Camisas do Brasil seguem com baixa popularidade no Calçadão

Algumas idas e vindas pelo local trouxeram a percepção que a preferência das pessoas, quando trajam uma camisa de futebol, não é a da seleção 

Esportes - CAIO GERVAZONI

Data 24/09/2022
Horário 09:00
Foto: Caio Gervazoni/O Imparcial
Aposentado Francisco Alves de Novaes, 82, tem preferência por camisas do Corinthians
Aposentado Francisco Alves de Novaes, 82, tem preferência por camisas do Corinthians

A reportagem de O Imparcial esteve, no primeiro dia deste mês, no Calçadão de Presidente Prudente para conversar com populares sobre o lançamento oficial da camisa da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo 2022, ocorrido em agosto.
Algumas idas e vindas por toda extensão da via comercial trouxeram a percepção que a preferência das pessoas, quando trajam uma camisa de futebol, não é a da seleção pentacampeã mundial. Foram vistas camisas de Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, Grêmio Prudente e, pasmem, até o novo modelo da camisa titular da Argentina para a Copa do Catar, com o número 10 de Lionel Messi às costas. No entanto, durante a manhã daquela quinta, nenhuma camisa da Seleção Canarinho foi vista pela reportagem.
Trajado com o manto do Corinthians, o aposentado Francisco Alves de Novaes, 82, relata que curte usar camisas de futebol, geralmente, dadas como presente pelos netos. Quando questionado sobre as novas peças da Nike para a Seleção Brasileira, o aposentado conta que soube do lançamento, porém não irá comprá-las. “Vi o modelo, mas eu não vou comprar. Para quem gosta e tiver condição, compra. As camisas que tenho são todas ganhadas”, afirma. “Sou corintiano desde os 12 anos. Eu uso mais as [camisas] do Corinthians e de vez em quando a da Seleção”, conclui Francisco sobre a preferência pela camisa alvinegra em relação à amarelinha.
Fã de Rogério Ceni, ídolo do São Paulo, e Marcos, ídolo do Palmeira - goleiros pentacampeões com o Brasil em 2002 na Copa da Coreia do Sul e do Japão - a gari Maria do Carmo Santos de Oliveira Bosso, 60, trabalha de segunda à sexta na limpeza pública da Praça Nove de Julho e conta que, no dia a dia, ver alguém trajando a camisa da Seleção é peça rara. “É muito raro ver. Vejo muito pouco. Mesmo com a Copa se aproximando, camisa de time é o que mais se vê: do Corinthians, do Palmeiras, de todos os times se vê, mas a da Seleção ‘tá’ difícil viu”. 
Sentado em um banco do Calçadão e tendo como som de fundo um artista de rua cantando “Metamorfose Ambulante”, de Raul Seixas, o aposentado João Maia, 67, trajado com uma camisa da Argentina, pontua que não alimenta a rivalidade futebolística com “los hermanos” e que aprecia o futebol do craque argentino Lionel Messi, do PSG (Paris Saint Germain). “É só um esporte. Não tem nada a ver. É um povo irmão ao nosso. Vai ser a última Copa do Messi também. Mas não tem como eu colocar a camisa da Argentina na Copa. Se quiser [colocar], tenho que ir lá para a Argentina, né?, inicia seo João, que muda a direção da argumentação tão rapidamente, assim como Messi faz com os pés, ao falar sobre a questão de usar ou não a camisa da “albiceleste”. “Antes da Copa, é tranquilo. Mas até na Copa também é [tranquilo], não? Cada um é cada um, não é porque eu sou brasileiro que eu tenho que usar tudo em verde e amarelo”, discorre o aposentado. 
Questionado sobre a intenção de comprar a nova camisa da Seleção Canarinho, João Maia relata que não estava sabendo do lançamento. Informado sobre o valor de R$ 350 para adquirir uma peça, o aposentado, é sucinto: “Vai ficar na loja, né?”, questiona gargalhando. “Eu vou pagar 350 conto [sic] e não vou comer, não vou beber? É melhor pagar R$ 25 numa segunda linha da Argentina, então né?”, conclui.  

“Tem muita representatividade"

O professor de Geografia, Igor de Souza, é apaixonado pelo esporte bretão e apresenta algumas perspectivas sobre as novas camisas da Seleção: do preço, passando pela estética até à questão política. “É um preço que fica inviável para maior parte dos torcedores, principalmente, de camadas mais populares”, pontua. “Devido à crise econômica que estamos vivendo, a alta de preços em diversos setores, serviços e alimentos, gastar R$ 350 em uma camisa oficial da Seleção Brasileira fica impossível e muito difícil para aqueles que têm pouca ou nenhuma renda”, argumenta Igor, que também é crítico aos preços salgados das camisas oficiais dos clubes populares do país.
Para o professor de Geografia, a Nike acerta ao aliar a representatividade da camisa da Seleção Brasileira à figura da onça-pintada como alerta a questão ambiental. “A ideia da onça na camisa é uma forma também de ter um alerta ao desmatamento, à caça e morte de animais silvestres. É uma forma de estar alertando para os torcedores brasileiros a importância desta preservação”, ilustra.

Caio Gervazoni/ O Imparcial

João Maia diz que não alimenta a rivalidade futebolística com a Argentina e é fã do estilo de jogo de Messi

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