Formalmente, as fases da vida, após o nascimento, são infância, adolescência, adultez jovem, adultez de meia-idade e senescência. Cada fase tem suas características e complexidade que podem ser descritas num livro de 500 páginas ou mais. Mesmo as crianças ainda se desenvolvendo, aprendendo e com mínimo de discernimento têm suas prioridades, mesmo não sendo racionais, no conceito dos adultos. Aqui nos interessam as prioridades de saúde na adultez de meia-idade e transição para senescência.
PROFISSIONAL
Até o início da adultez jovem a pessoa está em formação, procurando por sua colocação no mercado de trabalho e sua independência econômica e dos pais. Essa é a prioridade e tudo mais é secundário para a maioria, inclusive aspectos de saúde. Verdade que esses jovens frequentam academias e praticam outros esportes e treinamentos, porém por razões estéticas (mais músculos e menos gordura), sociais (querem fazer parte do “grupo”) e de desempenho (participação em competições).
CONSOLIDAÇÃO
As décadas dos 20+ e 30+ normalmente são dedicadas à afirmação, estabilização e consolidação profissional. Não por acaso, até mesmo os relacionamentos amorosos, que exigem compromisso mais ativo, são relegados ao segundo ou terceiro planos. Casamentos e uniões têm sido mais tardios. É um período no qual poucos pensam em sua saúde, além dos cuidados essenciais básicos. Pelo contrário, muitos desses adultos consomem drogas legais e ilegais e até medicamentos (hormônios e outros) para estética, para ganhar músculos e perder gordura, para dormir ou ficar acordado, prazer sexual e outras finalidades. Abusam das capacidades fisiológicas de um corpo jovem de metabolizar, tolerar, “e se livrar” daquilo que é lixo para a saúde.
ALERTA E PREÇO
Observe na família, na vizinhança e locais públicos, quantas pessoas que estão atravessando a década dos 40+ convivem com sobrepeso, obesidade e são visivelmente sedentárias. É o resultado de duas décadas nas quais a saúde não estava entre as cinco ou dez prioridades. Esses aspectos visíveis representam uma fração dos problemas que podem estar carcomendo a pessoa 40+ por dentro e começam a disparar alertas: hipertensão arterial, resistência à insulina e diabetes, hiperlipidemia (colesterol alto), aterosclerose e outros. Significa que o corpo já começa a ser menos tolerante e cobrar o preço pelos anos de abusos e negligência com a saúde.
“Na meia-idade, condutas que deveriam ter sido padrão anteriormente, como prática de exercícios, dieta adequada e sono, não podem mais ser adiados”
CONFLITO
Nas décadas dos 40+ e 50+, a vida profissional já se consolidou e está no auge, em muitos casos, continuando a ser prioridade. A família está constituída e também é uma prioridade. Os cuidados com a saúde deveriam encerrar o tripé de prioridades. Ao contrário de um conflito entre estes três aspectos relevantes, deve-se procurar um equilíbrio, mesmo não havendo proporcionalidade exata entre eles. Por vezes (semanas ou meses), o trabalho estará no topo, em outras a família e em outras a saúde, como nas ocasiões das consultas médicas, checkups e eventuais terapias.
JOGO INFINITO
A década de 50+ deve ser considerada como de transição para a senescência, da gerontologia preventiva, e encarada como uma fase de preparação para as mudanças fisiológicas, cognitivas, emocionais e comportamentais significativas que virão. Condutas que deveriam ter sido padrão nas décadas anteriores, como comportamento ativo, prática de exercícios, dieta adequada, sono de qualidade, etc, não podem mais ser adiados, sob pena de abreviar significativamente a expectativa de vida individual. Pelo contrário, são comportamentos de um jogo infinito. No final dos 50+ e início dos 60+, a prioridade é cuidar dos músculos para manutenção das funções fisiológicas, das capacidades funcionais, prevenção terciária (evitar o agravamento) das doenças já estabelecidas e seguir com saúde e qualidade de vida para continuar trabalhando de forma produtiva e para cuidar e aproveitar com a família.
Referências
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