Esses dias estava eu admirando minhas orquídeas, as amarrei nos troncos de minhas árvores, em frente à minha casa. Algumas orquídeas que ganho embelezam a casa primeiro e depois, quando suas belas flores caem, eu escolho um local nos troncos para plantá-las. Comecei a observar que todas estavam com botões, prestes a abrir. Ia lá toda noite e permanecia conversando com elas, esperançosa pelo desabrochar dos botões.
Estamos no inverno e quase não vi as formigas. Para falar a verdade, nem pensei nelas. Parte dos botões de minhas orquídeas, certo dia, começou a abrir. Que alegria! Fui acompanhando e contemplando uma a uma. A contemplação de minhas orquídeas pelas formigas foi bem diferente da minha. Penso que nesse inverno elas não calcularam bem, o tanto de comida que precisariam para suprir todas elas.
Elas estavam contemplando o vigor das flores para devorá-las, e assim fizeram em uma noite que fui vê-las. Fiquei desesperada com as saúvas cortadeiras, eram gigantes e cabeçudas. Já haviam triturado as brancas, roxas e rosas. O piso estava forrado de formigas, todas alopradas e carregando a sua parte para o seu formigueiro, a fila era interminável. Subiam e desciam os troncos carregando os restos das flores pelo chão. Elas, naquela noite, abasteceram o celeiro. Confesso que permaneci atônita. Não tive a chance de contemplar as floradas. Fiquei revoltada com as formigas.
O mais interessante é que fui ler a Bíblia certo dia desses, e abri em Provérbios 6-11 e fala sobre preguiça. E diz assim: “Vai, ó preguiçoso, ter com a formiga, observa seu proceder e torna-te sábio: ela não tem chefe, nem inspetor, nem mestre; prepara no verão sua provisão, apanha no tempo da ceifa sua comida. Até quando, ó preguiçoso, dormirás? Quando te levantarás de teu sono? Um pouco para dormir, outro pouco para dormitar, outro pouco para cruzar as mãos no seu leito, e a indigência virá sobre ti como um ladrão, a pobreza, como um homem armado”!
Lembrei da fábula “A cigarra e a formiga”. É bem verdade e fato, e assim... resolvi deixar as formigas em paz, afinal, elas também nos inspiram de alguma forma. Plantarei minhas orquídeas em outro lugar.
