Reforçando o papel da ciência prudentina na produção de conhecimento de alto impacto ambiental e global, um estudo liderado pela pesquisadora de pós-doutorado vinculada à FCT/Unesp (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista) de Presidente Prudente, Fernanda Avelar Santos, e pelo chefe de gabinete da Prefeitura de Tarabai e aluno do curso de Física da mesma instituição, Matheus Brito da Silva, foi publicado na revista Marine Pollution Bulletin, pela Elsevier, em nome da OMI (Organização Marítima Internacional).
Com forte presença editorial e de autores do Reino Unido, China e EUA, o periódico é uma das principais fontes de pesquisa sobre poluição marinha, ciências ambientais e biologia, com foco internacional. “Recebo essa publicação com muita responsabilidade. Ela mostra que, em Presidente Prudente, na FCT/Unesp, no Departamento de Física, há ciência séria sendo produzida, com rigor, compromisso e protagonismo feminino”, comenta Matheus.
“Mais do que um resultado acadêmico, o estudo traz um alerta necessário: as ações humanas já estão deixando marcas profundas nos ambientes mais remotos do planeta”, frisa sobre o trabalho que contou com financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

Foto: Cedida - Matheus e pesquisadora Fernanda Avelar Santos
Os pesquisadores brasileiros identificaram, na Ilha de Trindade, no Atlântico Sul, um fenômeno preocupante: o plástico descartado no mar está se transformando em algo muito parecido com rocha e já está se incorporando aos processos naturais da Terra. Ele explica que o local, onde Fernanda fez as coletas, é um ecossistema marinho de enorme riqueza e potencial biotecnológico. “Os dados reforçam a urgência de repensarmos nossas práticas e assumirmos, como sociedade, o dever de preservar esses ambientes”, prossegue.
As amostras do estudo vieram da Ilha da Trindade, a mais de mil quilômetros do litoral brasileiro, um dos locais mais importantes do país para a desova de tartarugas-verdes. Ali, ao longo de cinco anos de monitoramento, os cientistas observaram a formação, o desgaste, o transporte e o soterramento de estruturas chamadas de “rochas antropogênicas”, materiais sólidos formados a partir de plástico derretido, principalmente de cordas marítimas, que se misturam ao ambiente natural.
Matheus pontua que essas “pedras de plástico” surgem possivelmente quando resíduos plásticos sofrem aquecimento intenso, como em queimadas ou fogueiras, derretem e depois se solidificam. Com o tempo, a ação das ondas, do vento e da areia faz com que essas estruturas se quebrem em fragmentos menores, chamados de plasticlastos, que se espalham pelas praias.
“O mais alarmante é que esses fragmentos não ficam apenas na superfície. O estudo mostrou que ninhos de tartarugas-verdes funcionam como verdadeiras armadilhas naturais, acumulando e enterrando esses pedaços de plástico até cerca de 10 centímetros de profundidade. Isso significa que o plástico não só polui, mas passa a fazer parte do registro geológico, podendo permanecer ali por centenas ou milhares de anos”, ressalta o aluno da Unesp.
“Além disso, à medida que essas ‘pedras’ se desgastam, elas liberam microplásticos e microfibras, formas ainda mais perigosas de poluição, quase invisíveis a olho nu, mas altamente persistentes no ambiente. Ou seja, o plástico continua se fragmentando, mas nunca desaparece”, complementa.

Foto: Cedida - Mapa de localização da Ilha de Trindade, onde foram coletadas as amostras da pesquisa
Conforme Matheus, as análises químicas revelaram que esses materiais são compostos principalmente por polietileno de alta densidade, um tipo de plástico muito usado em atividades marítimas, reforçando a relação direta entre o lixo gerado por atividades humanas e a degradação de ecossistemas mesmo em locais considerados preservados.
“O estudo traz uma conclusão interessante: os seres humanos já estão atuando como agentes geológicos, alterando não apenas a paisagem, mas os próprios processos naturais do planeta. O plástico deixou de ser apenas lixo, ele já está se transformando em parte da ‘história geológica’ da Terra”, esclarece.
“Esses resultados reforçam a urgência de políticas públicas voltadas ao controle dos resíduos plásticos produzidos em centros urbanos, especialmente de materiais usados na navegação, e da necessidade de ações de limpeza e conservação em áreas ambientalmente sensíveis. A Ilha da Trindade é um símbolo: se até um lugar tão isolado sofre com esse problema, nenhum ambiente do planeta está realmente protegido”, finaliza.

Foto: Cedida - Segundo Matheus, estudo conclui que seres humanos alteram processos naturais do planeta

Foto: Cedida - Pesquisa analisa transformação do plástico descartado no mar

Foto: Cedida - Imagem microscópica de fragmentos de cordas de rede de pesca, que liberam microplásticos e microfibras