O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou os dados do Censo Demográfico de 2022 relacionados à religiosidade da população brasileira. Em Presidente Prudente, o levantamento confirma uma tendência que já vinha sendo observada desde o Censo 2010: a redução no número de pessoas que se declaram católicas e o avanço das religiões evangélicas. Ainda assim, os católicos permanecem como maioria no município.
Em 2010, conforme os registros daquele ano, os católicos apostólicos romanos representavam 64,31% da população prudentina. Em 2022, esse índice caiu para 60,54%, uma queda de quase quatro pontos percentuais. Na contramão, os evangélicos cresceram em número e participação: passaram de 26,69% em 2010 para 28,68% em 2022
Conforme os números absolutos do Censo 2022, 121.298 prudentinos (60,54%) se identificam como católicos apostólicos romanos, enquanto 57.467 pessoas (28,68%) se declaram evangélicas. A terceira maior faixa corresponde aos que dizem não seguir nenhuma religião, totalizando 9.928 habitantes (4,95%). Também há representatividade de espíritas (2.948), adeptos de umbanda e candomblé (1.073), seguidores de outras religiosidades (7.337), tradições indígenas (30 pessoas) e 289 que não souberam ou preferiram não declarar.
O Censo 2022 também apontou diferenças na distribuição religiosa a partir da cor ou raça. Entre pessoas pretas, a presença da umbanda e candomblé (3,84%) e das evangélicas (33,64%) é maior proporcionalmente que entre brancos, grupo em que 63,52% se dizem católicos. Já os indígenas prudentinos se dividem majoritariamente entre evangélicos (50,04%) e católicos (35,04%).
No recorte por sexo, mulheres representam a maioria entre católicos e evangélicos. Já quando o critério é a alfabetização, os maiores índices aparecem entre os sem religião (98,42%), seguidos por católicos (97,61%) e evangélicos (97,36%).
Para o sociólogo Marcos Lupércio Ramos, os números de Prudente acompanham de forma bastante próxima a média nacional. “As diferenças entre os dados locais e os nacionais são pouco relevantes para apontar tendências exclusivas do município”, afirma.
Segundo ele, a queda do catolicismo e o crescimento evangélico já estavam previstos desde o Censo de 2010. Contudo, esse avanço se deu de forma mais lenta que o esperado, diferentemente do ritmo que se projetava para 2020. “Se a projeção de 2010 tivesse se confirmado, os evangélicos já seriam cerca de um terço da população brasileira. Isso ainda não se consolidou, mas Prudente chegou mais perto disso que a média nacional”. No Brasil, entre 2010 e 2022, o número de evangélicos saltou de 21,6% para 26,9%, conforme o IBGE.
O sociólogo aponta que esse crescimento, ainda que real, pode estar desacelerando. Por outro lado, há fatores que frearam o encolhimento católico, como a figura do falecido Papa Francisco, “que trouxe um ar de modernidade e conectividade com os fiéis”. Caso o novo pontífice, Leão XIV, mantenha esse perfil, Marcos acredita que a queda na base católica pode se estabilizar ainda mais.
“Mas a mesma premissa pode ser verdadeira para aumento no número de fiéis evangélicos, isto é, o dinamismo das igrejas evangélicas e sua maior proximidade nas redes sociais podem também acelerar o crescimento desse segmento ou, pelo menos, manter a tendência atual. Cabe ressaltar que o segmento dos evangélicos é mais atuante politicamente, tanto em termos partidários quanto em termos de representatividade na Câmara de Deputados, câmaras municipais, assembleias estaduais e Senado”, complementa o sociólogo.
Outro ponto de atenção, segundo ele, é a politização das igrejas evangélicas. “Esse segmento é mais atuante politicamente, o que gera discussões importantes sobre o papel da religião em um Estado que, constitucionalmente, é laico”. O especialista alerta para os riscos de se formar uma nova polaridade no país, agora entre poder político e poder religioso, além da já conhecida divisão entre esquerda e direita.
“Essa ‘tendência’ maior do segmento evangélico para posicionamentos políticos partidários deve sofrer análises mais apuradas, pois envolve a questão de um estado laico, premissa maior de nossa Constituição. Se aparentemente pode contribuir para o crescimento do próprio segmento evangélico em números populacionais, pode também representar a quebra de uma divisão bíblica: ‘Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus’ [Mt 22,21], e de nossa Constituição. Essa é a discussão mais premente que deveria ser feita e que afeta mais diretamente a população brasileira como um todo. Em um futuro próximo, essa discussão terá que ser feita, considerando que poderá se criar no país uma nova polaridade”, pontua.
COMPARATIVO ENTRE OS CENSOS 2010 E 2022 EM PRUDENTE
Religião |
Censo 2010 (%) |
Censo 2022 (%) |
Variação (%) |
Católicos apostólicos romanos |
64,31 |
60,54 |
↓ -3,77 |
Evangélicos |
26,69 |
28,68 |
↑ +1,99 |
Sem religião |
4,24 |
4,95 |
↑ +0,71 |
Espíritas |
1,11 |
1,47 |
↑ +0,36 |
Umbanda e candomblé |
0,08 |
0,54 |
↑ +0,46 |
Outras religiosidades |
— |
3,66 |
— |
Tradições indígenas |
— |
0,01 |
— |
Não sabem/sem declaração |
— |
0,14 |
— |
DISTRIBUIÇÃO RELIGIOSA POR RAÇA/COR EM PRUDENTE
Cor/raça |
Católicos (%) |
Evangélicos (%) |
Umbanda/candomblé (%) |
Branca |
63,52 |
25,66 |
0,55 |
Preta |
51,38 |
33,64 |
3,84 |
Amarela |
64,82 |
17,33 |
1,04 |
Parda |
56,03 |
33,85 |
0,42 |
Indígena |
35,04 |
50,04 |
0,00 |
ALFABETIZAÇÃO POR PERFIL RELIGIOSO EM PRUDENTE
Religião |
Percentual de alfabetizados (%) |
Sem religião |
98,42% |
Católica apostólica romana |
97,61% |
Evangélicas |
97,36% |
Fonte: IBGE