O sábado ardia, mas não um fogo ameno que aquece a pele. Era um calor que sufocava a alma, que vinha de dentro para fora, como se o sol estivesse em luto. Na beira da piscina, onde a vida costumava pulsar com risadas e mergulhos, o tempo parou. Os copos de cerveja, suados e prometendo um frescor que não veio, testemunhavam a quietude da mesa. O líquido dourado e espumante tornou-se amargo, um veneno que desceu pela garganta, não para matar, mas para lembrar da mortalidade.
A pergunta veio em um sussurro, mas ecoou como um grito na alma de cada um: "Estão sabendo do Vendra?". O nome, antes sinônimo de força e vida, agora era um presságio. A resposta, um soco no estômago, tirou o ar: "câncer no fígado". A notícia era um drible impossível, uma jogada cruel do destino que nem o craque, com sua leveza e agilidade, poderia desviar.
A mesa, antes palco de conversas animadas, transformou-se em um templo de memórias. O Dr. José Roberto Marcondes, com o coração partido, murmurou sobre o Vendra, seu ídolo, o homem que ele acreditava ser imortal. A incredulidade era a única verdade. Como pode um gigante, um poeta da bola, sucumbir a algo trágico? A lembrança do Mediterrane, nosso time dos sonhos, onde todos os sábados jogávamos no Prudentão. Sua impulsão que fazia o "Vendranminson", como eu o chamava, um exímio cabeceador, um centroavante fatal com um tempo de bola inigualável, era a única forma de nós protestarmos contra a realidade. Lembro que vi ele jogar no nosso inesquecível Corintinha junto com Marinho Artoni (in memoriam), Cabrita (in memoriam) e Beto Benitez.
Em cada história, em cada gol, em cada drible, nós revivíamos o amigo. O Vendra que driblava a zaga inteira, o Vendra que parecia voar, o Vendra que fazia da quadra e do campo uma tela em que pintava obras-primas. Eles se agarravam a essas lembranças como náufragos em meio a uma tempestade. O Roy, sem chão, o Valmir, resgatando as histórias deliciosas, o Tiago, inconsolável na praia, todos eles em uníssono, reconheciam o craque que o Vendra era.
Os tempos de ouro como técnico de basquete da Prudentina com a Rainha Hortência e suas inúmeras conquistas e títulos jamais serão esquecidas. O Clube das Bandeiras da cidade de Osvaldo Cruz foi outro grande feito esportivo no basquete junto com seu irmão Helinho e com seu Abel, um empresário mecenas do esporte.
A fragilidade da vida, essa peça imprevisível, tinha dado mais uma de suas voltas amargas, mostrando que a morte não escolhe heróis. E assim, entre goles de cerveja que agora desciam mais amargos e olhares perdidos no horizonte, eles homenageavam o amigo que estava enfrentando o mais cruel adversário da vida, mas que para eles, Antonio Carlos Vendramini, será sempre imortal. Porque a imortalidade, eles sabem, não está na ausência da morte, mas na força da lembrança. E a memória do craque e do amigo querido jamais morrerá.
Na manhã do dia 31 de julho de 2025, recebo a triste notícia do querido amigo Zezão Siquieri, que o nosso craque deixou esse mundo e foi mostrar seu enorme talento no infinito. Salve Antonio Carlos Vendramini, o nosso craque imortal.