naoe Ogassawara iria até a sede da comarca, na época, Conceição do Monte Alegre (próxima a Paraguaçu Paulista), para oficializar o Cemitério Japonês de Álvares Machado, que ficaria para utilização exclusiva dos orientais.

Na ocasião, sem nenhuma remuneração, os irmãos Takashi, Shiuma e Takeshi Ogassawara devastaram a mata para abrir a área para o cemitério. Na época, o senhor Kurakiti Miyashita era quem rezava as missas. Foram sepultadas no local 784 pessoas até 1943, quando foram proíbidos novos sepultamentos por ordem do então presidente, Getúlio Vargas, que via o espaço como um ato de discriminação racial.

Segundo Nakada, a responsabilidade de preservação e conservação da necrópole é da Aceam, que foi tombada em 1980, pelo Condephaat (Conselho de Defesa de Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) do Estado de São Paulo, através da Resolução 23, de 11 de julho de 1980, publicada no Diário Oficial no dia 12 de julho do mesmo ano.

 
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