Agripino Lima é homenageado com estátua no Shopping Popular

Inauguração ocorreu na manhã de sábado, na Praça da Bandeira; Camelódromo foi criado pelo ex-prefeito com intuito de tirar boxistas da clandestinidade

PRUDENTE - DA REDAÇÃO

Data 02/10/2023
Horário 16:02
Foto: Ector Gervasoni/Unoeste
Filho de Agripino, Cesar Lima, ao lado da estátua de seu pai, no Shopping Popular de Prudente
Filho de Agripino, Cesar Lima, ao lado da estátua de seu pai, no Shopping Popular de Prudente

Em um banco do Shopping Popular "Ana Cardoso Maia de Oliveira Lima", em Presidente Prudente, a estátua de Agripino de Oliveira Lima (1931-2018) eterniza o seu nome como criador do espaço, onde era assíduo frequentador e que há 30 anos passou a abrigar vendedores ambulantes, conhecidos como camelôs e que viviam na clandestinidade.

A inauguração da estátua ocorreu na manhã de sábado em solenidade com as presenças do prefeito Ed Thomas (sem partido) e do diretor geral da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), Augusto Cesar de Oliveira Lima.

Em 1993, no primeiro ano da primeira de três gestões como prefeito, Agripino Lima abraçou a causa das pessoas que adotaram a venda ambulante como alternativa para obter o ganha pão, após a recessão econômica dos anos 1980, em tempo de crise da dívida externa brasileira e da elevação das taxas de desemprego. Parte dos trabalhadores ocupava a Praça Nove de Julho, no centro de Presidente Prudente, e outros espaços centrais.

O então prefeito Agripino Lima tomou a decisão de abrigá-los na Praça da Bandeira, também no centro da cidade. A luta continuou com vários embates: dos que não queriam que a situação dos ambulantes fosse legalizada, para que não fossem concorrentes do comércio formal, e do Ministério Público do Meio Ambiente pela ocupação da praça. Segundo a universidade que fundou, "Agripino foi determinado e persistente, comportamento típico do seu perfil forjado desde criança, que até os quatro anos não andava".

Determinação, persistência e fé

Na solenidade, coube ao jornalista Homéro Ferreira falar desse perfil para entender a relação da ilustre figura homenageada postumamente com a causa que resolveu abraçar, por entender que os camelôs estariam sendo injustiçados caso permanecessem na clandestinidade. Durante quatro anos, Agripino Lima, na fazenda onde nasceu em Lençóis Paulista (SP), era carregado pelos irmãos mais velhos. Recebia atendimento médico, mas a crença na fala de um vizinho japonês pode ter ajudado a andar.

O vizinho disse que tomate tinha propriedades que poderiam fortalecer as pernas do menino e, apesar de sua pouca idade, conforme suas irmãs Mariinha e Adile, que moram em Garça (SP), “Pino” – como era chamado pelos 11 irmãos e os pais Agripino e Silvéria – comia o fruto até no pé. A determinação e a persistência, aliadas à fé cristã, estiveram presentes em sua vida toda, dando mais atenção ao trabalho do que à sorte do irmão mais velho, dentre os homens, que ganhou duas vezes na loteria federal.

Abraço à causa dos camelôs

Pela primeira vez em que a sorte grande lhe sorriu, em 1938, Lúcio de Oliveira Lima Sobrinho ajudou o pai a comprar um galpão de quatro portas e montar armazém de secos e molhados em Borebi (SP). Na segunda vez, em 1952, já estava estabelecido em Garça como dono de posto de combustíveis e passou a ser cafeicultor e pecuarista. O segundo armazém do pai foi em Garça, onde Agripino Lima conheceu e casou-se com Ana Cardoso Maia e tiveram os três primeiros de quatro filhos antes de se mudarem para Prudente.

O perfil comportamental e a confiança em Deus, associados ao fato de ter trabalhado no comércio com o pai e em Prudente ter sido vendedor de livros para completar a renda do casal de professores, provavelmente moveram Agripino Lima a adotar a causa social dos ambulantes de diversos artigos, com os quais estabeleceu relação de amor mútuo. Daí, o Camelódromo, como até então era chamado, ser um lugar onde se sentia bem, ao ponto de, já aposentado, ir lá duas vezes por dia: cedo e à tarde.

Cuidando de gente

O prefeito Ed Thomas disse que Agripino Lima ajudou a construir a cidade na condição de visionário, olhando para a frente, e que, no caso do Shopping Popular, cuidou de gente, acima de tudo. Lembrou que era um lugar onde o ex-prefeito conversava com o povo, sorria e tomava café. Momento em que chamou o comerciante Manoel Abrahão Lemos Neto, que era dono do Café Marroquino, para testemunhar a presença constante e agradável do famoso cliente.

O vice-prefeito Izaque Silva (PL) disse que Agripino Lima amparou os ambulantes que viviam perambulando pela cidade. O agropecuarista Thiago Jacinto, se apresentando como fã número 1 do homenageado, falou que ele foi importante para Prudente e região. Douglas de Almeida Neves, boxista do Shopping Popular, afirmou que Agripino Lima lhes deu dignidade.

Legado do casal

Agradecido e emocionado, Cesar Lima comentou que seu pai vivia pelo menos 20 anos à frente do seu próprio tempo e que, junto com a sua mãe Dona Ana, "fez da Unoeste referência para o Brasil e até no exterior, com profissionais formados pela universidade trabalhando em vários países, inclusive em posições de destaque". Ao lembrar que seu pai dizia que ninguém faz nada sozinho, citou as suas irmãs Regina e Ana Cristina para dizer que estão juntos na missão de dar continuidade ao legado recebido.

Durante a solenidade, ocorreu a assinatura do termo de compromisso de 63 boxistas, em uma segunda etapa de ocupação após a nova construção do Shopping Popular. Agora, são 178 boxistas com a permissão, restando 62 de 240, conforme a secretária municipal de Desenvolvimento Econômico, Ana Paula Atayde Setti.

O secretário municipal de Obras e Serviços Públicos, Mateus Grosso, anunciou alguns ajustes no espaço recém-inaugurado em 1º de julho.

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