Conseg cobra esclarecimentos sobre obras em praça

REGIÃO - Rogério Lopes

Data 29/01/2015
Horário 08:56
 

O Conseg (Conselho Comunitário de Segurança), de Presidente Bernardes, encaminhou à Promotoria de Justiça do município, o Ofício 01/2015, solicitando esclarecimentos da prefeitura sobre uma obra realizada na Praça Trojano da Silva Pontes – antiga Praça da Bandeira. De acordo com o presidente do conselho, José Perícolo, a iniciativa visa obter informações quanto às questões de segurança, no decorrer das obras, no contexto ambiental, já que a praça é repleta de árvores centenárias e também no âmbito histórico, pois, segundo Perícolo, a ação está "desfigurando e descaracterizando" o local.

Jornal O Imparcial Obras na Praça Trojano da Silva Pontes, em Presidente Bernardes, ocorrem há um ano

O presidente do conselho pontua ainda que o ofício se deu depois que vários munícipes procuraram o Conseg "indignados" com a reforma. Após isto, os membros do Conseg se reuniram e resolveram elaborar o documento e o encaminhar para a Promotoria. Por sua vez, o prefeito Júlio Omar Rodrigues (PMDB) esclarece que todo trabalho desenvolvido na obra – que há um ano é executado e deve terminar em outubro deste ano – é realizado de acordo com um projeto, que foi "bem pensado e desenvolvido", visando um espaço amplo e de qualidade para a população, e que tal projeto está à disposição a quem quiser conferi-lo, no Paço Municipal.

Segundo o promotor de Justiça, Washington Gonçalves Vilela Júnior, que é da comarca de Presidente Venceslau, e, no momento, reponde por Presidente Bernardes devido ao período de férias do promotor titular Hélio Perdomo Júnior, o documento será analisado pelo representante titular do órgão, após o seu retorno, fato que ocorre no início de fevereiro.

O prefeito acredita que, após a conclusão, a sociedade bernardense vai aprovar e aproveitar "muito" o espaço, que foi planejado com o intuito de proporcionar lazer, diversão, atividade física e um ponto de encontro sadio para os moradores. "Pensei, principalmente, em montar uma estrutura que dê opção de diversão aos jovens, para que não precisem ir para outras cidades, pegar a rodovia e correr riscos de acidentes, devido ao consumo de bebida alcoólica, ou alguma outra fatalidade", esclarece.

Já o presidente do conselho diz que, no momento, "é difícil encontrar quem apoie a reforma", devido às mudanças que serão executadas. "Queremos manter o aspecto histórico da praça", cita.

Entre os esclarecimentos contidos no ofício estão: a origem dos recursos aplicados na praça, qual o projeto que seguem, se o local vai oferecer segurança para os frequentadores, se existe risco de desmoronamento, já que estão colocando "muita" terra no terreno – esta é uma das principais preocupações dos moradores, de acordo com Perícolo, pois muitas árvores estão sendo "soterradas" e podem morrer devido ao apodrecimento da raiz –, entre outros questionamentos.

 

Estrutura


Rodrigues esclarece que a reforma da praça é um bem para a população. De acordo com ele, será empregado investimento superior a R$ 1 milhão para a conclusão dos trabalhos, sendo R$ 300 mil de recursos do governo estadual e outros R$ 800 mil de recursos próprios. Porém, o prefeito pontua que isto é o cálculo do projeto, mas pode ser que "nem alcance toda esta quantia".

Entre as construções, o prefeito informa as seguintes estruturas que a praça, denominada "Ponto de Encontro", vai conter: palco para shows de música, apresentação de peças de teatros, entre outros eventos, camarim, um banheiro feminino com 15 boxes, outro masculino com seis boxes, estacionamento para, aproximadamente, 300 carros, uma pista de mil metros para caminhada, revitalização, com novos aparelhos para a ATI (academia da terceira idade), que já existe na praça, reestruturação do parquinho das crianças – que foi retirado de onde estava instalado, devido às obras, e colocado na parte superior da praça, entre outros.

Sobre as árvores – onde muitas estão com terra, que foram depositadas para aterrar o terreno, até o tronco – o prefeito informa que não "correm o risco de morrer", pois, após o aterro, o terreno será concretado, evitando o acúmulo de água da chuva no tronco das árvores e possível apodrecimento. "Temos cerca de 100 árvores na praça. No máximo dez foram cortadas, pois estavam condenadas. Toda a ação é acompanhada pela Secretaria do Meio Ambiente, levando em conta as leis ambientais", acrescenta.

 

Opinião


A construção é acompanhada e discutida pelos moradores que divergem sobre as obras na Praça Trojano da Silva Pontes. Para o aposentado Marco Bernal, 74, "vai ter que esperar o fim dos trabalhos para ver como ficará o espaço". Ele diz que muitas pessoas são contra e que outras são a favor da reforma, fato que causa discussão na cidade, desde o início dos trabalhos. "No momento não dá para falar muita coisa, pois não sabemos como vai ficar", expõe.

A autônoma Lucimara Costa Curta, 43, afirma que a principal preocupação dos moradores é com as árvores centenárias que existem na praça, que estão sendo "soterradas" com a terra vermelha que é jogada no local. "Todos estão dizendo que as árvores vão morrer e isso não pode acontecer. Temos que preservar a natureza", salienta.

Para o auxiliar de enfermagem Éden de Menezes Silva, 37, o dinheiro empregado nas construções da praça deveria ser investido em outras obras na cidade. "É muito dinheiro disponibilizado de forma errada", atenta. Pontua ainda que o local sempre foi bonito e estava bom do jeito que era. "As crianças brincavam aqui. Agora, com estes trabalhos e com o aterro, mudaram a paisagem que existia", considera.

 

Infância


"O contexto histórico da cidade e da nossa infância está sendo alterado", frisa alguns dos entrevistados. O psicólogo Kenneth Toyohico Mizusaki, 33, diz que cresceu brincando na praça e que o local pode ser considerado "um patrimônio histórico de Bernardes". Diz que foi uma "surpresa" para a população o aterro feito e que as mudanças devem ser bem estudadas, levando em conta as questões ambientais. "Uma árvore leva anos para chegar ao ponto que estas estão. Não se pode derrubar ou fazer alguma ação que façam com que elas morram", alerta.

Este "resgate à infância" também foi compartilhado, durante a entrevista, pela estudante e balconista Nívea Marini Guilhen, 24. "O jardim lembra o meu tempo de criança, as brincadeiras que eu e meus amigos fazíamos no lugar e os bons tempos de quando éramos pequenos", frisa. Ela acredita que, ao invés de plantar mais árvores, estão tirando as existentes no local. "Temos que pensar no futuro, desenvolver projetos de revitalização do meio ambiente, pois nós precisamos dele para sobreviver", finaliza.
Publicidade

Veja também