Após 4 semanas da cirurgia de separação, gêmeas de Piquerobi recebem alta do CTI pediátrico; veja fotos

Allana e Mariah, de 2 anos, foram transferidas para quarto na tarde desta quarta-feira; equipe agora planeja alta hospitalar, que deve acontecer dentro de algumas semanas

REGIÃO - DA REDAÇÃO

Data 22/09/2023
Horário 11:46
Foto: Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto
Talita (mãe), Allana, Mariah e Vinicius (pai)
Talita (mãe), Allana, Mariah e Vinicius (pai)

Após quatro semanas de internação no CTI (Centro de Terapia Intensiva) do HC Criança, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto (SP), as gêmeas de Piquerobi, Allana e Mariah, de 2 anos, foram transferidas para o quarto na tarde desta quarta-feira.

Segundo o hospital, em um mês, as meninas apresentaram um bom progresso na recuperação. "Estão conscientes, brincam, se alimentam via oral e interagem entre si e com os pais, Talita e Vinícius Cestari", comunicou a unidade em nota.

Foto: Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto - Meninas estão aos cuidados dos pais, Talita e Vinicius

“É um importante passo, a fase mais complicada do pós-operatório já passou. Os dois momentos mais decisivos são a última cirurgia - a mais complexa -, em que ocorre a separação completa dos cérebros e a reparação dos crânios e peles das cabeças, e também o pós-operatório, com a observação rigorosa das crianças. Por 32 dias, cada etapa da recuperação delas foi acompanhada meticulosamente”, afirma Hélio Rubens Machado, chefe do setor de Neurocirurgia Pediátrica e líder da equipe.

Os pais das meninas estão muito confiantes e animados. A mãe, Talita Cestari, conta emocionada: “É uma sensação de gratidão, de etapa vencida e alegria ao ver cada pequena em uma cama. Nós entregamos e confiamos aos médicos, enfermeiros e equipe multidisciplinar as meninas. Agora, estamos vendo elas superbem, reagindo mais e mais a cada dia”.

A equipe médica também comemora cada passo importante do caso. Hélio explica que a recuperação cirúrgica de crianças é melhor que a de adultos. “A evolução da Allana e da Mariah está sendo fantástica. A recuperação delas surpreende até a nossa equipe, que está habituada a lidar com problemas deste tipo”, completa.

A equipe segue acompanhando as gêmeas na Enfermaria e agora planeja a alta hospitalar, que deve acontecer dentro de algumas semanas. 

Foto: Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto - Mariah à esquerda e Allana à direita

Foto: Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto - Gêmeas foram transferidas para quarto

Foto: Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto - Allana e Mariah passaram por cirurgia de separação no dia 20 de agosto

Separação total

A última cirurgia para separação total das gêmeas terminou às 8h do dia 20 de agosto (domingo). O procedimento, que começou no sábado, durou cerca de 25 horas e envolveu 50 profissionais.

A equipe de neurocirurgia do hospital, liderada pelo médico Hélio Rubens Machado, fez a dissecção de cerca de 25% dos vasos sanguíneos restantes. Os demais 75% já haviam sido separados nas três neurocirurgias anteriores, que ocorreram em agosto e novembro de 2022 e março deste ano.

A equipe da cirurgia plástica, liderada pelo médico Jayme Farina Junior, foi responsável pela cranioplastia. O procedimento fez o fechamento da calota craniana e da pele que recobre a cabeça de cada uma das meninas.

A técnica utilizada foi desenvolvida e aprimorada pelo médico norte-americano James Goodrich. “Até os anos 1990, a cirurgia era realizada em só uma oportunidade. Com isso, os cirurgiões passavam de 24 até 36 horas no centro cirúrgico e os resultados não eram efetivos, já que fazer a separação de toda a circulação que se comunica parcialmente em uma única vez trazia um sério comprometimento cerebral para as crianças e poucas sobreviviam”, explica o chefe do setor de Neurocirurgia Pediátrica, Hélio Rubens Machado. “Assim, ele [Goodrich] desenvolveu a técnica chamada de estagiada: são quatro etapas como se fossem os pontos cardeais, completando todo o perímetro”, completa.

A equipe multidisciplinar acompanha as meninas desde 2021, quando ainda estavam na barriga da mãe.

Incidência rara

A incidência de gêmeos unidos pela cabeça é extremamente rara, representando um caso em cada 2,5 milhões de nascimentos.  

No Brasil, a primeira separação de siamesas craniópagas, as gêmeas Maria Ysadora e Maria Ysabelle, ocorreu em outubro de 2018 – após cinco procedimentos cirúrgicos – pela equipe do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. O caso foi acompanhado pelo próprio médico James Goodrich, referência internacional em intervenções com gêmeos siameses e que faleceu por Covid-19 em 2020. 

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