Na minha amada Presidente Prudente, nossa aldeia sagrada, o céu estava com aquele tom plúmbeo que só o tempo de outono sabe desenhar. Parei o carro no Parque do Povo, com a Amora, minha cachorra e eterna parceira de quatro patas, já agitada no banco de trás. Ela tem esse entusiasmo contagiante para qualquer caminhada, mesmo enfrentando um linfoma e seções de quimioterapia. Vai encantando a vida e desencantando a morte. Estamos vencendo né Amora. Ela tem uma paixão pela liberdade que me ensina a cada dia.
Descemos. O chão era um tapete macio de grama verde, fresca da garoa fina que caiu na madrugada que teimava em não ir embora. A Amora, com o focinho rente ao chão, já farejava os mil odores que o parque guarda, cada arbusto uma nova história para sua curiosidade canina. E eu, com meu celular ligado no Spotify, vou me deixando ser encantado pela voz aveludada de Bob Goldsbouro cantando "By the Time I Get to Phoenix". A melodia, suave e melancólica, parecia embalar a própria atmosfera nublada, transformando o caminhar em uma espécie de dança lenta com a natureza.
Cada passo na grama era um convite à introspecção. A cidade, com sua agitação habitual, parecia abafar o volume para me deixar imersor na melodia e na paisagem. Lembrei-me da canção, "Little Green Apples", outra pérola do compositor Bobby Russel que, na voz lendária de O.C. Smith, tornou-se um hit mundial e atemporal. Pensei de como certas canções vencem o inexorável tempo e se entrelaçam na tapeçaria da vida, marcando momentos e sensações. Ali, naquele instante, entre a melodia da voz de Goldsbouro e o cheiro de terra molhada, a simplicidade do momento se impunha como um bálsamo.
A Amora, alheia aos meus devaneios musicais, seguia em sua exploração, com suas orelhas levantadas e a cauda abanando, um lembrete vivo de que a felicidade muitas vezes reside no mais puro e despretensioso presente. Vou escutando Cássia Eller cantando “Por enquanto”: "Mudaram as estações/ nada mudou...” Nada é pra sempre. E eu, por alguns minutos, me permiti ser apenas isso: um homem caminhando com sua cachorra, um parque nublado e uma canção embalando a alma. Passei em frente da charmosa loja da Monalisa, um paraíso do luxo e do glamour, da amiga empresária Dirce Zamora, que tem uma história de vida inspiradora. A canção “Fragile”, de Sting, num dueto com a excepcional cantora e atriz, Barbra Streisand, vai pintando de lirismo essa minha caminhada. Diante de tanta inspiração me deu vontade de cantar. “O mundo é um moinho”, de Cartola, me veio como uma estrela cadente oferecendo seus belos versos. Vamos nessa:
"Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo
O rumo que irás tomar..."