Ah que saudades dos comícios de outrora

Persio Isaac

CRÔNICA - Persio Isaac

Data 08/11/2020
Horário 08:00

Estamos no ano das eleições. Faltam poucos dias para que os brasileiros escolham seus prefeitos e vereadores. São tempos diferentes daqueles que vivi na minha juventude. Ficou tudo muito chato. Tudo muito politicamente correto. Quem se lembra dos comícios? Era um show à parte. 
Na década de 60, me lembro do maior comício que assisti, na Praça da Bandeira. Os candidatos eram Watal Ishibashi contra Walter Lemes Soares. O preconceito era latente. Não votem em japonês, era o que se pregava, pensamento estúpido e atrasado. Valia tudo nessa época para ganhar as eleições. O slogan da campanha do Watal refletia o contexto econômico representado pelo modo de se fazer as campanhas eleitorais: “O tostão contra o milhão”. Walter Lemes foi o vencedor e se tornou um excelente prefeito. Watal Ishibashi conseguiu sua vitória tempos depois e também deixou seu nome na nossa história como um ótimo chefe do Executivo. Os comícios eram lotados com shows musicais e com os rojões estourando no céu, nos discursos inflamados dos candidatos. 
Me lembro de um comício que foi na Barão do Rio Branco, bem próximo a Catedral.  O candidato Toninho Zacharias,  no seu discurso inicial, homenageia sua mãe, Da. Matilde, que emociona a plateia. O palanque estava lotado de candidatos e não candidatos. Chegou um candidato a vereador pra lá de Bagdá, altamente alcoolizado, pegou o microfone para falar. O povão atento. O candidato embriagado começa o seu emblemático discurso: Povo da minha terra, venho aqui alertá-los para não votar no fulano de tal, pois ele é um pilantra, biscateiro e ladrão. Minha Nossa Senhora, o povão deu aquele sonoro ohhhhh.
Para completar, o tal fulano de tal estava presente e não se conteve, partindo pra cima do alcoólatra, dando-lhe uma porrada por trás, que este rodopiou caindo no chão do palanque.  Que foi isso? Foi um pombo sem asa? Disse o candidato alcoólatra, anestesiado pelo prazer etílico. Os familiares e alguns simpatizantes do candidato bêbado partiram pra cima do tal candidato ladrão, fechando o pau na casa da Noca, como se costumava dizer.  O povão foi à loucura. O circo estava armado e o diabo sorrindo. Aquele quebra pau generalizado acabou comprometendo a frágil estrutura de madeira e o palanque acabou desabando. Um vexame que entrou para a história dos comícios da nossa sagrada aldeia. 
Outro comício que me lembro foi quando o candidato era o lendário professor Agripino. Depois de vários candidatos discursarem, chegou a vez de um candidato a vereador de descendência japonesa falar. Começa o seu discurso carregado de sotaque: “Vocês brasileiros e suas famílias têm que votar no Prof.  Gripino, “vai ser bom para suas mulheres”. Os maridos, os namorados não entenderam nada. Como bom para suas mulheres? Tentaram tirar o microfone dele, mas este como um bom samurai, continuou com seu discurso cheio de frases de efeito: “Vocês têm que tomar cuidado com os comunistas, tem que tomar cuidado pois “os canhões da Tchecoslováquia” estão apontados para cá. Que isso? Aí o povão não entendeu mais nada e começaram a debandar com medo de uma terceira guerra mundial.  
Outro comício hilariante foi quando o prefeito estava apoiando seu candidato contra um candidato que diziam que era homossexual. Começa o discurso: “Povo da minha terra, como vocês vão votar num candidato que não tem dó do próprio fiofó, imaginem se ele terá dó do fiofó de vocês”. Espanto geral e gargalhadas explodiram nesse comício. Se fosse hoje, o prefeito seria algemado e condenado por homofobia. O discurso continua nesse diapasão: “O meu candidato é homem e tem mulher, ela é feia demais, mas é mulher”. A mulher estava ao lado do marido candidato que sorriu sem graça junto com as gargalhadas do povão. A pobre mulher teve que se comportar como uma futura primeira-dama.  Vejam vocês. 

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