Conselho Municipal de Saúde constata excesso de pacientes na UPA do Ana Jacinta

Órgão fez duas vistorias na unidade, hoje e ontem, após receber inúmeras denúncias de horas de espera de pacientes, falta de insumos e pessoas indo a óbito por falta de suporte

PRUDENTE - DA REDAÇÃO

Data 07/07/2022
Horário 20:28
Foto: Oslaine Silva
Denúncias fizeram Conselho Municipal de Saúde fiscalizar a UPA do Ana Jacinta
Denúncias fizeram Conselho Municipal de Saúde fiscalizar a UPA do Ana Jacinta

Após dezenas e mais dezenas de denúncias de irregularidades, o Conselho Municipal de Saúde de Presidente Prudente realizou vistoria, hoje e ontem, na UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) do Conjunto Habitacional Ana Jacinta, onde as reclamações foram constatadas, desde excesso de pessoas à espera de atendimento por horas, pacientes internados, além da falta de insumos básicos, como soro fisiológico, algodão, esparadrapo, e escassez de funcionários. 
“Precisei de atendimento na UPA, porque há cinco dias estava com diarreia, vômito, dor abdominal e de cabeça. Tive sorte, porque cheguei às 16h e fui atendido às 21h30. Tinha gente lá que chegou meio-dia e ainda não havia sido atendida. Pedi um soro para a médica e ela lamentando disse que infelizmente estava em falta de jelco [cateter intravenoso]. Aonde já se viu isso?”, expõe um paciente que preferiu não se identificar. 
Segundo o presidente do conselho, Valdinei Vanderley da Silva, infelizmente, pessoas, inclusive, de grave complexidade e que necessitam de determinada especialidade, estão sendo acolhidas na unidade, mas o local não tem suporte para isso. Não tem centro cirúrgico, uma série de ferramentas que um hospital possui.
“Morreu mais uma pessoa, hoje. E vai morrer mais gente se o Estado não tomar uma providência. Porque UPA não foi feita para internações e sim para o paciente chegar, ser atendido e ir embora”, pontua Valdinei.

“Mantém diálogo"

A Secretaria de Estado da Saúde expõe que “mantém diálogo” com gestores de saúde de todas as regiões, inclusive de Presidente Prudente, além de apoiar no fortalecimento e ampliação da assistência necessária à população. “Vale lembrar que, com a chegada do outono, o aumento dos sintomas gripais acarreta em doenças sazonais”. 
Ainda segundo a pasta, a Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde é um serviço intermediário, que monitora pacientes de todos os 645 municípios, com a finalidade de auxiliar na transferência entre os serviços de origem e de referência. “O papel da Cross, que funciona 24 horas por dia, não é criar leitos, mas auxiliar na identificação de uma vaga no hospital mais próximo e apto a cuidar do caso”.
“A transferência de um paciente não depende exclusivamente de disponibilidade de vagas, mas também de quadro clínico estável - livre de infecções, que permita o deslocamento a outro serviço de saúde para sua própria segurança”. “Vale ressaltar que é responsabilidade do serviço de origem manter o paciente assistido e estável previamente e providenciar transporte adequado para deslocamento seguro”. O Estado acrescenta que a demanda de transferências é descentralizada na rede, uma vez que há regulações municipais ou regionais, com os respectivos serviços de referência para sua área de abrangência. 

“Uma providência precisa ser tomada"

De acordo com Valdinei, é muita gente aguardando o Sistema Cross (Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde). Na quarta-feira tinha 22 pessoas em observação e 22 esperando transferência. “Agora, eu pergunto, os hospitais estão sempre lotados a ponto de pacientes esperarem dias por uma vaga? Eu não acredito, até porque não fiscalizo hospitais. Somos um órgão municipal. Quando o município erra, vamos atrás do prefeito e cobramos. Agora nesse caso, compete ao Estado essa averiguação”, acentua o presidente do conselho.
Valdinei enfatiza que não é de hoje que problemas dessa natureza ocorrem. “Tenho 14 anos de conselho e o Estado sempre foi omisso nas suas responsabilidades. O Estado fechou o pronto-socorro do HR [Hospital Regional Doutor Domingos Leonardo Cerávolo] e as UPAs ficam como? Com pronto-socorro, hospital, urgência e emergência. Isso é um absurdo”, frisa.
O presidente menciona que estão estudando a melhor maneira de buscar soluções para este problema. “Vamos tentar marcar uma audiência pública, ou uma ‘conversa’ com o Ministério Público para ver se o Estado se posiciona favoravelmente às pessoas que estão ficando ainda mais doentes, morrendo... Porque apenas o Estado pode resolver isso. É duro se sentir de mãos atadas. Uma providência precisa ser tomada”, acrescenta.

“UPA é porta aberta"

O Ciop (Consórcio Intermunicipal do Oeste Paulista) confirma, por meio de nota de sua Assessoria de Imprensa, que a demora em liberar leitos nos hospitais da cidade e região pelo Cross é o que vem causando o abarrotamento de pacientes nas UPAs. Se não é convênio, vai tudo para a UPA, seja de Prudente ou da região toda. A demanda é muito grande.
“Toda regulação de vagas é feita pelo Governo do Estado. Hoje [ontem] a unidade do Ana Jacinta conta com oito pacientes internados, enquanto a UPA do Jardim Guanabara possui 15 casos de internação”, diz a nota, com uma complementação da assessoria de que a UPA é porta aberta, atende todo mundo. Covid, dengue, acidente, parto, infarto, queimadura, fratura, crianças, adolescentes, jovens, idosos, enfim se é ser humano vai ser atendido. “E se o paciente entra e tem a necessidade de ficar internado, a UPA acolhe e envia seu cadastro para o Sistema Cross distribuir a vaga para um hospital”.
Segundo o consórcio, os sintomas gripais, Covid-19 e dengue têm deixado o fluxo de pacientes elevado nos últimos dias, o que pode acarretar, em alguns momentos, maior tempo no atendimento. “O Ciop e a Prefeitura de Prudente buscam incessantemente alternativas para minimizar os efeitos decorrentes desta demora na abertura de leitos de internação. Verificaremos junto à Secretaria de Saúde de Prudente sobre os levantamentos feitos pelo Conselho Municipal de Saúde e posicionaremos, por meio da imprensa, assim que tivermos um desfecho para o caso”, garante o consórcio.

“Acompanha de perto"

Por meio da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), a Prefeitura de Presidente Prudente informa que o gerenciamento das UPAs compete ao Ciop, no entanto, busca articular junto ao Estado para garantir mais agilidade na transferência de pacientes a hospitais por meio do Sistema Cross. 
A pasta de Saúde municipal acompanha de perto o cenário atual das UPAs e busca, dentro de suas condições, incrementar a estrutura de atendimento do local. Há algumas semanas, entregou um equipamento de raio-X portátil e reformou a sala, com investimento na casa de R$ 500 mil. A Prefeitura ainda informa que todos os insumos necessários para o dia a dia da unidade estão sendo fornecidos pelo município.

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