… midje ta junta povo
Que tud ses diferença
Midje éh pa tud gent
Cachupa k é diferent…
… o milho junta as pessoas
Com todas as suas diferenças
O milho é para todos
A cachupa é que pode ser diferente
Kiki Lima, Midje ma Tambor, (extracto)
Manhã cedo, levantam-se as senhoras donas de suas casas e começam a preparar a cachupa – prato moroso de se fazer, gostoso de se comer. Leva milho seco e feijão e alimenta o povo, todo a gente, independentemente da sua condição econômica ou social, da sua escolaridade ou da sua profissão. Em todas as ilhas e casas de Cabo Verde, come-se cachupa.
Em casa de rico, com abastança e fartura, ao milho, acrescentam-se três ou quatro tipos de feijão (favas, bongolona, manteiga ou castanho), inhame, abóbora, batata-doce, mandioca, banana verde, couve, atum ou cavala, leva ainda chouriço, toucinho e carne de porco. Cachupa rica! Em casa de pobre, menos feijão, menos legumes, menos carnes e mais peixe… à expressão “panela na lume“, juntam-se todos e cada um vai contribuindo para que fique tudo pronto.
Não muito antigamente, as mulheres da casa ainda se levantavam cedinho, com o raiar dos primeiros raios de sol e cochiam o milho, preparando-o para a cozedura. Meninos colhiam os legumes, preparavam-nos e descascavam, cortavam, picavam. Os homens, pescadores ou guardadores de gado, traziam as carnes ou os peixes ou encarregavam-se da sua compra. Cachupa é sinal de comida farta, que dá para alimentar uma família numerosa, fortalece os braços dos que com eles trabalham e a mente dos que pensam e mandam.
Milho é comida democrática em Cabo Verde, resiste às secas e ao gafanhoto e cresce em todas as ilhas, de Santo Antão à Ilha Brava, na mesa do camponês, do pescador, do advogado, do ministro ou do presidente. Servido no boteco da esquina ou no mais requintado restaurante, esta é a face de Cabo Verde.
No dia seguinte, guisa-se a cachupa e come-se com ovos fritos e linguiça, café ou chá de hortelã; em Santo Antão e em Santiago, ilhas fartas de legumes, come-se com fruta pão, abóbora; em São Vicente, São Nicolau e Sal, é acompanhada de uma cavala frita; na Ilha do Fogo, é o complemento ideal para o peculiar café.
«É normal que tenhas curiosidade
E queiras comer pitéu de qualidade
Até provar desta especialidade
Catchupa sab pra comer à vontade
Estas carninhas fazem maravilhas
Vêm temperadas com o sabor lá das ilhas
São sabores que não conhecias
Vais querer comer catchupa todos os dias.»
Boss AC, rapper português