Agente de saúde relata jornada com filhos autistas

De Panorama, Cristiane Santos Guimarães é mãe de Gabriel e Guilherme, diagnosticados com TEA em diferentes fases da vida

REGIÃO - OSLAINE SILVA

Data 02/04/2024
Horário 06:10
Foto: Lumen et Fides
Gabriel e sua mãe Cristiane
Gabriel e sua mãe Cristiane

Quer ver uma mãe bem, basta seu filho estar bem. E com a professora que atua como agente de saúde em sua cidade, Panorama, Cristiane Santos Guimarães, 47 anos, mamãe de Gabriel de 6 anos (grau 1 de autismo), tem sido assim, principalmente com o suporte dado pela Lumen Et Fides, em Presidente Prudente.

“Tem dias que realmente a cabeça da gente dá um nó. E esse grupo de apoio é um fortalecimento, porque é com uma psicóloga, tem depoimento das outras mães, isso ajuda muito. Ou seja, não é apenas o meu filho que tem o acompanhamento na Lumen. Eu também. É um trabalho, uma assistência completa”, expõe a mãe de Gabriel, que viveu uma luta com seu filho até chegar à Lumen Et Fides, onde “teve a bênção” de participar das atividades com seu filho num horário que tem um grupo de apoio para as mães. 

“Era uma luta. Eu chorava, ele se jogava no chão, eu o segurava e ele me chutava, não obedecia aos comandos, não falava. Meu filho aprendeu a falar na Lumen. Depois que comecei a vir aqui, meu filho é outra criança hoje! Fala com dificuldade ainda, mas é possível entendê-lo. Ele já consegue se expressar, obedece”, se emociona Cristiane.

A agente de saúde narra que seu pequeno era uma criança extremamente agitada, passando por vários profissionais até chegar ao diagnóstico de autismo e hiperatividade. Com 1 ano e 10 meses, uma professora dele fez a observação que o garotinho tinha autismo. Mas, segundo Cristiane, nenhum profissional aceitou. Na verdade, conforme ela, o laudo só foi concluído quando seu pequeno já estava com 5 anos, pelo médico Armênio, depois da avaliação da psicóloga, fonoaudióloga e terapeuta ocupacional. 

Entender para acolher

Gabriel faz parte da Lumen desde janeiro de 2022. E não apenas o comportamento do seu filho mudou, mas sua visão sobre o autismo e a hiperatividade. Porque primeiramente o tratamento foi com ela mesma. “Eu precisei entender para poder acolher. Quando meus horizontes se abriram, vi meu filho de outra maneira. Comecei a entender quando era crise e quando era birra. O acolhimento mudou”, salienta. 

Detalhe, durante o processo de Gabriel, o filho mais velho, Guilherme, 16 anos, também foi diagnosticado com autismo. Ela conta que sempre achou que tinha alguma coisa errada com o mais velho. “Ele era muito recluso, muito quieto, não gostava de sair pra lugar nenhum. Nunca foi sociável, de fazer amizades, nada.  Na escola diziam que não, que ele só era muito tímido”, relata. 

Certa vez, ela comentou com o médico: “Doutor, meu filho começou a andar na ponta do pé, isso porque os dois tem esse problema, né?”. Ele então a mandou colocá-lo para andar descalço. “Levei ao otorrino para ver se ele tinha algum problema de audição, porque podia gritar perto dele e ele, ali parado, parecia estar no mundo da lua. Eu tinha que tocar nele para que olhasse para mim. ‘Ah, mãe, seu filho escuta melhor do que eu e você juntos. Não tem nada’. Aí, quando meu filho fez 16 anos, teve uma crise muito forte de pânico, de ansiedade, que tive que correr atrás”, conta. 

Seis meses depois, quando a psicóloga a chamou e confirmou, Cristiane disse não ter ficado surpresa, pois já suspeitava de algo errado. “Eu disse que tinha certeza de que ele tinha alguma coisa, só não sabia dar um nome”, destaca. 

Sensação libertadora

Como Cristiane estava estudando sobre o autismo por conta do caçula, ela narra como “libertador”. “Porque a partir do momento que se descobre que um filho tem tal dificuldade, você começa a trabalhá-la para a sua melhora. A partir dali, é outra coisa. Meu filho mais velho também é um outro rapaz hoje. Na época, estava no segundo ano do ensino médio e nunca tinha feito trabalhos em grupo. Depois das terapias, da estimulação da psicóloga, que foi maravilhosa, até isso mudou”, rememora.

Um era diferente do outro. Enquanto o mais velho, Guilherme, se fechava, o outro, Gabriel, era totalmente aberto, sociável. Tanto que ela chegou a cogitar com o médico a possibilidade do diagnóstico de Gabriel estar errado porque ele brincava com todo mundo, ele se socializava. Ele então respondeu que não, que seu filho era sim autista. E que não tinha nada de errado nisso. “Que a gente só precisava aprender a viver, ensinar. Isso foi muito gratificante pra mim. Ele perguntou: ‘Desde quando você está fazendo terapias com ele, correndo atrás? Já tem mais de um ano, não é? Então, tudo isso é pra que o problema não atrapalhe a vida dele. Que fique tão simples que seja imperceptível. É esse o objetivo. E você está conseguindo, mãe’. E eu vibrei com aquilo!”, exclama Cristiane.

Desafios dentro e fora de casa

Para Cristiane, o principal desafio vem de dentro de casa, pois o pai até hoje não aceita. Por mais que ela explique que o autismo não é uma doença, ele diz que ela está buscando doença. Que o filho não tem necessidade nenhuma disso. Lá fora, segundo ela, são comuns, quando o filho faz alguma birra, os olhares de desaprovação. “Isso machuca uma mãe de um jeito que as pessoas não tem ideia. Tanto que quando tem muita gente, eu não me arrisco ir com o Gabriel em lugar algum, porque ele fica agitado”, expõe.

E as lutas vencidas para ela é ver o filho avançando, conseguindo ler pequenas palavras, começando a falar.

“As pessoas apontam ainda, os olhares são diferentes. Olham para o Gabriel e dizem coisa do tipo: ‘nossa, mas ele é tão grande e não fala direito?’; ‘Nossa, mãe, andar na ponta dos pés é porque você não põe de castigo, não impõe limites’. Já com o mais velho é: ‘menino estranho’. Isso porque ele é muito quieto, superinteligente, muito organizado. E não são só as pessoas na rua, mas profissionais também”, relata Cristiane.

O autismo é, sim, belo!

A mãe de Gabriel deixa uma mensagem às pessoas e às mães que ainda não aceitam as suspeitas de profissionais. Primeiro, ela acentua que o autismo existe. E que não é uma pessoa doente, mas uma pessoa bela, com coração e sentimentos, que precisa de muito amor e acolhimento. “Se não conhece, procure conhecer. Eu não sabia que existiam tantas características. Hoje eu vejo que o autismo é amplo, é lindo. Não é uma coisa feia, não. O autismo é lindo. Eu vejo as crianças na Lumen, cada uma com seu jeitinho, com sua beleza, sua sensibilidade”, acentua Cristiane, que foi estudar o autismo, sentou com psicóloga, terapeuta, psiquiatra e neurologista, tudo para abrir seus horizontes e entender que o seu filho não é doente, mas uma benção. 

Publicidade

Veja também