Câncer: não faça parte desta estatística preocupante

Jair Rodrigues Garcia Júnior

Se você soubesse que teria um câncer no futuro tomaria medidas preventivas práticas para evitar essa doença desde já? Um caso famoso foi da atriz Angelina Jolie que realizou mastectomia dupla há 10 anos atrás. No caso dela o risco era elevado. No caso da maioria de nós há um risco latente que não implica num procedimento drástico como da atriz, mas que requer prevenção precoce.

PREVISÃO NADA BOA

Hoje o câncer é a segunda principal causa de mortes no mundo, atrás apenas das doenças cardiovasculares. Recentemente, a brasileira Elisabete Weiderpass, diretora da Agência Internacional para Pesquisas sobre o Câncer (IARC/OMS), disse que a previsão é de aumentar em 56% os casos no mundo até 2040. No Brasil a previsão de aumento é de 70%, chegando a 1 milhão de casos em 2040.

CAUSAS DO AUMENTO

Uma das causas do aumento é óbvia: o aumento da população. A outra causa é o aumento da proporção e do número absoluto de idosos, pois a idade média dos pacientes é de 66 anos. Porém, os casos de câncer precoce (<50 anos) também estão aumentando, sendo as causas mais prováveis os péssimos hábitos alimentares e a obesidade, além de fatores mais conhecidos como tabaco e álcool.

FATORES DE RISCO

Nada menos do que 40% dos casos de câncer poderiam (e poderão) ser evitados com medidas preventivas de ampla aplicabilidade. Eliminar o tabagismo corresponde a cerca de 20% dessa diminuição. Eliminar ou diminuir drasticamente o consumo de álcool pode diminuir em 8% os casos. Além desses dois, a radiação solar, o consumo de embutidos, exposição ao benzeno (tintas, agrotóxicos etc), asbestos (amianto da construção civil), radiação ionizante (tomografia, ressonância, radiografia etc) e poluição atmosférica estão no grupo 1, o pior.

TRATAMENTO PARA TODOS?

Há tratamentos eficientes (radioterapia, quimioterapia e cirurgia) e, em muitos casos o prognóstico é de cura. Porém, os exames para detecção precoce e o tratamento imediato ao diagnóstico não estão ao alcance de todos. Tratamentos avançados como a imunoterapia (CAR-T e anticorpos monoclonais) custam US$ 500 mil e são acessíveis a poucas pessoas. Em razão da desigualdade social e limitações dos sistemas de saúde, grande número dos futuros pacientes de câncer provavelmente não receberá o tratamento adequado. A analogia que a diretora do IARC utiliza é de um “tsunami de pacientes” que desabará nos consultórios e hospitais.

AUTOGESTÃO DA SAÚDE

De acordo com a diretora do IARC, a solução viável para minimizar o impacto desse “tsunami” previsto de novos paciente de câncer é a prevenção primária e secundária, o que depende muito do poder público em conscientizar a população e do indivíduo em usar as informações de forma prática (autogestão). As medidas preventivas nem sempre são facilmente incorporadas à rotina diária, pois requerem renuncias de alguns comportamentos, “prazeres da vida”, que são culturalmente arraigados. Providências urgentes: ficar longe do tabaco e álcool, aumentar o consumo de vegetais e evitar ultraprocessados e gordura animal, praticar exercícios, manter o peso corporal adequado, evitar exposição excessiva ao sol, radiação, agrotóxico, vapor de combustível e poluição. Para as mulheres, autoexame das mamas e para todos, consultas e exames anuais e quando sentir ou perceber algo estranho.

A solução viável para minimizar o impacto desse “tsunami” previsto de novos paciente de câncer é a prevenção primária e secundária.

 

 

 

 

Referências

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