Em ano eleitoral ganha evidência o debate sobre a importância e a representatividade da mulher na política partidária brasileira. No dia 14 do mês passado, a coluna Plantão contou que em 102 anos de Presidente Prudente, prestes a completar 103 no dia 14 de setembro, se passaram 75 anos para que fosse eleita a primeira mulher vereadora. Nos 37 anos restantes, somente 10 vereadoras, dentre as quais a professora Alba Lucena Fernandes Gandia, que é detentora de sete mandatos. Façanha digna de honra ao mérito, por lutar e vencer não só por ela, mas pelas mulheres que clamam por voz e vez na política que interfere decisivamente na vida das pessoas, para o bem ou para o mal.
Alba segue o histórico familiar de mulheres protagonistas e mantenedoras, advindo de sua avó Leopoldina, viúva com 12 filhos aos quais sustentava lavando roupa no Rio Santa Maria e ainda assim participava da política na tríplice fronteira de Brasil, Uruguai e Argentina. Mesmo com carga horária de aulas na rede pública e em instituições particulares, Alba manteve anos seguidos de estudos, para além de sua formação inicial em História no campus da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Assis. A formação continuada compreende especialização e a titulação de mestre em educação. Além do que, ficou viúva e deu boas formações para suas quatro filhas.
Não bastasse, ela se engajou na vida pública. Tudo começou com o movimento pelo calçadão em frente à Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), na Rua José Bongiovani. Documento com 9 mil assinaturas foi apresentado ao diretor geral Agripino de Oliveira Lima Filho e levado ao prefeito Virgilio Tiezzi Júnior, que depois de alguma insistência cedeu ao pedido. Então, os alunos incentivaram Alba a ingressar na vida pública. Fizeram mais: solicitaram o apadrinhamento do professor Agripino, que foi o ponto de partida para uma caminhada vitoriosa. Hoje, Alba é a vereadora com mais tempo de exercício do cargo na Câmara Municipal de Presidente Prudente.
Alba está entre as pessoas que merecem o título de Cidadã Prudentina, por sua história como educadora e como política ficha limpa
Está no sétimo mandato, assim como seu colega Izaque Silva. Porém, cumpriu um mandato antes do dele e agora até poderia estar no oitavo, mas em 2000 abriu mão de buscar a reeleição para apoiar a candidatura da também professora Ana Cardoso Maia de Oliveira Lima, então reitora da Unoeste. Ainda que tenha sido a segunda mulher a se eleger vereadora em Prudente, no ano de 1988, entrou para a história como a primeira a concluir o mandato. Onaide Cottini Felix, a primeira eleita, em 1982, não concluiu o mandato. Também está na história como a primeira e única mulher eleita presidente da Câmara, que em 94 anos teve apenas 3,3% mulheres vereadoras.
Tanto como professora quanto vereadora, Alba tem uma vasta folha de bons serviços prestados à cidade, proporcionando melhorias e conquistas para os mais diferentes segmentos. Em relação às mulheres, entre outros feitos é a fundadora do Conselho Municipal da Condição Feminina, por onde passam as discussões de políticas públicas do gênero. Ainda recentemente apresentou na Câmara e obteve aprovação do projeto de criação do Programa de Assistência Integral da Saúde da Mulher, definindo diretrizes para implementarem serviços e ações. São milhares de indicações, requerimentos e projetos formulados ao longo de mais de 25 anos.
Natural de Getúlio Vargas (RS), na região de Erechim, filha única de Joaquim da Silva Fernandes e Diva Lopes da Silva, com quem vive até hoje, Alba tem quatro filhas médicas: as doutoras Deusita, Sulamita, Karita e Talita. São três genros e três netos. Quando Alba era menina, sua família mudou-se para Paraguaçu Paulista (SP), onde fez o ensino básico no colégio do Instituto Gammon, no qual também deu aulas quando estava fazendo a sua primeira graduação, a de História, em Assis. Também é graduada em Estudos Sociais e Pedagogia, na Unoeste. Possui três especializações pela Unesp, Mackenzie e USP (Universidade de São Paulo). Sua vinda a Prudente foi para dar aulas. Foi casada com Nilmar Gandia, que morreu aos 46 anos de idade.
É especialista em metodologia do ensino superior, problemas brasileiros e sociologia. É mestre em educação pela Unoeste, com pesquisa e dissertação sobre mulher na política, educação e gênero, com foco no compromisso com a cidadania plena. Na USP teve a oportunidade de conviver com professores que estão inseridos na história do Brasil: Ruth Cardoso, Florestan Fernandes e Fernando Henrique Cardoso. No ensino superior, são mais de 40 anos de Unoeste como professora e coordenadora. Também já lecionou no Centro Universitário Toledo.
Por ocasião do Programa Universidade Solidária, no governo FHC, Alba fez parte da comitiva da Unoeste, que realizou ações educacionais no interior da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Dentre outros prêmios, recebeu em nível nacional a Medalha de Honra ao Mérito Tiradentes. Alba está entre as pessoas que merecem o título de Cidadã Prudentina, por sua história como educadora e como política ficha limpa, com vasta folha de serviços prestados à cidade, em prol de uma sociedade mais igualitária, cujos projetos estão voltados para reduzir desigualdades, sem a bandeira sexista.
Fotos: Cedidas
Alba com sua mãe de 90 anos e as suas quatro filhas
Homenagem nacional: Medalha Tiradentes
Agripino Lima: padrinho político de Alba Lucena
Alba Lucena com as filhas quando meninas
Alba Lucena com a sua mãe Diva e o seus três netos