Carta ao engenheiro Teodoro Sampaio

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 27/11/2022
Horário 04:30

Prezado Senhor

Há muito tempo gostaria de escrever a presente carta. Eu tomo a liberdade de dirigir-me a Vossa Senhoria para dividir algumas experiências que, de certa forma, nos aproximam. Especialmente pelos caminhos do Paranapanema. 
A minha vida profissional também sempre foi marcada por muitas viagens pelo interior do Brasil. E nos últimos tempos as viagens ficaram ainda mais constantes. Agora estou me preparando para uma longa jornada de retorno para Presidente Prudente desde o aeroporto de Dusseldorf (Alemanha). Distância acima de 10 mil quilômetros. Conexões em Heathrow (Londres) e Guarulhos. Filas de espera sem muito distanciamento social. Uma noite mal dormida e quase 24 horas de deslocamento!
Daí eu me lembrei dos seus maravilhosos cadernos de viagem. Veio na minha mente algumas passagens que tive a oportunidade de ler a respeito daquela sua viagem pelo Paranapanema em 1886, seja seguindo os cursos dos rios ou pela única estrada que ligava esses sertões com os centros populosos do vale do Tietê. Encontro em seus relatos que para avançar por dentro das matas até o Rio do Peixe eram necessários oito dias para percorrer 160 quilômetros!
Claro que somos cidadãos de tempos diferentes. Dos tempos rápidos e dos tempos lentos. Mas como nos ensina o professor Milton Santos, são aqueles que percorrem o mundo a pé que podem ver de perto as coisas acontecendo. Incrível aquela sua carta cartográfica com a base geodésica em Sorocaba!
Sei também que na sua época as únicas profissões universitárias que existiam no país eram as dos médicos, advogados e engenheiros. E a sua geração tinha que ser polivalente porque viu nascer um Estado Moderno, mas carente de profissionais aptos. Talvez seja por isso que além de engenheiro de profissão o senhor tenha atuado também como geógrafo, urbanista, historiador, cartógrafo, etnógrafo e gravurista. Mas eu também me interesso por tudo: das plantas aos animais, das línguas e costumes indígenas, dos mapas e documentos históricos, das ciências naturais, da sociologia e ciência política...
Me solidarizo com a sua luta para vencer o preconceito racial. Admiro esse filho de uma mulher negra escravizada na Bahia que fez de tudo para tirar seus irmãos mais velhos lá do cativeiro. E tornou-se um dos mais importantes representantes dos negros na vida pública brasileira (a vida dos negros por aqui ainda não é fácil!). Algum dia ainda quero saber como foi a sua amizade com Euclides da Cunha e a sua influência nas descrições das paisagens do sertão baiano. 
Saudações
Um geógrafo dos tempos rápidos
 

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