Autonomia

Penso que a autonomia é um processo que inicia-se na relação com a mãe. A confiança é a coluna vertebral em direção à estabilização emocional. É algo que constrói-se, internamente. No início da vida, aspectos do universo exterior fazem-se desnecessários. Autonomia necessita de crença, fé, esperança, amor, confiança, ética e intimidade. É no ritmo constante de experiências emocionais com a mãe, que o bebê inicia seu processo de subjetividade, ou seja, a construção de sua verdadeira essência, identidade. É a necessidade de uma mãe que compareça, que esteja ali, para intuir e digerir as necessidades e demandas. 
O bebê quando sente um desconforto e desconhece sobre seu fundamento, necessita que alguém acolha essa incompreensão, digira seu enigma, e devolva resolvido, para que acalme seu estado de terror. São da ordem da sensorialidade ainda, e de profundo desconhecimento do que seria. Repete-se um cotidiano, onde o próprio bebê faz parceria com esse ser-mãe, ou outra pessoa que possua essa condição psicológica-maternal. Pode ser a mãe adotiva, funcionária da creche, instituição, etc. 
Após o bebê ter internalizado essa mãe suficientemente boa, estabelece-se a função paterna, em continuidade ao processo, em direção à construção da autonomia. É a presença do outro, é a construção do eu e não-eu. Há alguém que também divide a mãe com esse novo ser. É a entrada das interdições. A criança deixa de ser sua majestade o bebê. É o processo da triangulação, onde inicia modulações entre posso e não posso, tolerância e intolerâncias, princípio do prazer e princípio da realidade, etc. Há necessidade de acolhimento, afeto, costumes e hábitos que mantém a criança viva. 
A autonomia é um processo que constrói-se, gradativamente, e é fundamental para todo o edifício evolutivo de uma vida. É um aparato, muleta, prótese, andaime, seja lá o que for, que acompanhará a infância, adolescência, fase adulta e idosa. A falta de autonomia gera um ser em constante angústia, ansiedade, inibição, inquietude, várias doenças psicossomáticas, depressão, etc. A falta de confiança em si mesmo, pela falta de autonomia, é como se fosse uma ferida que nunca cicatriza. A pessoa fusiona-se ou entra num processo simbiótico, onde resiste em fazer escolhas, tomar decisões, seguir uma direção, medo de errar, ou seja, a dependência gera prisão.
A falta de autonomia ou subjetividade leva ao profundo desconhecimento da liberdade, a dependência absoluta vampiriza o outro. A pessoa com total insegurança muitas vezes apresenta dificuldades por simples escolhas, como: roupas, sapatos, corte de cabelos, passeios, viagens e muitas outras decisões. Há diferenças entre dependência absoluta e dependência relativa. 
Somos humanos e dependemos um do outro, certa dependência relativa faz-se necessária nos relacionamentos. Já a absoluta, gera mal-estar. Jô Soares, em seu programa, certa vez disse: “A melhor maneira de ser feliz com alguém é ser feliz sozinho. Daí a companhia será questão de escolha e não de necessidade”. Tornar o seu cônjuge o “ar que respira”, seria uma necessidade. Em sua ausência, faltará o ar que você respira? E você, tem autonomia?
 

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