Não só de pão vive o homem
Mas de toda a palavra que procede da boca de Deus.
Mateus 4.4
Acho significativo que, desde a reforma protestante do século XVI, exista na piedade e imaginário coletivo de uma parte considerável da cristandade em todo o mundo, um lugar de destaque à revelação de Deus na experiência humana.
A força dessa epifania se expressa em meio à vida e acontece ao longo da história, quando em sua plenitude: Deus envia seu Filho, Jesus o Cristo, nascido de mulher.
A identificação no movimento histórico evangélico/protestante com a palavra divina é tão intensa que os crentes de tempos atrás eram chamados pejorativamente de Bíblias: o livro era carregado junto ao corpo com o hinário (cânticos cristãos). Contudo, os testemunhos bíblicos sempre apontaram para Jesus - a Palavra que se tornou carne e habitou entre nós - verdade e revelação divina.
Obedecer à Palavra, então, na linguagem do protestantismo histórico, significa servir a Jesus Cristo que auxilia o homem e a mulher na interpretação das escrituras sagradas para a experiência e redenção da vida.
Sagradas não são as letras da Bíblia (a letra mata, mas o Espírito dá a vida) que, manipuladas, por maldade ou ignorância, podem servir à intolerância e ao fundamentalismo religioso desumano e cruel.
Sagrado é o filho de Deus – Palavra encarnada - que ilumina o ser humano no significado das letras para o cumprimento do amor a Deus, ao próximo e à natureza que Ele criou.
Além do compromisso de vida com Jesus, historicamente o protestantismo suscitou em seus fiéis o carinho e o apego à palavra bíblica, como forma de orientação e sentido à vida.
Busca-se, então, nas igrejas protestantes históricas não apenas a verdade de Cristo, mas também a riqueza da sua linguagem expressa nos sabores e saberes de suas histórias, metáforas, parábolas... Alimentar, degustar, saborear palavras que fazem bem ao corpo a ponto de senti-las doces como o mel e o destilar dos favos.
Linguagem bíblica composta de poesias, prosas, crônicas e narrativas tornam-se alimentos saborosos, servidos para saciar a fome de verdade e de beleza (não só de pão vive o homem). Temperadas de letras e testemunhos humanos que, inspirados por Deus, viveram as agonias e as alegrias da vida.
Não é comida preparada na esteira da linha de produção. Mas, refeição feita na hora e que se come devagarinho e de preferência em comunhão à mesa.
Tem cheiro bom, receita de qualidade, testada e aprovada pelo mestre dos mestres e Palavra que salva: Jesus Cristo.
Mas, se não é possível viver apenas de pão, também é verdade que sem pão o ser humano não pode existir concretamente.
Assim, Jesus ensinou a orar: Pai nosso e Pão nosso!
Portanto, na verticalidade da fé o fiel encontra a gratuidade de Deus e, na concreta e árdua horizontalidade da existência/vida, ele é chamado a atender o próximo, sobretudo, o necessitado que precisa de carinho, respeito e amor em suas necessidades.
Palavra e pão a todos os que sofrem nessa pandemia!